O melhor emprego do Brasil: liderança perpétua
Com milhões de desempregados, os poderosos do Brasil engendraram em nossa realidade uma pequena casta que garante seus empregos por longos anos
Bússola
Publicado em 17 de fevereiro de 2022 às 21h03.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2022 às 21h25.
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
Por Márcio de Freitas*
Com milhões de desempregados, os poderosos do Brasil engendraram em nossa realidade uma pequena casta que garante seus empregos por longos anos. Com direito a passagens aéreas, hotéis cinco estrelas, jantares em restaurantes caros, muito privilégio e mordomia, pouca cobrança e nenhuma meritocracia. Aliás, a grande maioria não tem bons resultados para apresentar e suas contas estão cheias de ressalvas no Tribunal Superior Eleitoral, outros enfrentam alguns problemas com a Receita Federal.
São os presidentes de partidos políticos brasileiros. Não todos, mas a boa maioria se perpetua nos cargos indefinidamente. Nestes, a democracia existe da porta para fora. Vale para eleições populares, mas não entra nem uma molécula de oxigênio para dar respiro à alternância no poder interno. Há quem esteja há mais de 30 anos mandando na legenda, mesmo que ela tenha mudado de nome várias vezes. O cidadão supremo permanece o mesmo desde o século passado.
Alguns conseguem o êxito de colocar familiares para trabalhar nas proximidades, pois não há regra do nepotismo. É filho, esposa, primo, tio. A grande família entra diretamente ou por contratos com assessorias jurídicas, prestação de serviços diversos, consultorias quase sempre afetivas. Laços íntimos que garantem a perenidade genética na luta pelo poder.
Luta que ainda mantém algumas legendas em evidência, mais pela autofagia e pelos embates internos, com puxões de tapetes e dedos nos olhos do que por programas de governo para o país. Penas voam em épocas eleitorais durante as disputas pelas candidaturas mais cobiçadas, aquelas que geram gastos de milhões ao fundo partidário e ao fundo eleitoral. Sim, há dois… E ambos bilionários.
O custo anual do contribuinte para financiar essa máquina soma os R$ 4,9 bilhões do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas, que é diferente do Fundo Partidário, pelo qual as principais siglas nacionais receberam quase R$ 1 bilhão em 2021. Esse dinheiro é distribuído seguindo o percentual de deputados federais que cada legenda tem na Câmara dos Deputados.
Esse critério criou a obrigatoriedade de se manter a representação numerosa para obter pelo menos o mesmo volume de recursos após cada eleição nacional. Certos partidos abriram mão de um projeto de poder pela eleição do presidente da República, para manter o poder no Congresso, onde administram as emendas secretas e pressionam o Executivo, além de controlar as emendas parlamentares, individuais e secretas.
Esse é um novo ingrediente para a perpetuação dos comandos partidários — que como aquele personagem de Bram Stoker continuam a sugar a energia da democracia para alimentar sua própria oligarquia.
Ser presidente de partido inclui o benefício de não ser cobrado por resultados, ao contrário do mercado privado, onde se o CEO não dá lucro encontra o caminho da rua de maneira rápida e direta. Quando as coisas não vão bem para chefe, troca-se a base, buscam um palhaço para fazer rir o eleitor e segue em frente com novos seguidores — sempre os há. Ou aliavam-se em coligações na disputa proporcional, agora proibidas.
Mas então surgiu a possibilidade das Federações, que obrigam alinhamento político por quatro anos, mas mantém a gestão dos recursos separados. Casamento em casas diferentes. Ótimo para a família não brigar pelo mesmo fundo… Mudam tudo para tudo permanecer tal e qual.
Os partidos brasileiros não têm por hábito pensar o Brasil. Raras exceções o fizeram. Poucas ideias e muita verba são as proporções da encrenca. Há quem se classifique como não sendo de direita nem de esquerda, muito antes, pelo contrário, não está no centro mas também não é periférico.
E ainda tentam lançar candidatos como se fabrica uma salsicha. Ou muda a especialidade da casa ao sabor do momento, tanto podem servir churrasco quanto tutu à mineira, mas a intenção é continuar tudo na mesma. Ou seja, perto do governo que está para surgir em outubro.
É essa regra que se mantém inalterada, busca-se a proximidade com o Palácio do Planalto a todo custo, como o crente busca o altar de sua fé. O detalhe é que, aos presidentes das legendas, não importa o santo que lá esteja, apenas que o milagre seja o mesmo. Para desespero do povo brasileiro.
*Márcio de Freitasé analista político da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | YouTube