E-mail a Garcia
Autonomia e iniciativa só podem aparecer em ambientes que oferecem confiança e liberdade de movimento
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2021 às 19h10.
Última atualização em 10 de junho de 2021 às 17h43.
Por Rodrigo Pinotti*
Mensagem a Garcia é ainda hoje, 120 anos após sua publicação, usado como uma espécie de livro-texto da autoajuda corporativa. Libelo em defesa da autonomia e da iniciativa no ambiente de trabalho, teve entre 40 milhões e 250 milhões de cópias distribuídas pelo mundo, a depender do humor da fonte, e menciona a bravura do soldado Rowan, que atravessou uma Cuba conflagrada para entregar uma carta para que o General Garcia pudesse ganhar a guerra contra a Espanha.
Ao que consta, Rowan não sabia exatamente onde Garcia estava, ou mesmo se estava vivo, mas concentrou-se em sua missão. Usou, para isso, toda sua habilidade, capacidade de execução e foco. É o que se pede a qualquer funcionário, em qualquer empresa: para que o negócio possa prosperar, é preciso que os membros da equipe apliquem tudo o que têm a oferecer e se importem com o resultado final.
O que é pouco dito é que, para que haja de fato um compromisso na execução, é necessária uma boa dose de confiança de quem emana a ordem. Diz o texto que foi o próprio presidente dos EUA quem incumbiu Rowan de levar a carta, mas nada consta a respeito de algum presidente se aventurando ao lado de Rowan nas selvas de Cuba, cobrando a entrega da carta. Se você pede algo a Rowan, é preciso confiar em Rowan, afinal.
Você certamente conhece algum chefe que também atua como fiscal de relógio de ponto. Antes da pandemia, cinco minutos de atraso no horário de trabalho eram cobrados enfaticamente. Como gestor, eu sempre preferi cobrar pelas entregas e resultados, que, a meu ver, demonstram mais comprometimento do que alguém que apenas cumpre aquelas oito horas diárias. Eu preciso que Rowan entregue a carta do jeito mais eficiente, não importando se ele se move durante o dia ou à noite. Liberdade de execução, com a qualidade esperada, é fundamental, principalmente em atividades que envolvem desenvolvimento criativo.
A pandemia tornou o home office uma necessidade real, e o que aconteceu na maioria das empresas com equipes trabalhando de casa? A produtividade subiu, sem ninguém batendo ponto, e todos continuamos aqui entregando e-mails ao General Garcia todos os dias, ganhando a guerra contra as dificuldades que a pandemia impõe.
Foi um teste forçado de um modelo verdadeiramente focado nas entregas – e ele funcionou. Quem era contra o home office, porque não confiava na sua própria equipe, foi vencido pela realidade. Oras, se você não confia no seu time, das duas uma: ou sua equipe não é boa, ou você é que não é um bom gestor.
Precisamos agora dobrar essa aposta. Uma das principais vantagens do trabalho remoto é poder formar equipes com expertises diferentes com muito mais eficiência e rapidez, o que é essencial em projetos complexos. Ficou mais fácil fazer um squad, para usar um termo da moda. Pensando nisso, será necessário ter uma equipe fixa, ou profissionais podem trabalhar para empregadores diferentes, aplicando suas habilidades onde forem necessárias e sendo remunerados por isso, trabalhando no horário em que bem entenderem? É claro que o trabalho free-lance já existe, mas como fica a legislação trabalhista?
Nada disso será feito sem autonomia e iniciativa, que só podem aparecer em ambientes que oferecem confiança e liberdade de movimento. Garcia, Rowan e o presidente dos EUA agradecem.
*Rodrigo Pinottié sócio-diretor da FSB Comunicação
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