Pacto da Equidade Racial anuncia a adesão de 15 novas empresas ao projeto (Divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 8 de março de 2022 às 13h40.
Última atualização em 8 de março de 2022 às 14h06.
Por Emannuelle Junqueira*
Não sei se você já parou para pensar, mas é muito difícil que qualquer peça de roupa que você escolha não tenha passado pelas mãos de uma mulher. Elas são maioria na força de trabalho da moda mundial, cerca de 85% dos postos de trabalho no mundo, entre costura e tecelagem, são ocupados por mulheres. No Brasil, o percentual é também bem alto, são 75% de trabalhadoras.
Como sempre teve importância máxima na vida da sociedade, a indústria do vestuário sempre foi uma importante vertente da Revolução Industrial e, desde sempre, mulheres, apesar de serem constantemente maioria, tiveram de lutar por reconhecimento — e mais, por mínimas condições de trabalho.
Não é novidade: há séculos uma indústria que trabalha para vender produtos destinados ao público feminino tem uma imensa parcela de marcas e empresas que ainda hoje, mais de um século depois do início dessa luta, ainda são incapazes de valorizar a mão de obra feminina.
O Dia Internacional da Mulher, como é conhecido hoje, foi homologado pela Organização das Nações Unidas em 1975, mas seria um erro reduzi-lo a uma data comemorativa ou uma efeméride como qualquer outra. A maioria das datas comemorativas que temos hoje foi criada a partir da necessidade do comércio de incentivar o consumo.
Se pudéssemos traçar uma linha do tempo com todos os acontecimentos que culminaram na criação de um dia destinado ao feminino, certamente teríamos que voltar muito mais do que um século.
Um dos mais tristes episódios que remetem a esse dia envolve a moda, uma indústria que, ainda hoje, esconde aspectos tristes de falta de valorização da força de trabalho feminina. No dia 25 de março de 1911, um incêndio na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York, matou mais de uma centena de mulheres que trabalhavam na fábrica, expondo um dos grandes problemas advindos da Revolução Industrial.
Em sua maioria, as funcionárias da empresa eram mulheres imigrantes, que trabalhavam em condições precárias costurando peças de roupa sendo pagas com salários inaceitáveis.
As condições de trabalho — tecidos inflamáveis, falta de extintor de incêndio, entre outros problemas relatados à época — já eram conhecidos e a precariedade não era restrita a esses empregados específicos, por isso o incêndio foi um marco tão forte. Mas remontando a história, anos antes, em 1909, uma grande passeata ocorrida no dia 26 de fevereiro na mesma cidade já dava início a essa que é uma luta sem fim.
Nesse dia, cerca de 15 mil trabalhadoras marcharam nas ruas pedindo justiça — naquele tempo, as jornadas de trabalho poderiam chegar a 16 horas por dia, entre seis e sete dias por semana. Ao mesmo tempo, a Europa também via crescer o movimento feminino em suas fábricas.
A questão nunca foi ter uma data específica, e sim uma grande movimentação da sociedade em relação às mulheres, que tinham situações ainda muito mais diferentes do que homens do que a discrepância que temos hoje, é claro.
E é sobre esse avanço a passos curtos que eu convido a quem me lê a pensar. Décadas depois de instituído o Dia Internacional da Mulher, ele ainda é um dia em que as pessoas se preocupam com flores e não com o que realmente importa.
Equidade salarial, igualmente no tratamento, a liberdade de julgamentos e o fim do hábito irritante de achar que todas as mulheres são iguais e, por isso, têm os mesmos sonhos e desejos é o que queremos.
Queremos respeito, mais do que flores. Queremos ser reconhecidas, mais do que elogios. Queremos saber que o mundo sabe da nossa capacidade. Nossos desejos e sonhos não são tão diferentes dos homens — apenas temos que lidar com o fato de que, em muitos casos, para nós será tudo mais difícil, simplesmente porque nascemos mulheres.
Ser mulher é ser forte. É ser o único caminho para chegar ao planeta. É ser completa. É ter em si tudo o que é necessário para seguir em frente. Hoje é um dia de relembrar e agradecer por todos os sacrifícios que outras mulheres fizeram antes de nós, honrar a luta de tantas que já passaram pelo mundo e que nos permitem estar onde hoje estamos.
Que estejamos, cada um em seu papel, fazendo o possível para deixar o mundo ainda melhor para as próximas gerações de mulheres. É o mínimo que podemos fazer para honrar a luta de quem está nessa há muito tempo — e que não deixa o desânimo abater. Afinal, mulheres. Podemos o que quisermos e muito mais.
*Emannuelle Junqueira é diretora criativa da marca que leva seu nome, designer, empreendedora e apresentadora do Prova de Noiva no Discovery H&H
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