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Márcio de Freitas: O essencial é invisível aos olhos

Um enredo antidemocrático vem consumindo a energia do país, que devia estar com a cabeça em assuntos mais relevantes

Nesta semana juros da Selic estão e, 13,75% (Lula/PR/Divulgação)

Nesta semana juros da Selic estão e, 13,75% (Lula/PR/Divulgação)

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Publicado em 3 de fevereiro de 2023 às 09h00.

Por Márcio de Freitas*

Esqueça o Marcos do Val. O que interessa é o Banco Central. O lamentável enredo antidemocrático tem que ser tratado pela polícia. Mas o fato é que ele consome a energia de um país que deveria estar discutindo a sério a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Bacen, que manteve nesta semana os juros da Selic em 13,75%. Ali está um grito mais ensurdecedor do que o de Munch: o recado foi curto e duro ao frisar que as taxas podem ficar neste patamar muito mais tempo do que esperava a doutora Poliana Pangloss, filha ilegítima de Voltaire.

É essa Selic que pode determinar a melhoria das condições de vida dos mais pobres, a dinâmica do comércio e se os investidores vão sair do armário para fazer o PIB crescer nos próximos meses. A questão que joga os juros na órbita de Marte foi tratada ontem em reunião no Palácio do Planalto, com agenda pública, pauta definida e personagens legítimos cuidando daquilo que deveriam cuidar, os destinos do país e a solvência das contas públicas.

A reunião entre o presidente Lula e o ministro Fernando Haddad tratou da demolição do Teto de Gastos. Entre uma marretada e outra, tentam desenhar algo para ficar em seu lugar, com alguma folga maior para gastar mas tentando dourar a pílula para que o mercado endosse as modificações, de forma a não deixar seu dinheiro em outros sítios mais seguros e ajude o país a sair do cenário negativo que insiste em coabitar o bolso dos brasileiros. É a âncora fiscal que fará o barco brasileiro navegar com segurança pela economia mundial, sem risco de economicídio. Querer jogar os juros no chão à força é contratar as balas para roleta russa.

“O Teto de Gastos teve efeitos destrutivos sobre as políticas sociais, ao mesmo tempo que se tornou absolutamente inócuo como instrumento de controle fiscal. Vamos construir um novo regime fiscal para o Brasil”, afirma a mensagem presidencial ao Congresso, que promete prioridade para o tema na agenda política. Em 2022, o setor público do país registrou superávit de R$ 126 bilhões, mas muitos setores do governo federal estavam sem recursos no final do ano e bilhões foram deixamos com restos a pagar para este ano.

Enquanto o texto chegava ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, o noticiário falava somente das diversas versões da denúncia do senador Marcos do Val sobre a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro em uma conversa para lá de mal intencionada sobre a democracia brasileira, com um ex-deputado Daniel Silveira em dezembro do ano passado. Como cantava Tom Jobim: É a lama, é a lama…

A solidez fiscal é tema básico para o sucesso do país, quer o cidadão seja de direita, esquerda ou ambidestro. Afeta a todos. E principalmente dará dimensão para o governo, que poderá colher os louros ou, nas próximas eleições, o povo lhe dará nos couros.

A incerteza hoje é muita. O ambiente não está fácil no mundo todo. Diferente o cenário de 2003. Guerra na Ucrânia e geopolítica em movimento delicado entre China e Estados Unidos, que podem afetar alianças em blocos ou grupos. Essa fragilidade de relações pode gerar novos conflitos que prejudiquem o intercâmbio comercial internacional, ou aumente muito certos produtos essenciais, como o petróleo. Com tanta instabilidade lá fora, a produção nacional de crises bem que poderia se juntar aos trabalhadores franceses e entrar em greve.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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