Em estruturas enxutas, nas quais 88,2% das empresas têm até 20 colaboradores, qualquer desalinhamento se torna imediatamente crítico (Thinkstock/Thinkstock)
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Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 07h00.
Última atualização em 15 de dezembro de 2025 às 14h49.
O ecossistema brasileiro de startups enfrenta um desafio: ele cresce mais rápido do que sua capacidade de contratar e reter profissionais qualificados.
Apesar de o faturamento médio ter alcançado R$ 736 mil em 2025 e de o país registrar 3650 startups ativas em 424 cidades, a escassez de talentos e a retenção deles devido ao desalinhamento cultural continuam sendo os maiores gargalos do setor.
O novo Mapeamento do Ecossistema de Startups da Abstartups revela que 40,1% das empresas não conseguiram preencher vagas neste ano porque os candidatos não tinham as habilidades exigidas.
A incompatibilidade cultural foi o principal motivo de demissões em 2024, responsável por 44,7% das saídas, superando reestruturações internas e cortes orçamentários.
Em estruturas enxutas, nas quais 88,2% das empresas têm até 20 colaboradores, qualquer desalinhamento se torna imediatamente crítico. A cultura, mais do que um conceito abstrato, passa a ser um mecanismo real de eficiência e sobrevivência.
Embora o Sudeste ainda concentre a maior parte das startups (60,2%), regiões como Nordeste e Norte avançam acima da média nacional.
A pluralidade também se reflete nos modelos de negócio:
Nas verticais, soluções de saúde e life science ganharam força e assumiram a segunda posição do ranking, refletindo a corrida por tecnologias capazes de responder a demandas estruturais do país.
No financiamento, o cenário segue marcado pela forte dependência de capital local. Para 68,5% das startups, o investimento veio da própria cidade ou estado, sobretudo de investidores-anjo.
Programas de aceleração e aportes de familiares ou amigos completam o quadro. Já o capital internacional, apesar de uma leve alta, permanece quase irrelevante:
A diversidade avança, mas ainda de forma lenta. Mulheres representam 19,9% dos fundadores e pessoas negras, 24,3%. A maioria dos líderes está na faixa entre 31 e 50 anos, indicando um setor mais experiente, mas ainda distante de refletir a pluralidade demográfica do país.
A escassez de mão de obra qualificada, somada à alta sensibilidade cultural das equipes, tem levado startups a repensarem suas estratégias de atração e retenção.
Segundo Andre Purri, CEO da HRTech Alymente, essa reorganização passa necessariamente por benefícios corporativos mais flexíveis e adaptáveis ao perfil do trabalhador.
“Startups crescem em ciclos intensos e exigem pessoas altamente alinhadas. Benefícios flexíveis ajudam a equilibrar essa equação, oferecendo ao colaborador autonomia para montar o pacote que faz sentido para sua realidade. Em um mercado competitivo, isso se tornou decisivo para contratar e, principalmente, para manter bons profissionais”, diz.
A fotografia final é a de um ecossistema mais maduro, distribuído e financeiramente mais robusto, mas ainda limitado por lacunas de formação profissional, dificuldades de retenção e pouca inserção em mercados estratégicos, como o setor público e o investimento estrangeiro.
O próximo salto — mais qualitativo do que quantitativo — depende da capacidade das startups de construir times sustentáveis, atrativos e estruturados o bastante para acompanhar a velocidade que o próprio ecossistema impôs a si mesmo.