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Opinião: Brasil está na dianteira da transição energética justa

País une tecnologia agrícola e recursos naturais para protagonizar a transição energética após a COP30

O Brasil possui tecnologia agrícola de ponta e recursos naturais abundantes

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Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 10h00.

Por Marcelo Lyra*

Quem acompanha as conferências de clima percebeu uma mudança clara na edição de Belém. A COP30 deixou de ser um encontro de intenções e projeções distantes e passou a exigir implementação e resultados com impactos reais.

Essa transformação faz o Brasil se tornar ainda mais relevante na discussão sobre a transição energética. Nossos biocombustíveis ocupam, agora, um espaço definitivo na nova economia de baixo carbono.

O fim da neutralidade teórica

A COP30 deixou evidente que, em setores cruciais, a mudança é urgente e mandatória. Na aviação, no transporte pesado e em cadeias industriais, não existe uma neutralidade de carbono sem combustíveis sustentáveis e sem bioenergia.

Nesse desafio, sempre faço questão de ressaltar o quanto nosso país tem características únicas. Temos terras degradadas que podem ser recuperadas, sol e água em abundância.

Além disso, possuímos tecnologia agrícola entre as melhores do planeta e uma experiência histórica em produzir energia renovável de forma eficiente. A combinação desses fatores cria algo que poucos países conseguem oferecer: uma plataforma real de competitividade para projetos de biocombustíveis.

Interesse global e capital

Por isso, dentro e fora da COP, é perceptível o interesse de bancos multilaterais e investidores globais. Instituições financeiras buscam iniciativas brasileiras que unam ciência, impacto socioambiental, escalabilidade e boa governança.

Mesmo com oscilações geopolíticas que mudam ritmos e prioridades, a direção geral não sofre alterações. O mundo caminha para uma matriz mais limpa e os biocombustíveis terão papel central nessa transição.

Do conceito à prática no campo

Em todas as minhas conversas, sejam institucionais ou informais, sempre pontuo uma questão crucial sobre a transição energética justa. Ela ainda é um conceito muito repetido, mas pouco traduzido em realidade.

Não tenho receio de afirmar que o Brasil tem tudo para preencher essa lacuna ao abraçar um movimento que começa no campo, com quem produz. Estamos falando de criar alternativas econômicas para pequenos agricultores e impulsionar projetos que irão mudar o IDH das localidades.

Por isso, ações que envolvem a agricultura familiar, como programas de inclusão produtiva e desenvolvimento rural sustentável, têm tanta relevância. Programas voltados aos pequenos e médios produtores são essenciais nesse contexto.

Os agricultores devem receber suporte técnico para implementar cultivos sustentáveis, gerando renda. Isso fortalece comunidades locais e promove a recuperação de áreas degradadas.

Soluções mensuráveis e inovação

Quando olho para esse cenário, noto que os projetos que mais chamaram atenção na COP30 têm um ponto em comum. Eles já estão em andamento e são capazes de entregar resultados mensuráveis.

Modelos inovadores de produção de biocombustíveis a partir da macaúba, por exemplo, ilustram esse potencial. Essa planta nativa brasileira de alto poder energético não compete com a produção de alimentos e tem potencial para recuperar áreas degradadas.

Unir pesquisa, tecnologia agrícola e escala industrial é exatamente o tipo de solução que o mundo exige.

A pressão internacional pelo SAF

E quando o assunto é exigência, não posso terminar esse artigo sem abordar a pressão internacional pelo SAF (combustível sustentável para aviação). Segundo a International Air Transport Association (IATA), a indústria da aviação precisará de volumes gigantescos de SAF.

Serão necessárias cerca de 500 milhões de toneladas por ano até 2050 para atingir a meta de neutralidade de carbono. Nesse contexto, as companhias buscam por fornecedores confiáveis, com base produtiva sólida e capacidade de entrega.

É fundamental que as matérias-primas sejam rastreadas e sustentáveis. Os Estados Unidos e a Europa aceleram suas regulamentações, enquanto mercados emergentes buscam opções viáveis para cumprir compromissos climáticos.

O dever de casa

Nessa corrida contra o tempo, precisamos criar um ambiente capaz de atrair investimentos de longo prazo. É necessário avançar marcos regulatórios, ampliar o acesso à inovação e integrar políticas públicas com iniciativas privadas.

Uma COP em terras verdes e amarelas corrobora para o Brasil ser peça-chave da transição energética global. Isso também traz responsabilidade e coragem para assumir a dianteira.

Finalizando, me recordo de uma frase de João Ubaldo Ribeiro, meu conterrâneo baiano: “A vida devia ser duas, uma para ensaiar e outra para viver a sério. Quando a gente aprende, é hora de ir”.

Na verdade, é um lema que sintetiza esse momento do nosso país, pois sabemos o que fazer. Agora, precisamos agir.

*Marcelo Lyra é Vice-presidente de Relações Institucionais, ESG e Comunicação da Acelen.

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