Diversidade e ESG: políticas precisam ir além da superfície
Webinar da Bússola debateu a importância de ações afirmativas para o crescimento e fortalecimento das empresas alinhadas com as pautas atuais
Bússola
Publicado em 30 de junho de 2022 às 15h15.
Desde que a sigla ESG ganhou notoriedade para empresas e impacto nos indicadores de boa governança e desenvolvimento dos negócios, o mundo corporativo passou a olhar com mais atenção para questões que vão além do papel da maximização dos lucros. Discussões sobre diversidade e inclusão ganharam o seu devido holofote e iniciaram um intenso debate por mais pluralidade e representatividade nas empresas.
Números do IBGE apontam que a população brasileira é composta por 52% de mulheres e 56% de pessoas pretas e pardas, mas ocupam respectivamente apenas 37,4% e 29,5% respectivamente dos cargos gerencias nas companhias. Além da desvantagem nas posições de liderança, também ganham menos. As mulheres negras, por exemplo, recebem em média uma remuneração 55% inferior à dos homens brancos. Outros grupos minoritários como da comunidade LGBTQIAP+, PCDs e pessoas com idades mais avançadas também enfrentam discriminação tanto no mercado de trabalho quanto na sociedade.
Um ambiente de trabalho mais diverso torna as empresas mais inovadoras por conta da pluralidade de seus colaboradores com diferentes origens, experiências e histórias de vida, impactando também na captação de novos talentos. E garantir que a inclusão seja efetiva e verdadeira é preciso assegurar essa proporcionalidade em todos os níveis hierárquicos, principalmente nos cargos de liderança e com poder de tomada de decisões.
Esses foram alguns dos temas discutidos na live da última quarta-feira, 29, sobre diversidade nas empresas que reuniu: Márcia Silveira, head de Diversidade, Equidade & Inclusão da L’Oréal Brasil; Daniela Dall’Acqua, diretora de Recursos Humanos da MetLife Brasil; Cintia Drehmer, diretora de Recursos Humanos e Sustentabilidade da Viveo; e Cibelle Linero, sócia da área trabalhista do BMA Advogados.
Segundo Márcia Silveira, da L’Oréal Brasil, o RH tem um papel fundamental e extremamente estratégico nessa causa, mas à medida que avança, ela tem de permear toda a organização, por diversos pontos. Para que realmente haja um segundo ponto que é a inclusão e que aconteça no final a equidade em todos os pontos. A gente precisa ter todas as áreas da operação, da empresa com esse mesmo mindset. Porque senão acontece uma falha no processo.
"A gente tem um propósito muito forte de Criar a Beleza que Move o Mundo, e esta beleza realmente precisa ser mais diversa, inclusiva, super pautada na inovação. Por isso que a gente tem Diversidade e Inclusão como temas prioritários, para que a gente possa refletir tanto a população interna aqui da L'Oréal quanto externa, para quem a gente serve. Temos o olhar focado sempre para pessoas, inovações por meio das marcas e das divisões, comunicação e protagonismo social, como a gente interage nesse formato de diversidade de dentro pra fora", pontua.
Para Daniela Dall’Acqua, da MetLife Brasil, embora o RH tenha um papel fundamental, a diversidade, equidade e inclusão permeiam toda a empresa e por isso o papel dos comitês é fundamental. “Aqui na MetLife, começamos com ações que eram muito simples e que eram pequenas, como disponibilizar uma sala de aleitamento materno para nossas colaboradoras. Ao longo do tempo fomos evoluindo com outras ações, como por exemplo, nas nossas políticas de promoção interna”, exemplifica. Daniela acrescenta ainda que na MetLife, precisam ter pessoas diversas entre os finalistas de todos os processos seletivos e é mandatório que o painel de recrutadores também seja diverso, para evitar vieses inconscientes na hora da seleção.
Diretora da Viveo, Cintia Drehmer, destaca a importância das empresas se posicionarem diante do cenário atual com inúmeros feminicídios, crimes de homofobia e violência. “A Viveo vem com o propósito de cuidar de cada vida, de maneira única, acreditamos que as individualidades são complementares e nos tornam ainda mais fortes enquanto empresa e sociedade. Em 2021, foi criada a estrutura do Comitê IDEM – órgão de assessoramento ao Conselho de Administração e Diretoria para assuntos relacionados à Diversidade e Inclusão (D&I). Esse comitê acaba fluindo dentro da organização conectando as ações de D&I à estratégia de Sustentabilidade da Viveo”.
Legislação brasileira já garante direitos, mas é preciso fiscalização
Cibelle Linero, sdo BMA Advogados, ressalta que a temática da não descriminação não é nova e ela já é debatida desde 1948, quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) - garantindo direitos e liberdade dos indivíduos independente de raça, orientação sexo e religiosa ou origem social; e na convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1958. “Especificamente no Brasil, a Constituição Federal de 1988, traz claramente a proteção contra o preconceito e discriminação tanto na sociedade quanto no ambiente de trabalho. Este é um debate antigo que já existe legislação a respeito, mas é preciso também uma fiscalização para manutenção desses direitos”, destaca a sócia.
Cibelle aponta ainda que o BMA Advogados segue trabalhando em prol de agendas afirmativas e ações de equidade e diversidade. No escritório, atualmente, as mulheres representam 58% dos seus integrantes e além disso, entre os sócios, elas são 41% e com poder de decisão nos movimentos estratégicos. O escritório também aderiu aos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU Mulheres e pela iniciativa Pacto Global, firmaram uma parceria com o selo Women on Board, o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, a Aliança Jurídica pela Equidade Racial e o Incluir Direito.
Práticas ESG na definição de estratégias e avaliação de resultados
Esses três princípios têm orientado empresários e tomadores de decisão tanto na definição de estratégias das companhias e também influenciado a escolha de investidores e consumidores. E um dos pilares dessa agenda é justamente a diversidade. O impacto da pandemia da COVID-19 exigiu respostas coletivas e empáticas num cenário desafiador, mas abrindo espaço para ampliar o debate sobre a diversidade nas empresas.
Para Márcia Silveira, uma agenda ESG desse porte, com a tamanha proporção que está tomando em discussão na sociedade, quando é implementada superficialmente, ela realmente não se sustenta. “Transparência e compromisso são as palavras que a L'Oréal tem como chave para ter essa jornada extra financeira suportada. Essa jornada hoje é tão importante quanto a jornada financeira e ela é também auditada", acrescenta.
“O compromisso é de todos os nossos colaboradores, de toda a sociedade, que todos abracem esta causa e entendam que nada deve ser visto como mimimi. Temos que praticar uma escuta ativa, é isso que a gente prega. Precisamos entender que é fundamental ter a escuta ativa, trazer todos para o mesmo barco, para a mesma página”, diz Daniela Dall´Acqua.
Para Cintia Drehmer, o processo de inclusão e diversidade, atrelado ao programa de sustentabilidade, se estende por toda a cadeia de saúde, que a empresa está inserida, desde os produtos oferecidos pela companhia aos clientes. “Isso começa com o programa de parceiros que desenvolvemos e assegura o respeito aos direitos humanos e faz parte da nossa política de contratação de fornecedores”.
Cibelle Linero conclui reafirmando a importância das pautas ESGs para que as empresas reflitam sobre o seu papel social, levando, principalmente, em consideração o Social desta sigla. “Cada vez mais, teremos exigências para as políticas de medicina e segurança do trabalho que vinham sendo negligenciadas para a manutenção do compliance das empresas e de uma boa governança corporativa’, conclui.
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