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Mundo habitável e vida digna para todos são meta distante

Pesquisa global com 500 especialistas em sustentabilidade deu as piores notas para redução de desigualdades, vida na água, vida terrestre e erradicação da pobreza

O abismo social é um dos maiores desafios para a construção de um país mais justo e sustentável (Nacho Doce/Reuters)

O abismo social é um dos maiores desafios para a construção de um país mais justo e sustentável (Nacho Doce/Reuters)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 4 de março de 2021 às 12h37.

Última atualização em 15 de abril de 2021 às 14h03.

O progresso do mundo para atingir os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 está fraco e pior do que há dois anos.

O problema se agrava nos objetivos considerados mais urgentes: ação contra mudanças climáticas, equilíbrio da vida terrestre e redução de desigualdades. E a pandemia, a despeito de ter colocado o ESG na ponta da língua de muita gente, espalhará lombadas atrasando o caminho para um planeta mais habitável e uma vida mais digna para as pessoas. Caminho longo, com tempo curto.

Essas tristes conclusões vieram à tona com a mais recente pesquisa global de monitoramento de desempenho dos ODS feita pelo Instituto de Sustentabilidade da consultoria inglesa ERM e pelo instituto de pesquisa canadense GlobeScan. Pela terceira vez, foram entrevistados 500 especialistas em sustentabilidade de 75 países. Os levantamentos anteriores ocorreram em 2017 e 2019, e seus resultados também foram ruins, mas não tanto quanto agora.

Pulou de 49% para 54% o percentual de especialistas que afirmam que o progresso nos ODS tem sido ruim. O desempenho da sociedade como um todo, na opinião deles, é fraco em todos os objetivos.

Os que estão numa situação melhorzinha são os objetivos nº 9 (progresso na indústria, inovação e infraestrutura), nº 17 (parcerias para a implementação das metas) e nº 7 (energia limpa e acessível).

O pior desempenho está no objetivo nº 10 (redução de desigualdades), para o qual 84% dos entrevistados consideram que os resultados são pífios. Logo depois vem o objetivo nº 14 (vida na água), seguido pelo nº 15 (vida terrestre) e pelo nº 1 (erradicação da pobreza).

O ODS considerado mais urgente por 61% dos entrevistados, o de ação contra mudanças climáticas, felizmente é o que mais recebe atenção dentro das organizações em que os 500 especialistas trabalham, mas infelizmente também não está bem das pernas – é o sétimo pior avaliado.

Mais da metade dos respondentes (54%) considera que a Covid-19 retardará o progresso dos ODS, e só 36% acreditam que ela o acelerará. Para os 10% restantes, o coronavírus não fará diferença. Pelas cicatrizes que a pandemia está deixando no tecido social, na educação e na vida em geral, penso que a maioria tem mais chance de estar certa nesta questão.

Por outro lado, as empresas estão se engajando muito mais em promover mudanças. Não importa se é por bom-mocismo ou por medo de perder investidores e clientes. O que importa é que o mundo precisa mudar, e a compreensão disso no ambiente corporativo está aumentando. Isso é bom.

Os ODSs foram estipulados em 2015 para serem atingidos até 2030. Falta pouco tempo. Vamos torcer para que a nossa consciência sobre o muito que precisa ser feito até lá e a nossa vergonha pelo pouco que já fizemos até aqui sejam capazes de arrancar alguma nota azul na próxima vez em que os 500 especialistas forem chamados a opinar.

 

* Renato Krausz é sócio-Diretor da Loures Comunicação

 

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