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Mobilidade global e dados confiáveis: o papel das DTCs no controle de fronteiras

Como a digitalização está transformando a gestão de fronteiras e elevando a segurança global

 (Flavio Coelho/Getty Images)

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Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 10h00.

Por Michael Zureik*

À medida que a mobilidade global se acelera, as agências de fronteira enfrentam um grande desafio: fazer mais com menos.

São mais viajantes, mais complexidade e mais riscos, muitas vezes operando com sistemas que não foram projetados para as realidades atuais. Porém, a missão permanece clara: proteger fronteiras, permitir a circulação e construir confiança.

No centro desse desafio está uma verdade simples, porém profunda: uma fronteira é tão forte quanto as identidades em que você confia.

O desafio atual: falta de confiança nos dados

O grande desafio das agências de fronteira não é a falta de dados, mas a falta de confiança na qualidade dos dados dos viajantes. Ao longo da jornada, governos dependem de múltiplas fontes de informação: pedidos de visto, dados de API e PNR, ETAs, eVisas e biometria. No entanto, grande parte dessas informações é inserida manualmente — por viajantes, companhias aéreas ou funcionários consulares — tornando-as inconsistentes, sujeitas a erros e difíceis de verificar.

As questões que surgem são muitas: Podemos confiar nos dados de identidade dos viajantes? Estamos coletando as informações certas, com antecedência suficiente para avaliar riscos? Como minimizar erros de digitação e garantir consistência entre os sistemas? E, acima de tudo, como aproveitar melhor esses dados entre diferentes agências?

As credenciais digitais de viagem (DTCs): uma oportunidade

As Credenciais Digitais de Viagem (DTCs) oferecem uma nova solução. Elas não apenas digitalizam identidades, mas também elevam a qualidade e a consistência dos dados de identidade em toda a jornada. 

Ao extrair com segurança os dados verificados do chip do passaporte e vinculá-los à biometria do viajante, as DTCs criam uma identidade confiável e portátil, utilizável durante toda a viagem. 

Integradas a processos upstream, como pedidos de visto, reservas aéreas e check-in, e a sistemas downstream, como portões de controle automatizado (ABC Gates) e motores de risco, as DTCs garantem que todos os dados estejam ancorados em precisão.

Essa mudança, do input manual para dados de identidade confiáveis e interoperáveis, permite que os governos avancem de verificações reativas para uma gestão de fronteiras proativa e orientada por inteligência, priorizando dados mais confiáveis, acionáveis e seguros.

O valor das DTCs

As DTCs representam uma abordagem inovadora para a gestão de fronteiras. Seu verdadeiro valor está na capacidade de serem integradas ao ecossistema de viagens para melhorar a qualidade, consistência e confiabilidade dos dados.

Antes da viagem, as DTCs podem ser incorporadas a processos upstream como solicitações de visto, reservas e check-in. 

Quando combinadas com API e PNR, garantem que os dados de identidade recebidos pelos governos sejam precisos, verificados e consistentes. Isso reduz erros de entrada manual e permite avaliações de risco mais precisas e antecipadas, muito antes de o viajante chegar à fronteira.

Na chegada, as DTCs viabilizam um processamento mais seguro e fluido em sistemas automatizados de controle de fronteira. 

Combinadas com verificação biométrica em ABC Gates, permitem experiências rápidas — estilo “Tap & Go” ou walk-through — para viajantes de baixo risco. Isso acelera o fluxo sem comprometer a segurança e permite que os agentes concentrem sua atenção onde realmente importa: em casos complexos e riscos desconhecidos.

DTCs: conectando dados e fortalecendo a confiança

Ao longo de toda a jornada, as DTCs funcionam como um ponto confiável de ancoragem para garantir dados de alta integridade provenientes de várias fontes. Ao fortalecer a qualidade dos dados, elas ajudam os governos a “conectar os pontos”, transformando informações de viajantes em inteligência confiável. Com uma única identidade verificada no centro, as agências podem agir com mais velocidade e confiança.

O denominador comum entre todas essas soluções é a confiança — que se torna um ativo estratégico para operações de fronteira mais rápidas e seguras.

O impacto das DTCs nas operações de fronteira

O verdadeiro valor estratégico das DTCs está em sua capacidade de melhorar a qualidade dos dados de identidade em todos os sistemas que dependem deles.

Integradas a API e PNR, as DTCs substituem campos preenchidos manualmente por dados verificados a partir do chip do passaporte, eliminando erros comuns e inconsistências. Isso garante que as informações recebidas antes do embarque sejam precisas, completas e consistentes entre plataformas.

Na fronteira, as DTCs aprimoram o desempenho dos ABC Gates ao fornecer uma identidade segura e vinculada à biometria, permitindo processamento automatizado e rápido para viajantes de baixo risco. Isso não apenas melhora a eficiência, mas também garante que a automação seja alimentada por dados de alta integridade, reduzindo falsos positivos e encaminhamentos desnecessários.

A visão para o futuro

De forma mais ampla, as DTCs funcionam como âncoras confiáveis para dados integrados a diferentes processos. Ao vincular dados verificados às autorizações de viagem, reservas e registros biométricos, os governos conseguem construir uma visão mais completa e confiável de cada viajante. Isso possibilita decisões mais precoces e seguras, apoiando operações orientadas por inteligência entre agências e fronteiras.

A tecnologia está pronta. Os padrões estão amadurecendo. O que falta agora é liderança visionária e colaboração entre setores para ir além de mudanças incrementais e reenquadrar a identidade como um ativo estratégico.

Imagine um futuro em que fronteiras sejam portais inteligentes, onde identidades confiáveis circulem com segurança entre sistemas, possibilitando movimentações mais rápidas, decisões melhores e segurança reforçada. Porque, no fim das contas, identidade é a nova fronteira. E as nações que entenderem isso não apenas protegerão melhor seus territórios, mas também moldarão o futuro da mobilidade global.

*Michael Zureik é Head de Estratégia Digital de Viagem & Parcerias da SITA, empresa líder mundial em comunicações de transporte aéreo e tecnologia da informação.

 

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