Já me vacinei e agora não preciso usar máscara. Eis aí uma conta errada
Muita gente está apostando na mudança equivocada de comportamento, que pode custar caro no futuro
Bússola
Publicado em 6 de setembro de 2021 às 16h40.
Última atualização em 6 de setembro de 2021 às 17h47.
Por Marcelo Tokarski*
Os números de casos e de mortes por covid-19 no Brasil seguem em consistente tendência de queda. Neste domingo, atingimos uma média móvel de 617 mortes por dia, o menor patamar desde 7 de dezembro. A média de novos casos registrados (21.281 por dia) também é a mais baixa desde 10 de novembro. A queda é fruto direto do avanço da vacinação, que já atingiu quase um terço da população com as duas doses ou dose única, além de outro quase um terço que está parcialmente imunizado com a primeira dose.
O quadro epidemiológico tem levado muita gente a relaxar nas medidas preventivas, principalmente quanto ao uso de máscaras. Sem falar da falta de máscara em ambientes fechados, onde o risco de contaminação é ainda maior.
Mas um estudo das universidades americanas de Yale e Stanford alerta que esse não deveria ser o comportamento daqui para a frente. Pelo contrário.
Para comprovar a tese, que muitos epidemiologistas já defendiam, os pesquisadores usaram como laboratório real um grupo de 340.000 habitantes da Bangladesh, na Índia. Os moradores foram divididos em dois grupos: um que não utilizava máscaras e outro que utilizava e foi estimulado a usá-las. Este último foi alvo de campanhas educativas e recebeu máscaras gratuitas.
Uma das principais conclusões do estudo é de que o uso de máscaras reduz em até 11,2% o risco de contrair o vírus. Pode parecer pouco, mas não é. Essa redução foi obtida com apenas 42% do grupo estimulado de fato usando o equipamento de proteção — antes das campanhas educativas, eram apenas 13% os adeptos na máscara. Ou seja, se 100% das pessoas usavam o equipamento, a proteção coletiva seria muito maior.
Vacina e máscara?
Mas, afinal, por que continuar usando máscaras se a pandemia está mais controlada e boa parcela da população está imunizada, total ou parcialmente. A resposta é simples. Primeiro, e principalmente, porque nem mesmo as vacinas garantem 100% de proteção contra a covid-19. Elas reduzem, e muito, a chance de contaminação, o agravamento do quadro quando a pessoa é infectada e, principalmente, o risco de morte. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, não garantem imunidade total (atenção: não se trata aqui de uma crítica à vacina, pelo contrário, só a vacinação permitirá uma proteção coletiva contra o coronavírus).
Segundo, porque as máscaras ampliam o grau de proteção em locais onde ainda existe a chamada transmissão comunitária, que é o caso do Brasil. Transmissão comunitária é quando você é infectado e não tem como saber de quem contraiu o vírus.
Isso sem falar nas novas variantes, como a delta, que em muitas cidades brasileiras já é predominante. Fazer o uso da máscara, principalmente em locais fechados e com maior fluxo de pessoas, é uma garantia a mais de proteção e justamente por isso não deveria ser abandonado.
Até porque todos nós estamos mais expostos, ao paulatinamente retomarmos nossa rotina de trabalho, lazer, escola dos filhos etc. Aliar a vacina ao uso da máscara é o melhor caminho para se proteger e continuar contribuindo para a redução de casos e mortes por covid-19. Afinal, 617 mortes por dia pode ser o menor patamar dos últimos nove meses, mas ainda assim é uma estatística triste e estarrecedora.
*Marcelo Tokarskié sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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