Como na cozinha, o bom alimento exige um processo de aprendizado (Disney/Pixar/Reprodução)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 7 de março de 2023 às 20h45.
Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h51.
Dia desses colocamos o filme Ratatouille para as crianças assistirem. Devo estar em uma fase especialmente sensível, pois tenho visto lições e analogias em tudo. No caso, fiquei dias pensando sobre o ensinamento mais marcante do chef Gusteau, mentor do rato cozinheiro que protagoniza a animação: “qualquer um pode cozinhar”.
Essa é uma ideia que permeia toda a história. Do filme e da humanidade, em algum sentido. Ela trata de acesso, mobilidade e múltiplas possibilidades. Em outro momento, Gusteau aconselha: “não deixe ninguém definir seus limites com base no lugar de onde você veio”. Mas esta ainda é uma coluna sobre sustentabilidade, portanto aterrizo a divagação para dizer que assim como na cozinha, qualquer um pode cuidar de temas ESG, independente de sua origem ou condição. Mas isso não significa que qualquer um deva fazer isso. Explico.
Há um complemento na máxima do chef Gusteau: “qualquer um pode cozinhar, mas só os destemidos serão notáveis”. É neste ponto que a gestão ESG se encontra com o filme de animação sobre gastronomia. Uma das perguntas mais frequentes que recebo é sobre que área deve ser responsável pela agenda ESG dentro de uma organização. As alternativas possíveis são muitas: comunicação, pessoas, finanças, jurídico, operações, entre outras. Além disso, discute-se se é melhor criar áreas dedicadas, comitês transversais ou outras estruturas de governança. Para escapar de respostas definitivas, costumo dizer que a melhor escolha depende do perfil de cada organização, mas que a princípio qualquer um pode cuidar do tema, desde que tenha legitimidade, capacidade técnica e disposição para isso.
O conhecimento necessário para mitigar riscos e estabelecer os primeiros passos de uma estratégia de sustentabilidade está disponível e pode ser acessado por qualquer pessoa dentro de uma organização. Mas para esse esforço se transformar em impacto e resultados tangíveis, é necessário algo a mais. Na verdade, uma lista de “algos” a mais.
A primeira delas é o patrocínio de quem tem poder de decisão. Como bem notou o personagem Anton Ego, um crítico gastronômico altamente exigente que tem papel chave no filme, “o mundo não costuma ser gentil com novos talentos e novas criações. O novo precisa de amigos”. Apesar de toda a conversa recente em torno do tema e de ser um aspecto antigo na história política e social, a sustentabilidade ainda é um aspecto “novo” para muitos gestores empresariais. Portanto, pode ser alvo de resistências que precisam ser desfeitas para resolver a questão da legitimidade interna.
Adicionalmente, é preciso estabelecer disposição e capacidade técnica. Por lidar com um tema transversal, complexo e em constante mudança, as pessoas que atuam com ESG devem estudar, se aprofundar em aspectos técnicos e desenvolver capacidade de mobilização e engajamento. E fazer isso constantemente, como parte de uma jornada de engajamento de stakeholders e melhoria e aprendizagem contínua. Em outras palavras, qualquer pessoa (ou área) pode “cozinhar” o ESG e entregar um prato recheado de sustentabilidade, mas isso não é para qualquer um. Como na cozinha, não há milagres: o bom alimento exige um processo de aprendizado, testes e desenvolvimento.
Afinal, como ensina a crônica de Anton Ego que encerra o filme, “Nem todos podem se tornar grandes artistas, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar”.
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