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Nas exportações, digitalizar é preciso

Com a suspensão das feiras e exposições, imposta pela pandemia de covid-19, é hora de aprender a usar as ferramentas do digital trade

Trabalhadores carregam containers em porto no Estado de Santa Catarina (Paulo Prada/Reuters)

Trabalhadores carregam containers em porto no Estado de Santa Catarina (Paulo Prada/Reuters)

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André Martins

Publicado em 22 de março de 2021 às 16h46.

Última atualização em 22 de março de 2021 às 16h56.

O ano de 2022 será um momento especial para o Brasil. Além de marcar o bicentenário da Independência e os 30 anos da Rio 92, período em que o tema sustentabilidade ganha força no cenário mundial, o país celebra efemérides que indicam seu grau de maturidade política e econômica: 216 anos da abertura dos portos às nações amigas; 133 anos de instauração da República; e 34 anos da Constituição Federal de 1988, que aprofundou nossa democracia e direitos sociais.

Marca também o fechamento de um período de quatro anos, em que vivemos avanços e tivemos de lidar com importantes novos desafios.

De fato, no campo macroeconômico, se constata a consistente redução da taxa de juro interna, junto com uma alteração da taxa de câmbio efetiva e real que incentivou o ajuste no balanço de pagamentos e a competitividade de preço dos produtos e serviços de exportação.

Houve ganhos também na gestão da política monetária à medida que foi outorgada a autonomia do Banco Central. No campo fiscal, se observa condução prudente no sentido de não se quebrar regras por meio de “fura tetos de gastos”, ressaltando que o aumento de gastos e dívida pública recente foi resultado do combate à pandemia.

Na área de câmbio, há avanços possíveis e reais no sentido de modernizar o regulamento dessa área caso a lei cambial seja aprovada no Senado Federal. E, até na política de financiamento e seguros às exportações, se constata um esforço sincero de incentivar o crowding in do setor privado (aumento do investimento privado por conta da ação do setor público) nessa atividade, em que antes havia uma atuação marcante do Estado.

Além disso, estamos nesse período passando por um regime multilateral de abertura comercial e econômica, cabendo lembrar que está havendo ganhos de comércio e expansão de vendas externas, notadamente de serviços e do agronegócio.

O setor industrial ainda não se beneficiou e potencializou esse processo por uma série de fatores: uma não incidência completa de impostos indiretos e taxas nas exportações; dificuldade de acesso a fontes de curto prazo para financiamentos e seguros de créditos para poder competir internacionalmente; obstáculos para o acesso às fontes de recursos de longo prazo com base em green bonds (títulos de renda fixa que buscam unir sustentabilidade com retorno financeiro); normas voluntárias de sustentabilidade e requisitos de ESG; e necessidade de se “reindustrializar” firmas e cadeias produtivas para atender aos requisitos técnicos da indústria 4.0 e da transformação digital em curso no mundo.

É preciso compreender que o desafio dos empresários e empreendedores que gerenciam as empresas nacionais é enfrentar incertezas e riscos com relação ao futuro das transformações tecnológicas e econômicas em curso, tendo de simultaneamente se inserir, no exterior, em canais de distribuição para sua internacionalização e redobrar a atenção com a organização social da produção — destinada tanto ao mercado externo quanto interno.

No momento presente, as empresas estão em processo de revisão da gestão de seus processos produtivos, suas certificações de qualidade e conformidade, e de adequação de procedimentos e da mão de obra direta e indireta. Isso está sendo feito mediante a introdução de novas soluções de controle de processos do trabalho, apropriadas para testar e acompanhar os “novos” protocolos de saúde ocupacional, bem como as “novas” rotinas da produção.

Fazer isso induzirá a obtenção de ganhos de produtividade ao nível do chão de fábrica. Por sua vez, com esses ganhos, há incentivos para que as empresas ofertem uma “nova” variedade de bens e serviços, o que acaba induzindo a tão necessária reindustrialização do setor industrial. É um círculo virtuoso totalmente possível de ser atingido pelo país.

Essa nova variedade de oferta pode ser hoje disponibilizada para o mercado internacional via digital trade. Já há no Brasil, por exemplo, plataformas de comercialização de bens vocacionadas para países da América Latina. Vale ainda lembrar que o comércio nacional e internacional de pequenos pacotes e que atende o consumidor final apresentou taxas positivas de expansão nesse momento de crise de covid-19, colocando pressão na cadeia de suprimentos e entrega dos grandes players dos marketplaces.

Cabe ainda lembrar, que com a política de distanciamento humano, sobretudo transfronteiras, uma das formas usadas para entrar no mercado internacional — feiras e exposições — foi adiada sine die.

Nesse contexto, é hora de aprender a usar o digital trade, e a fazer vendas e marketing internacional em época de mídia social e digitalização de negócios.

Algumas ações básicas já ajudam muito: tirar boas fotos de produtos e serviços para fazer upload nas redes sociais, ter uma boa edição de texto em diferentes línguas — mesmo com auxílio do tradutor do Google — e impulsionar esses “folders” via mídia social fazem a diferença na forma de se apresentar ao mercado.

Descobrir como fazer hashtags e desenvolver estratégias de storytelling curtas e eficazes também são inovações importantes para os setores mais tradicionais. O LinkedIn Premium é um excelente instrumento para identificação de novos grupos de compradores internacionais. Isso sem falar de assinar e participar de plataformas de comércio tipo Alibaba etc.

Sem dúvida, fazer tudo isso é começar a internacionalizar as empresas nacionais em um ambiente digital. Há incertezas e riscos inerentes à adoção da jornada de transformação digital que precisarão ser incorporados por cada uma delas. Mas pesquisa recente da CNI aponta que as empresas industriais planejam fazer investimentos neste ano, inclusive para ações de transformação digital.

Vale lembrar que a imperiosa necessidade de digitalização não é restrita à indústria, mas também cabe ao agronegócio e ao setor de serviços.

Por isso, neste biênio de 2021/22, um alinhamento entre as lideranças da agricultura, indústria, comércio e serviços se faz necessário para um projeto efetivo de redução do custo Brasil com vistas a estimular o acesso das empresas brasileiras aos mercados externos, uma oportunidade facilitada pelo digital trade.

Precisamos ousar e garantir, entre outras medidas, a não incidência de tributos nas exportações e o acesso a fontes de financiamento de curto e longo prazo. Mais do que isso: temos de abraçar explicitamente a transformação digital nas empresas e cadeias produtivas para dar saltos de produtividade e promover a criação de novas variedades de produtos e serviços.

Junto com os positivos resultados macroeconômicos apontados no início deste texto, a implementação de uma agenda estendida como esta seguramente geraria resultados transformadores para a economia brasileira em 2022.

* Antônio Carlos Pinheiro é presidente da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex)

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