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Leo Slezynger: a COP do hidrogênio verde

Sustentabilidade é o caminho definitivo para a indústria do futuro

Transição para um mundo descarbonizado exige cooperação entre governos e sociedade (EDP/Divulgação)
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Bússola

Publicado em 22 de dezembro de 2022 às 17h30.

Última atualização em 22 de dezembro de 2022 às 17h39.

Realizada em Sharm El-Sheikh, no Egito, a COP27, assim como as edições anteriores, representou uma oportunidade para os países elevarem suas ambições climáticas e manterem viva a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5 ºC comparado ao período pré-industrial. Mas não são somente os negociadores dos governos que dão vida à Conferência das Partes: empresários do setor produtivo e financeiro e representantes das mais diversas esferas da sociedade civil — juventude, povos originários, ONGs — participam ativamente por meio de debates, palestras e eventos em torno das soluções conjuntas para o combate às mudanças climáticas. É consenso que a transição para um mundo descarbonizado exige a cooperação entre governos e demais esferas da sociedade. Logo, essa participação é fundamental para o sucesso das conferências do clima.

O acompanhamento desses debates no espaço da sociedade na Conferência é de particular interesse na medida em que dá a direção das principais tendências globais em matéria de sustentabilidade. Em Sharm El-Sheikh, ficou evidente como a discussão sobre a transição energética e o aumento da demanda por energia limpa estão no centro do debate para a descarbonização do planeta. O Espaço Brasil, que foi o maior da conferência depois do país anfitrião e que trouxe a maior delegação brasileira da história, teve como principal destaque o potencial do Brasil para fontes de energia verde, em particular energia solar, eólica, biomassa e hidrogênio. E não foi só no Brasil: estandes de países como os da China e Arábia Saudita também deram forte destaque ao hidrogênio enquanto solução, o que teve eco em várias das palestras e eventos realizados na COP neste ano.

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Por ser um combustível com zero emissões de gases causadores do efeito estufa na sua queima, o hidrogênio tem se tornado uma das principais apostas para a descarbonização da economia mundial. O que determina quão limpo o combustível se torna, porém, são as emissões resultantes da sua produção. Por isso, existem três tipos de hidrogênio: o cinza, produzido a partir da queima de gás natural (portanto, com emissão de carbono para a atmosfera); o azul, que captura o carbono emitido na sua produção; e o verde, que é produzido de energia limpa, como a eólica, e por isso é 100% limpo.

O Brasil, pela sua matriz energética predominantemente limpa (sendo, de acordo com Balanço Energético Nacional – BEN, 44,7% de fontes renováveis, comparado a 14,1% na média mundial) e pelo enorme potencial de geração de energia eólica e solar, reúne as condições para ser líder mundial na produção de hidrogênio verde a preço competitivo e atender à enorme demanda global por combustíveis verdes, que vem sendo acelerada pelo impacto da guerra do Leste Europeu no preço e fornecimento dos combustíveis fósseis. Segundo relatório do Ministério de Minas e Energia e da Empresa de Pesquisa Energética, o hidrogênio verde tem potencial de suprir 25% da demanda energética do mundo até 2050, se tornando um mercado de US$ 10 trilhões até lá.

O Brasil larga na frente por ter anunciado o primeiro projeto de produção de hidrogênio verde em escala industrial. A planta da Unigel — uma das maiores empresas químicas da América Latina e maior fabricante de fertilizantes nitrogenados do país — será a primeira fábrica de hidrogênio verde do Brasil e a maior do mundo quando inaugurada. Na primeira fase de operação, prevista para dezembro de 2023, a Unigel prevê a produção de 10 mil toneladas de hidrogênio verde por ano e 60 mil toneladas de amônia verde (forma adequada para o transporte marítimo do combustível). Na segunda fase, prevista para dezembro de 2025, a produção deverá quadruplicar.

Com a elevação da ambição das metas climáticas, os combustíveis verdes tendem a ter demanda cada vez maior e se tornar um mercado de grande importância nos próximos anos. Poucos países reúnem as condições do Brasil de produzir essas alternativas a preço competitivo e com escala suficiente para atender a essa demanda. Com as políticas públicas e incentivos corretos, o país poderá se beneficiar da sua liderança na transição energética e crescer de forma sustentável com geração de empregos verdes e renda aos brasileiros, além de contribuir substancialmente para combater as mudanças climáticas do planeta.

*Leo Slezynger é acionista e diretor de relações industriais da Unigel

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