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Márcio de Freitas: eleição centralizada, com Lula pendular

O ex-presidente acumula hoje capital de intenções de voto que indica um potencial, inclusive, para vencer a disputa no primeiro turno

Pendular, Lula acena à esquerda que o segue há décadas, mas se volta também aos conservadores econômicos (Amanda Perobelli/Reuters)
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Bússola

Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 15h54.

Última atualização em 27 de janeiro de 2022 às 16h15.

Por Márcio de Freitas*

O centro da eleição de 2022, até agora, é Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente acumula hoje capital de intenções de voto que indica um potencial, inclusive, para vencer a disputa no primeiro turno. Em votos válidos, ele está próximo de 50% mais um. Entretanto, falta muito tempo para o eleitor confirmar o voto em outubro. E isso pode mudar.

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É cenário difícil, pois Lula não encerrou o pleito na primeira fase nem quando concorreu à reeleição em 2006. Os demais candidatos orbitam em torno dele, ou buscam criar estratégias para não serem expulsos do sistema eleitoral pelo esvaziamento diante da falta de perspectiva de ocupar o espaço do centro. Quem melhor se posiciona na disputa é o presidente Jair Bolsonaro.

Lula escolheu Geraldo Alckmin para simbolizar o movimento em direção ao centro. O marido de dona Lu Alckmin é político moderado, previsível e tradicional. Enquanto faz esse caminho, o petista deixa seus radicais morderem a direita: falam na revogação da reforma trabalhista e da Previdência. Acerta a ferradura e, em seguida, o cravo.

O ex-presidente se aproxima do centro, mas não do Centrão, que hoje está com o presidente Jair Bolsonaro. Em 2018, essa representação de um grupo de legendas do Congresso Nacional foi alvo de ataques da campanha bolsonarista. Hoje, estão atrelados às benesses do governo. E mesmo com todas as negativas públicas de possíveis mudanças futuras no posicionamento político, é com o futuro governo e suas verbas que estará esse grupo. Seja qual for o governo.

Esse cálculo Lula já faz há muito tempo. Conhece as entranhas do Centrão, até as profundezas de seus bolsos sem fundos. E sabe que, de emenda em emenda, é que se constrói maioria no Congresso Nacional. Hoje, ele não tem nada a oferecer a esse grupo guloso para retirá-lo da órbita do governo Bolsonaro. O custo seria imenso, o resultado pífio. Mas quando a eleição se afunilar na urna, com clareza de um eventual resultado, o Centrão também acompanhará o desejo da maioria. Se as pesquisas se confirmarem, Lula sabe que o Centrão está com ele. Se Bolsonaro ganhar, baterão continência.

Por isso, o petista faz movimentos em direção a um centro com quem já conviveu, brigou e se afastou desde a redemocratização do Brasil. Em 1989, Lula recebeu o apoio de Mário Covas, o então candidato do PSDB, na disputa de um segundo turno contra Fernando Collor. Depois enfrentou Fernando Henrique Cardoso, perdendo duas seguidas e verteu ódio nos ataques. Venceu as disputas seguintes na versão Lula de "pelúcia", até surgir Jair Bolsonaro.

No ano passado, depois de muitos tapas eleitorais, Lula se reencontrou com FHC e trocam “soquinhos” de cumprimento em tempos de covid-19, esqueceram o que escreveram e falaram, sem herança maldita, tentando olhar pra frente. A imagem do armistício: Lula dividiu o centro da fotografia com o tucano.

Os tucanos vivem uma crise de identidade sem fim. Se desnortearam depois de 2014. Em 2018, o presidente Bolsonaro deixou o PSDB fora do segundo turno e conseguiu a façanha de vencer o petista Fernando Haddad. Ele não tinha máquina partidária, nem tempo de tv, nem estrutura formal de campanha — coisas que agora acumula. Mas surfou na onda da Lava Jato, no combate à corrupção e na prisão de Lula.

Ainda assim, Haddad foi ao segundo turno e obteve 44,8% dos votos fazendo discurso para manter aglutinada a base petista. Em 2022, Lula será o nome nas urnas eletrônicas. Tem os petistas e simpatizantes presos ao seu discurso emocional, calcado no centralismo da busca por soluções para problemas sociais, pobreza e fome.

O Lula que fala nos podcasts não é o mesmo que, em privado, tem prometido a empresários e banqueiros o mesmo crescimento e desenvolvimento dos anos em que esteve na Presidência. Pendular, faz acenos à esquerda que o segue há décadas, mas se volta aos conservadores econômicos que já ganharam bilhões em seus tempos presidenciais. E busca recuperar o centro de poder que perdeu após deixar o governo em 2010. Bolsonaro e os demais seguem os movimentos de Lula. Até agora, é um jogo de imitação: seguindo o líder.

No centro do palco, Lula é hoje favorito e alvo. E consegue até deixar o presidente da República com direito à reeleição, tradicionalmente o grande protagonista da eleição, fora do centro e em segundo lugar nas pesquisas. Fato é que o figurino radical continua sendo o favorito de Bolsonaro, confortável na polarização ideológica.

*Márcio de Freitasé analista político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.

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