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Chegamos à era do trabalho flexível. Você está pronto? Veja as dicas

Trabalho flexível é uma ferramenta poderosa de incremento de produtividade alinhado à qualidade de vida, mas exige esforço e maturidade

71% das empresas já decidiram por uma forma flexível de trabalho (Charday Penn/Getty Images)

71% das empresas já decidiram por uma forma flexível de trabalho (Charday Penn/Getty Images)

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Publicado em 3 de novembro de 2021 às 11h00.

Por Geraldo Korpaliski Filho*

Bem-vindos à era do trabalho flexível.

Provavelmente você teve que aderir ao trabalho remoto por conta da pandemia e agora está, como muitos, migrando para o modelo definitivo de “trabalho flexível”. Pesquisa do Google revela que 71% das empresas já decidiram por uma forma flexível de trabalho e 78% das que ainda não o fizeram, acreditam que adotarão um modelo flexível/híbrido “pós-pandemia”.

Mas, afinal, o que é o trabalho flexível?

Podemos resumir como um formato que relativiza algumas regras tradicionais do contrato de emprego, especialmente com relação à disponibilidade (tempo) e local de prestação de serviços.

É uma mudança de paradigma onde passa-se a remunerar e controlar o trabalho por entregas, competências e resultados, e não mais por quantidade de tempo. Ou seja, não importa mais em qual turno, em quais dias ou em qual horário a pessoa vai trabalhar, desde que o trabalho seja feito. Da mesma forma, não importa se você vai trabalhar de casa, da praia ou até mesmo de outro país. Você que decide.

As empresas que se destacaram nos últimos anos, especialmente no setor de tecnologia, têm em comum um alto nível de flexibilidade. O modelo tornou-se objeto de desejo e um grande diferencial para reter ou atrair talentos. A PWC, por exemplo, anunciou recentemente a sua política de “Work-Anywhere” para todos os seus 55 mil empregados no mundo inteiro.

Mesmo assim, responder aquele e-mail do chefe às quatro da tarde dizendo que você está na academia, sem se sentir culpado — e sem que ele se sinta desrespeitado — ainda é para poucos. Melhor não arriscar.

Isso porque não estamos acostumados com a flexibilidade. O modelo com hierarquia, horário fixo e supervisão local, foi o único por séculos. A maioria das organizações não está preparada para a mudança.

Simplesmente mandar as pessoas para casa e exigir que trabalhem mais sem cumprimento de uma jornada fixa (leia-se, sem pagamento de horas extras), não é flexibilidade. Se você pensa assim, infelizmente entendeu tudo errado. Trabalho flexível não é uma ferramenta para sobrecarregar as pessoas a um custo menor. É uma ferramenta poderosa de incremento de produtividade alinhado à qualidade de vida. Contudo, exige muito esforço e maturidade.

Seguem abaixo algumas dicas do que pode ser feito para não errar no processo:

Não tenha pressa. O mundo está muito rápido e a sensação de que você vai ficar para trás é constante. Mas, mesmo assim, antes de adotar uma forma flexível de trabalho, avalie bem o tema. Líderes devem olhar para suas realidades e se perguntar qual tipo de flexibilidade pode funcionar. Estude exemplos. Converse com quem já está no modelo a mais tempo. Será que minha empresa comporta um alto nível de flexibilidade? Eu preciso de pessoas disponíveis 100% do tempo? Quais atividades precisam ser desenvolvidas presencialmente? Como vou controlar os resultados a distância? Quais equipes/setores tem um perfil que se encaixa melhor para ser o ponto de partida para início da mudança?

Diálogo é importante. Flexibilidade imposta de cima para baixo tem tudo para dar errado. Envolva as pessoas no processo. Quais as dificuldades e oportunidades que cada um identifica na mudança de modelo, sob uma perspectiva individual? Tudo isso faz parte do aprendizado de cada equipe e deve ser objeto de constante alteração e adaptação.

Flexibilidade precisa de regras. Liberdade exige responsabilidade e algumas regras precisam ser estabelecidas, especialmente para modelos de transição e mudança de cultura. Até mesmo a Netflix — conhecida pelo slogan empresarial “a regra é não ter regras” —, possui diretrizes para que seus empregados estejam alinhados à cultura da empresa e possam agir com autonomia.

O conceito de “flexibilidade” deve estar claro para que todos saibam o que se espera de cada um. Nada de muitos detalhes e burocracia, caso contrário, caímos na armadilha da “flexibilidade inflexível”, onde as pessoas têm hora, dia e forma certa de trabalhar “como quiserem”. Contudo, é preciso orientação para não gerar ansiedade e desentendimentos.

Em algumas empresas as equipes de trabalho definem um “core time” onde todos estarão disponíveis para colaborar. Pode ser um horário determinado, por exemplo, todos os dias das 13h às 15h. Ou até mesmo um dia específico: todas às quintas-feiras no horário comercial. Esse tipo de combinação evita desencontros e atritos de comunicação.

A Delta, empresa aérea dos EUA, permite aos seus empregados definirem suas próprias escalas de trabalho através de um aplicativo onde podem escolher os dias, trocar folgas, entre outras coisas. Esse é um exemplo bacana de flexibilidade aplicada à realidade da empresa. Você não precisa de uma mudança radical. Comece por pequenas adaptações que se adequam ao seu negócio.

Não tem jeito, o trabalho flexível veio para ficar. É uma demanda dos novos tempos e das novas gerações. Precisamos agora amadurecer e discutir o assunto para que a verdadeira flexibilidade, que permite um ganho incrível de produtividade e qualidade de vida, deixe de ser a realidade de poucos.  

*Geraldo Korpaliski Filho é sócio da área Trabalhista do escritório Souto Correa

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