ESG sobre trilhos
Para presidente da Rumo, previsão do Brasil de dobrar participação do modal ferroviário na matriz de transporte abre caminho para agenda mais sustentável
Isabela Rovaroto
Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 13h11.
Última atualização em 23 de dezembro de 2020 às 13h31.
O título deste artigo pode soar clichê, mas é justificável diante do que acontece agora com a atuação da sociedade em relação à agenda socioambiental, impondo mudanças estruturais para melhor.
Nesse contexto, a relação do modal ferroviário com os preceitos ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) salta aos olhos, ainda mais se levarmos em conta a disposição expressa pelo Ministério da Infraestrutura em seu Plano Nacional de Logística (PNL) de dobrar a participação das ferrovias na matriz de transporte brasileira dos atuais 15% para 30%, nos próximos 10 anos.
Da “porteira para dentro”, nosso país segue sendo imbatível: não existe fazenda no mundo que supere a eficiência e a produtividade de uma propriedade rural de ponta brasileira. Para o transporte dessa produção, porém, ficamos atrás de outras nações com portes territoriais semelhantes.
Os exemplos mais emblemáticos são a Rússia, com o share das ferrovias na matriz de transporte de 81%, e os Estados Unidos, onde os trens respondem por 43% das cargas movimentadas. Hoje, 65% da movimentação de cargas no Brasil é feita em rodovias.
Para expressar o quão vantajoso será o avanço previsto no PNL do ponto de vista ambiental, basta lembrar que um trem emite 15 gramas de gás carbônico por tonelada útil transportada (gCO2eq./TKU), enquanto um caminhão emite 100 gCO2eq./TKU.
Um trem com 100 vagões é capaz de substituir até 357 caminhões. Basta fazer as contas para entender o que o reequilíbrio pretendido na matriz de transporte representa em termos de redução nas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
O ESG roda bem sobre trilhos. A Rumo possui diferentes compromissos com esta agenda, tais como segurança, diversidade, redução de emissões, responsabilidade social, gestão da cadeia de fornecedores, fomento ao desenvolvimento do país e parcerias com clientes em prol do plantio sustentável.
Não se trata apenas de obter determinados índices para agradar ao mercado, mas da convicção de que esta é a forma correta de gerenciar um negócio e a única maneira de preservá-lo no longo prazo. Questões socioambientais e de governança precisam estar inseridas no processo decisório da empresa.
Com a assinatura do contrato de renovação antecipada da Malha Paulista, em maio deste ano, a Rumo assumiu o compromisso de investir R$ 6 bilhões nesta concessão. Os investimentos em obras, trilhos, vagões e locomotivas injetarão recursos privados na ampliação da capacidade de transporte, atenderão 72 municípios e deverão gerar mais de 130 mil empregos diretos e indiretos.
Assim, a concessão vai aumentar a capacidade de transporte e minimizar conflitos entre ferrovia e zonas urbanas. Ao todo, cerca de 5 milhões de pessoas serão beneficiadas com mais segurança viária.
Acreditamos fortemente que a ferrovia possui um papel de indutor de crescimento e qualificação das economias por onde passa, e teremos um bom exemplo disso no primeiro semestre de 2021. É quando começaremos a operar a Malha Central (tramos central e sul da Ferrovia Norte-Sul), que atravessa Tocantins e Goiás até se unir à Malha Paulista, que a conecta ao Porto de Santos (SP).
No E de environment, assumimos no início deste ano o compromisso de reduzir em 15% as emissões específicas de gases de efeito estufa por nossas locomotivas até 2025. Desde 2015, a Rumo já reduziu em 26% o número de emissões específicas (equivalente a 750 mil toneladas de CO2).
Além disso, em 8 de julho, tornou-se a primeira ferrovia de cargas na América Latina a emitir um green bond. Trata-se de uma emissão no valor de US$ 500 milhões, com vencimento em 2028, que serão destinados a "green projects" elegíveis para tornar o modal ferroviário mais limpo e eficiente.
Essa operação foi certificada pela Climate Bonds Initiative (CBI), organização internacional que trabalha na mobilização do mercado de títulos para soluções de mudanças climáticas. O principal requisito da CBI é a emissão de menos de 21 gramas de CO2 por tonelada e quilômetro transportado. Atualmente, as operações da Rumo apresentam valores médios de 15,8 gramas de CO2 por tonelada e quilômetro transportado.
Ainda há muitos avanços a serem conquistados, mas tenho a convicção de que todo o setor ferroviário brasileiro está consciente de seu papel para o desenvolvimento da nossa infraesturura para aumentar a competitividade do país com uma logística cada vez mais sustentável. Sobre trilhos e sem clichês.
* João Alberto Abreu é presidente da Rumo Logística
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