COP26: O evento será um marco histórico?
Conferência de Glasgow poderá ser um ponto de inflexão especialmente pelo que vier após o evento
Bússola
Publicado em 26 de outubro de 2021 às 13h14.
Última atualização em 26 de outubro de 2021 às 13h19.
Por Danilo Maeda*
Estamos às vésperas de uma das mais esperadas Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a Conferência de Glasgow, ou COP26. No evento será feita a primeira grande revisão e atualização dos compromissos assumidos no Acordo de Paris (ou Acordo do Clima), assinado em 2015 com objetivo de limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 ºC até 2050 e disponibilizar recursos para essa meta.
O momento para assumir metas mais ambiciosas é bastante oportuno. Há poucas semanas foi divulgado o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com algumas conclusões preocupantes: o aquecimento global decorrente das emissões de gases de efeito estufa (GEE) já produziu efeitos irreversíveis; as mudanças climáticas recentes não têm precedentes e estão diretamente relacionadas com o aumento na frequência de eventos climáticos extremos; para mitigar o ciclo de aquecimento, é preciso que o planeta atinja urgentemente a neutralidade em emissões de carbono e reduza drasticamente as emissões de outros GEE.
Como se vê, a COP26 alia uma função de relevância estratégica para a implementação do Acordo do Clima com a tempestividade de acontecer em um momento no qual fica clara a urgência do longo prazo. Por isso, há expectativa de que as negociações levem a avanços históricos em pautas como a regulação do artigo seis do Acordo de Paris, sobre mercado de carbono — que pode ser uma grande oportunidade para o Brasil, caso o país avance especialmente no combate ao desmatamento ilegal, outro tema que estará sob os holofotes e sobre o qual espera-se avanços.
Além disso, são aguardados anúncios de ambições climáticas mais amplas, considerando a urgência do tema e as oportunidades que a agenda de desenvolvimento sustentável traz consigo. Estima-se, por exemplo, que pelo menos 30 trilhões de dólares em ativos estão hoje sob gestão de fundos que apenas aplicam seus recursos em negócios e empresas com práticas sustentáveis e que o atingimento dos ODS geraria ao menos 12 trilhões de dólares em novos negócios apenas nas áreas de alimentação/agricultura, cidades, energia/materiais e saúde/bem-estar.
Outro tema relevante para os debates é o financiamento para toda essa transformação. Segundo o estudo da GEO Seis, seria possível enfrentar desafios como mudanças climáticas, escassez hídrica e perda de biodiversidade com um investimento de cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Pode parecer relativamente pouco, mas certamente não é desprezível, especialmente considerando a desigualdade na distribuição de riquezas em todo o planeta.
Mas além dos debates em si, a COP26 poderá ser histórica especialmente pelo que vier após sua realização. Temas hoje vistos como de fronteira, destinados apenas aos países ou empresas que lideram a discussão, precisarão ganhar tração e amplitude. Ainda não foram inventadas todas as soluções necessárias para evitar catástrofes cujo custo social, ambiental e econômico é gigantesco. Essas inovações escaláveis e de alto impacto positivo são chamadas “cisnes verdes” e estão na base da economia regenerativa. No estado atual das coisas, não basta não causar dano. É preciso gerar impacto socioambiental positivo, com grande alcance e sem efeitos colaterais.
Para a COP 26 ser de fato histórica pelo impacto no mundo corporativo, outros temas que podem — devem — ganhar relevância são o engajamento em políticas públicas, a responsabilidade tributária e fiscal, o combate às desigualdades sistêmicas, a defesa da democracia e as estratégias de contenção de danos para a parte já irreversível das mudanças climáticas, entre outros.
Há uma janela curta para decisões que impactarão diretamente a disponibilidade de recursos para futuras gerações. Nesse sentido, a COP26 pode ser histórica. Mas caso os 12 dias de conversas e negociações entre alguns dos principais líderes políticos do mundo não sejam seguidos por ação concreta, Greta Thunberg e sua geração continuarão certas a reclamar de nosso blá blá blá.
*Danilo Maedaé head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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