Nova realidade está trazendo angústia para quem já estava acostumado com a rotina profissional dentro do lar (sorbetto/Getty Images)
Bússola
Publicado em 4 de fevereiro de 2022 às 11h38.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2022 às 20h30.
Por Primo Paganini*
Já faz quase dois anos que boa parte das empresas liberou o home office para seus funcionários como uma estratégia para reduzir a contaminação e disseminação do novo coronavírus. Neste período, foi possível perceber que não há necessidade de manter todas as pessoas em seus ambientes corporativos físicos para que o trabalho seja feito. Porém, com a vacinação amplamente aderida, surgiu uma nova modalidade: o formato híbrido, ou seja, metade de casa, metade presencial.
Segundo o Índice de Confiança Robert Half, 48% das companhias pretendem investir neste formato em 2022, enquanto 38% vão voltar de forma integral e apenas 3% vão manter o home office. Isso, no entanto, está trazendo angústia para aqueles que já estavam acostumados com a rotina profissional e pessoal dentro de seus lares.
Assim como as pessoas levaram um tempo para se acostumar com o isolamento, com o trabalho remoto e até mesmo com os protocolos criados em função da pandemia, fazer o processo inverso e retornar ao trabalho presencial traz dificuldades e medo do “novo”. Há quem esteja apenas resistente com a nova dinâmica, mas não tem como descartar aqueles que ainda estão receosos de pegar este novo vírus ao precisar utilizar transportes públicos ou ter contato com indivíduos que não tomam os mesmos cuidados que eles.
Desafio para as empresas
Para as companhias, este momento é complicado. É preciso pedir aos colaboradores para voltar e motivá-los para isso. Por isso, elas estão investindo em estratégias para que esta transição não seja tão brusca. Várias empresas estão realizando palestras, conferências e adotando medidas de contingência para receberem seus funcionários.
Além disso, o modelo laboral híbrido também favorece essa transição, uma vez que oficializa alguns dias da semana para o presencial e outros para o home office. Segundo a mesma pesquisa citada anteriormente, 30% das empresas que optaram por esse modelo pretende exigir a presença dos trabalhadores três vezes por semana e 28%, duas vezes. Somente 6% pensaram em deixá-los ir ao local uma vez só e 4% quatro vezes na semana. Para definir isso, a liderança pode discutir e ouvir os colaboradores sobre quais funções podem ser realizadas em casa e quais no ambiente profissional.
A preocupação também deve ser com o acesso às melhores tecnologias possíveis para realização do trabalho e para estabelecer canais de comunicação com os líderes e equipe. Encorajar cada um a expressar as soluções ideais para suas questões laborais diárias e promover encontros presenciais com alguma frequência podem ter bons resultados neste processo.
Outra boa estratégia das organizações é facilitar o acesso à psicoterapia a fim de fornecer aos colaboradores as habilidades e ferramentas psíquicas que propiciam a adaptação, flexibilidade e resiliência mais rápida. É preciso estimular a gerência a aprender sobre saúde mental e a reconhecer a ausência dela em seus liderados, a fim de que estimule para que ela se faça. O mais importante é garantir que questões de saúde mental não tenham peso em empregabilidade, assegurando a segurança psicológica dos funcionários.
Dicas para manter a saúde emocional
Para ter e manter a saúde emocional neste período que parece incerto, há algumas táticas que podem contribuir. O primeiro passo para adotar hábitos de vida mais saudáveis é ter uma rotina de sono adequada, como dormir ao menos sete horas por noite.
Praticar atividades físicas também ajuda muito. Somente 150 minutos por semana são suficientes para ter mais saúde mental. O mesmo vale sobre ter uma dieta balanceada com redução de gorduras e carboidratos, e adotar hobbies que tragam mais prazer ao dia a dia.
E ainda utilizar técnicas de meditação e mindfulness também auxiliam a manter o equilíbrio emocional, assim como a realização de psicoterapia que permitem que questões sejam tratadas, buscando uma melhor forma de lidar com a angústia do momento.
Por fim, como dizia Tom Jobin, é impossível ser feliz sozinho. Por isso, é de suma importância evitar o isolamento afetivo, uma vez que a saúde mental é produzida socialmente e serve de indicador sobre a presença ou ausência das interações. Com base nisso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou uma espécie de prescrição que envolve a adoção de medidas de socialização, mesmo que seja utilizando a tecnologia.
Aprender ou estudar música e artes é uma forma de estimular a integração e comunicação de diferentes áreas cerebrais entre si por conta do ritmo, repetições e tons. A equinoterapia também é uma experiência válida já que há uma espécie de interação social com um animal que corresponde a este tipo de contato.
Atividades em grupo como jogos de basquete e vôlei, boliche, jardinagem comunitária e programas de mentoria são ótimas para trabalhar essa questão social. Porém, como a pandemia ainda não terminou, o ideal é priorizar as atividades que podem ser feitas virtualmente. Nesta aliança em nome do bem-estar dos indivíduos e dos negócios, as empresas e os colaboradores saem ganhando.
*Primo Paganini é psiquiatra e diretor de psiquiatria da eCare
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