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Danilo Maeda: A sociedade é racista – e eu sou parte do problema

Nós brancos somos parte do problema, de forma ativa, como os covardes agressores; por conivência, ou por omissão

Vivemos em uma sociedade global racista (Vini Jr/Rede Social/Reprodução)

Vivemos em uma sociedade global racista (Vini Jr/Rede Social/Reprodução)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 23 de maio de 2023 às 19h20.

Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h40.

Zumbi, Rosa Parks, George Floyd, Vinicius Jr. A lista pode seguir com muitos outros nomes, que mesmo sem contexto denunciam um dos traços mais cruéis das culturas ditas civilizadas. Vivemos em uma sociedade global racista. Mais que isso, fazemos parte de uma sociedade racista. Somos estruturalmente racistas. Somos individualmente racistas, sempre que não agimos consciente e ativamente para combater tais estruturas.

A esse ponto, já deveria estar evidente: nós brancos somos parte do problema. De forma ativa, como os covardes agressores que entoam cantos racistas em estádios de futebol; por conivência, como quem relativiza crimes em nome da liberdade de expressão ou da “cultura” (como se essa existisse de forma autônoma e não pudesse evoluir junto da sociedade); ou por omissão, quando nos calamos diante das injustiças ou nos beneficiamos de estruturas que segregam e oferecem oportunidades distribuídas de forma desigual.

O que diz a ONU sobre o combate ao racismo?

Mais do que retórica de conscientização, esse é um fato. Há alguns meses, por exemplo, neste mesmo espaço, tratamos do baixo ritmo de progresso no combate ao racismo estrutural, como mostrou um relatório sobre o tema divulgado pela ONU. Foram analisadas iniciativas locais, nacionais, regionais e internacionais em quatro grandes frentes: 1. Reversão da cultura de negação, desmantelamento do racismo sistêmico e aceleração do ritmo de ação; 2. Combate à impunidade por violações de direitos humanos por agentes da lei, déficits de confiança e fortalecimento da supervisão institucional; 3. Garantir que as vozes dos afrodescendentes e daqueles que se opõem ao racismo sejam ouvidas e suas preocupações sejam atendidas; e 4. Confrontar dívidas históricas, inclusive por meio de reparação.

A conclusão é que apesar de algum esforço, o resultado tem sido pouco efetivo. Segundo o relatório, “a necessidade de abordagens abrangentes baseadas em evidências para lidar com injustiças históricas e suas manifestações contemporâneas é mais evidente que nunca. Essas abordagens holísticas devem ser fundamentadas em análises intergeracionais e que tratem o racismo sistêmico, incluindo fatores estruturais e institucionais, nas instituições do Estado, no setor privado e nas estruturas sociais em várias áreas interconectadas”.

Em outras palavras, se o problema está presente em todos os aspectos da vida (como bem sabemos), ele também precisa ser combatido em todos os ambientes e por todos os agentes sociais. Inclusive por cada um de nós, como cidadãos e cidadãs com vieses inconscientes e poder de decisão e de ação. Os posts de indignação e apoio a vítimas de racismo são importantes, mas devem ser acompanhados de ações efetivas. Que não dependem apenas de políticas públicas ou decisões corporativas do alto escalão. Até porque essas são em grande parte pautadas pela pressão social, que qualquer pessoa pode exercer em alguma medida.

O  relatório da ONU recomenda que os Estados intensifiquem a implementação das 20 ações da agenda para uma mudança transformadora para a justiça e igualdade racial. Algumas delas estão a nosso alcance: Responder ao comportamento racista, à violência e aos crimes de ódio com toda a força da lei e o poder da liderança, inclusive denunciando e responsabilizando quem comete racismo; Reconhecer as contribuições passadas e atuais de indivíduos e organizações que enfrentam o racismo e encorajar e apoiar a solidariedade entre os movimentos de igualdade;

Assegurar o pleno respeito pelos direitos à liberdade de expressão e de reunião pacífica, e reconhecer o direito ao protesto pacífico como forma de efetuar mudanças; Proteger a segurança e os direitos dos organizadores, participantes, observadores e jornalistas em protestos, com atenção especial aos membros de grupos que são ou foram alvo de discriminação racial; Reconhecer que a verdade, a justiça e as reparações no que diz respeito à escravização, o comércio transatlântico de africanos escravizados e o colonialismo e seus legados contribuem para a não recorrência e a reconciliação e beneficiam toda a sociedade.

A sociedade está doente de racismo e somos parte do problema. Mas podemos – devemos, na verdade – ser parte da solução. O antirracismo tem que ser uma atitude diária, também fora das datas de luta e dos períodos em que casos emblemáticos são discutidos pela sociedade. A começar por mim.

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