Após a chegada da covid-19, 50 milhões de brasileiros querem abrir uma empresa nos próximos três anos (Getty Images/Getty Images for National Geographic Magazine)
Bússola
Publicado em 31 de março de 2022 às 14h30.
Planejar, ter um bom networking, pesquisar o público e o segmento de interesse, replanejar se necessário, testar o produto e só então inseri-lo no mercado. Essa foi a dica dada aos empreendedores de todo o Brasil durante a discussão promovida nesta quarta-feira, 30, pela Bússola. Sob a moderação do jornalista Rafael Lisbôa, os executivos Guilherme Soares, Adriano Meirinho, Igor Castanho e Guilherme Alvarenga detalharam as dificuldades do empreendedor brasileiro e trouxeram alternativas sobre como podem vencê-las, criando negócios competitivos e atraentes para os clientes.
De acordo com um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo, após a chegada da covid-19, o número de pessoas que ainda não empreendem e querem abrir uma empresa nos próximos três anos cresceu 75%, somando 50 milhões de brasileiros.
Para Guilherme Soares, vice-presidente de Growth da Contabilizei, mesmo que em 2021 o número de abertura de empresas tenha apresentado recorde de crescimento, os empreendedores, profissionais autônomos e liberais do país passam por algumas dificuldades relacionadas à burocracia e a complexidade tributária surge desde o início, já na abertura da empresa.
“[..] Diversos faturamentos e diversas atividades têm regras diferentes que precisam ser entendidas por quem deseja empreender”, afirmou Soares, que ressalta a importância de contar com o auxílio de especialistas do momento de regularização da empresa, até a fase de acompanhamento do negócio, durante o dia a dia.
O CTO da Trela, Guilherme Alvarenga, completou e explicou que na área de varejo, por exemplo, o micro e pequeno empreendedor que atua com produção de alimentos, possui imensa dificuldade de negociação devido a forte competição que há no setor.
“Um pequeno produtor de queijo, por exemplo, não consegue entregar seu produto ao mesmo tempo para consumidores em regiões distintas de uma grande cidade como São Paulo. Então, você tem que criar uma solução para isso e viabilizar vendas. Isso é empreender”, disse Alvarenga.
Para Igor Castanho, Head de Growth do Olist, o empreendedor precisa saber também onde expor seus produtos, ainda mais em um cenário digital em ampla expansão em todo o mundo. Nas lojas virtuais, de acordo com Castanho, é preciso não só saber em quais canais expor seus produtos, mas garantir visibilidade suficiente para converter essa audiência em vendas.
“Ele pode colocar seu produto em uma loja própria, nas redes sociais, em marketplaces, mas para cada um desses canais e caminhos, existem recursos tecnológicos e complexidades operacionais que ele precisa considerar e planejar”, declarou Castanho.
Já Adriano Meirinho, CMO e cofundador da Celcoin, enfatizou a necessidade dos empreendedores em ter uma estrutura de serviços financeiros em seus negócios. Segundo o executivo, há inúmeros serviços disponíveis hoje por fintechs que isentam o empreendedor de pagamento de taxas que, normalmente, são cobradas pelos grandes bancos.
“O Pix já trouxe uma grande mudança para o mercado. Ninguém faz mais TED, hoje as transferências são mais ágeis. E agora vamos entrar na era do open banking, ou seja, as pessoas e os negócios poderão compartilhar seus dados e obter propostas melhores de bancos concorrentes e de empresas que atuam com serviços financeiros. O pequeno empreendedor poderá ser altamente beneficiado”, afirmou Meirinho.
A tragédia que a pandemia trouxe para humanidade é indiscutível. Mas no mundo dos negócios, o novo coronavírus trouxe também aprendizados, principalmente no quesito resiliência. Diversos setores tiveram que se adaptar rapidamente para vender seus produtos e serviços por meio do canal digital. Para o micro e pequeno empreendedor, a pandemia acelerou o processo de transformação digital.
“Empreender é você resolver durante um tempo um problema de uma determinada forma e, toda mudança na sociedade, gera mudanças na forma como esses problemas são resolvidos. Isso a gente viu claramente na pandemia. Nunca houve tantas mudanças em um curto espaço de tempo para atender a uma necessidade de forma muito rápida”, disse Guilherme Alvarenga, da Trela.
Alvarenga enfatizou também que o papel do empreendedor passou por mudanças recentemente. “Empreender não é só abrir um negócio, é ter o espírito empreendedor dentro de si. As pessoas que trabalham visando melhorar a estratégia de negócio das empresas em que elas atuam, se sobressaem sobre as demais. Isso é empreendedorismo”, afirmou.
Guilherme Soares, da Contabilizei, lembrou da dificuldade das empresas com fluxo de caixa durante a pandemia e da importância de se ter um bom planejamento financeiro. Nesta situação, as estratégias de renegociação de contratos e todas as demais iniciativas que ajudaram as empresas a reduzir custos de operacionalização, foram fundamentais para a sobrevivência de muitas delas, principalmente os micro e pequenos negócios.
“Todo empreendedor aprendeu com a pandemia que é preciso ter um plano B para períodos de escassez. Além disso, o micro e pequeno empresário teve que mudar a forma de se comunicar com o seu cliente e criar soluções voltadas ao ambiente digital para continuar vendendo. A resiliência e a velocidade do empreendedor em compreender novos ambientes foram os principais legados deixados pela pandemia no meio corporativo”, disse Soares.
Reinvenção e flexibilização foram as palavras usadas por Adriano Meirinho para explicar como o empreendedor sobreviveu à crise provocada pela pandemia.
“Tenho amigos empreendedores que diziam que nunca iriam migrar seus produtos para o digital. A covid-19 os forçou a se adaptarem e assim foi com todos os pequenos negócios. Hoje, o consumidor, desde a geração Baby Boomers até as gerações Z e Alpha, compra e se relaciona pelo digital. O que antes era uma tendência, foi acelerado pela pandemia e se tornou realidade nos últimos dois anos”, afirmou Meirinho.
Para Igor Castanho, do Olist, o e-commerce cresceu o equivalente a dez anos em três devido à pandemia. Essa presença digital não recua mais, segundo o executivo.
“Quando você olha para outros mercados, como China e EUA, nota-se um crescimento exponencial do e-commerce sobre o varejo offline. Essa transformação veio para ficar”, destacou Castanho.
“Quem atua na informalidade tem até dificuldade para conseguir financiamento e acesso a outras coisas que precisará no futuro se quiser crescer. Por isso, começar de maneira correta é muito importante para não se complicar lá na frente”, disse Soares.
Para o vice-presidente da Contabilizei, o empreendedor deve iniciar a sua trajetória dentro da formalidade, ou seja, com um CNPJ e visão de longo prazo. “Planejar, construir uma estratégia de vendas e saber que pode demorar para o negócio deslanchar são alguns dos segredos para o sucesso”, afirmou.
“O que você está propondo resolver e qual o valor que você está entregando” são as dicas do CTO da Trela. Para Alvarenga, se o empreendedor está focado em entregar valor, os outros atributos de negócios vêm naturalmente. “Errar faz parte e isso deve ser valorizado como aprendizado. O empresário deve ter em mente que ele vai errar, mas o foco na entrega do valor fará a diferença para ele corrigir rotas”, disse.
“Entender o que as pessoas querem faz toda a diferença na hora de colocar o seu produto na rua. Ouça as pessoas”, disse Castanho head do Olist. “Mesmo que você comece de forma imperfeita, se tiver atendendo a uma necessidade de mercado, certamente você terá demanda e a probabilidade do seu negócio prosperar é grande”, declarou.
“Converse com quem está no dia a dia”, ressalta Meirinho, CMO da Celcoin. Para ele, “ouvir o mercado, os consumidores, quem está na rua e elaborar uma proposta de valor que fará a diferença para os consumidores” é fundamental para começar um negócio. “O empreendedor tem que ter a paixão aliada a estratégia”, disse o executivo.
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