Glaucia Guarcello: É mais sobre transformação do que sobre digital
Saiba o que rolou no Websummit 2022 em Lisboa, maior evento de inovação e tecnologia da Europa
Bússola
Publicado em 16 de novembro de 2022 às 19h20.
Última atualização em 16 de novembro de 2022 às 19h48.
Tecnologias digitais estão em pauta. Seja em startups que buscam negócios exponenciais baseados nesta premissa tecnológica ou até mesmo grandes empresas que estão declaradamente em uma jornada de transformação digital. Ambos foram destaques do Websummit 2022, maior evento de inovação e tecnologia da Europa, que ocorreu em novembro.
Estes movimentos atrelados às tecnologias digitais buscam a ideia de mudança de paradigma entre a aquisição e gestão de ativos físicos para a ambição de construção de plataformas digitais ou até mesmo soluções descentralizadas, mas que criem valor de maneira modularizada e escalável. Metaverso, blockchain, AI, Big Data, Machine Learning e tantas outras tecnologias que, sozinhas, ou combinadas, prometem transformar a realidade que vivemos e a definição de valor.
O risco existente aqui é entendermos o termo transformação antes de pensarmos no digital em si. Se não dedicarmos a devida atenção, podemos incorrer em dois principais equívocos:
- Confundir adoção de tecnologia com transformação digital. Diversos programas de transformação digital nas empresas mantêm processos e improdutividades atuais apenas adotando tecnologias numa visão de melhoria incremental de resultados.
- Recriar no ambiente digital as mesmas limitações e paradigmas do mundo físico, reduzindo o seu potencial de impacto e transformação de fato. Um exemplo citado no websummit neste sentido é o metaverso que, com uma visão limitada, consistiria em um ambiente de poses e escassez, basicamente pautado em gêmeos digitais, mas que numa visão expandida e transformacional representará uma realidade extremamente flexível, mutável e fluida em tempo real. Em uma aplicação, poderíamos criar designs que não apenas reduzam custos no mundo físico de prototipagem e engenharia, mas designs que mudem em tempo real, conforme a experiência do usuário, algo que não seria possível no mundo físico.
Segundo estudo realizado pelo MIT, a transformação digital que gera valor real é a que concilia, ao mesmo tempo, a transformação da organização em si e dos negócios. Ou seja, digitalizar apenas a sua oferta de produtos e serviços ou apenas os seus processos e estruturas internas, sem uma visão estratégica e integrada de criação de valores destas duas áreas no ambiente digital não é fazer uma transformação digital.
Ao analisarmos transformações digitais bem-sucedidas algumas características comuns podem ser destacadas: - Um único executivo responsável pela transformação. Liderar um programa tão estratégico e relevante exige foco e visão holística da corporação. O papel de um transformation officer se faz crucial nesta jornada.
- Roadmaps com diferentes cenários e horizontes de inovação. Uma visão que conecte o entendimento de mercado quanto às soluções, futuros possíveis e prováveis e a ambições de inovação estratégicas.
- Clara priorização de iniciativas. Critérios definidos e atrelados aos objetivos da corporação para decidir quais iniciativas serão implementadas.
- Integração e quebra de silos. A transformação digital pressupõe uma capacidade transversal de implementação e de gestão. A operação integrada da transformação se faz assim parte essencial do sucesso.
A transformação digital é algo novo para as organizações e, obviamente, aprenderemos muito com a prática. Porém, isto não minimiza a importância de olharmos estes processos com as lentes da arte do possível, ao invés de apenas da replicação do mundo que vivenciamos hoje. É mais sobre um mindset de abundância do que de escassez.
*Glaucia Guarcello é professora do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e sócia-líder de Inovação da Deloitte
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