Votação em São Paulo durante a pandemia (Amanda Perobelli/Reuters)
Bibiana Guaraldi
Publicado em 29 de novembro de 2020 às 19h09.
Eleições municipais precisam sempre ser vistas, antes de tudo, pelo ângulo local. Dito isso, é razoável tentar fazer a leitura do que elas podem antecipar sobre os caminhos da eleição geral, daqui a dois anos. Uma análise possível de ser feita a partir das situações em que os campos estiveram mais claramente expostos ao eleitorado. E as urnas do segundo turno de 2020 deixaram claro que cada um dos grandes blocos tem seu caminho para triunfar em 2022.
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, mostraram bem o potencial de candidatos ditos centristas que procuraram se descolar da direita mais explícita. No Rio com mais facilidade, por o postulante do Democratas carregar um histórico de alianças com a esquerda. Mas mesmo em São Paulo isso funcionou em algum grau. A disputa ajudou a passar momentaneamente uma borracha na memória do “BolsoDoria”.
As duas megalópoles mostraram também que, mesmo nos centros nevrálgicos do bolsonarismo de dois anos atrás, a esquerda e o centrismo dito de esquerda voltaram a mostrar competitividade. Mais em São Paulo, onde a convergência se acelerou ainda no primeiro turno. Mas também no Rio, onde a soma dos resultados das candidaturas do PT, PSOL e PDT tinha claro potencial de passagem à decisão.
O cirismo tem seus bons trunfos para uma eventual mesa rumo à sucessão presidencial. Montou candidaturas competitivas em São Paulo e Rio, que não chegaram ao segundo turno mas exibiram massa crítica, e provou-se capaz de agregar com alguma naturalidade a frente progressista em Fortaleza. E operou uma aliança sólida no centro nevrálgico do PSB, em Pernambuco. Isso certamente será levado em conta lá na frente.
O Democratas já tinha ido bem no primeiro turno, assim como os partidos do chamado centrão, que cresceram no plano municipal num grau que permite antecipar a força deles na próxima legislatura na Câmara dos Deputados. Serão parceiros cobiçados na corrida de 2022, ainda que dinheiro e tempo de televisão não sejam mais tão decisivos quanto eram antes de 2018. Mas sempre têm sua importância. E musculatura política nunca é demais.
Na esquerda, a ida de numerosos candidatos aos segundos turnos e a competitividade em cidades tão diferentes como Porto Alegre, São Paulo, Vitória, Recife e Belém mostrou que o jogo está aberto para as forças ditas progressistas para um protagonismo próprio em 2022. A novidade é que o PT vai precisar negociar, pois seu direito de indicar o candidato não é mais automático, longe disso.
Sem um acordo prévio, é real a possibilidade de a esquerda ficar fora do segundo turno.
Pois nunca se deve esquecer que o bolsonarismo mostrou nas eleições estar bem vivo. Teve dificuldades nos segundos turnos, mas colocou candidatos competitivos em vários lugares e o presidente mantém seu um terço de bom e ótimo e cerca de 40% de aprovação. E isso o coloca, se mantidos os índices, com um pé e meio no segundo turno daqui a dois anos. E ele ainda tem a possibilidade real de aliar-se com os partidos do dito centrão.
Por isso, por enquanto, a disputa que existe é para saber quem vai ser o adversário dele.
* Analista político da FSB Comunicação
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