3 perguntas de ESG para Alexandre Spitz, da Gaivota
CEO da primeira empresa brasileira de software vertical para o agronegócio afirma que já é possível oferecer todo tipo de informação socioambiental
Bússola
Publicado em 16 de dezembro de 2021 às 18h03.
Por Renato Krausz*
1-Como funciona o software da Gaivota e que informações socioambientais do agronegócio ele oferece aos clientes?
Alexandre Spitz: Nosso sistema é uma plataforma em nuvem pensada para quem faz negócios com o produtor, seja vendendo para ele, comprando dele, ou financiando ele. Ela é dividida em duas partes: por baixo criamos um “data lake” de diversas fontes de dados, incluindo fontes públicas (CAR, Ibama, Incra, etc), dados de modelos de IA proprietários da Gaivota e dados cadastrais e de negócio do próprio cliente. Por cima dessa montanha de dados criamos fluxos de trabalhos digitais para os principais processos da empresa, que geralmente envolvem diversos colaboradores de departamentos diferentes.
Por exemplo, antes mesmo de iniciar um esforço de venda, um representante comercial pode verificar se o CPF/CNPJ e as áreas daquele produtor estão "em dia" com os principais critérios socioambientais. Ainda que hoje não seja prática fazer essa análise antes de uma venda, a maior parte das vendas demanda financiamento e, como há regras impedindo o financiamento de áreas irregulares, não vale a pena — como vendedor — investir tempo ali.
O sistema permite, então, que esse vendedor consiga mapear áreas produtivas em regularidade socioambiental desde um nível estadual até o detalhe de uma lavoura e direcionar seus esforços para áreas com alto potencial de negócio sustentável. É como ter em um só lugar CRM, BI e inteligência de mercado, na nuvem e tudo embasado em critérios ESG.
2-Qual é a extensão hoje da agricultura irregular no Brasil?
Alexandre Spitz: Para responder isso precisamos definir de qual agricultura estamos falando e o que significa irregular. Estamos falando só da agricultura de porte industrial, da agricultura comercial, da agricultura familiar? Irregular pela ótica das leis brasileiras, das boas práticas sustentáveis ou pela proposta de lei da União Europeia?
Um dos recortes possíveis é olhar para a soja do Cerrado brasileiro e avaliar quanto dela está em áreas demarcadas pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) como desmatamento. Utilizando o marco do novo código florestal, a ordem de grandeza de soja que está em área desmatada por lá é de 5%. Lembrando que por si só o fato de a soja estar em uma área demarcada pelo Prodes é um problema em potencial, mas a área pode ter autorização para fazer a abertura. Assumindo que a maioria das áreas não têm essa autorização, temos ainda assim duas notícias: uma ruim e uma boa.
A ruim é que por esse critério temos mais ou menos um milhão de hectares de soja plantados em áreas desmatadas depois de 2008 no Cerrado. A boa é que utilizando exclusivamente esse mesmo critério, a grande maioria da soja (aproximadamente 95%) não está em áreas desmatadas depois de 2008.
Existem diversos outros critérios importantes para serem avaliados para julgamento de regularidade ou irregularidade, por exemplo: avaliar se o local de produção está embargado pelo Ibama ou localizado em uma Unidade de Conservação ou terra indígena. Isso tudo olhando pela ótica da lei brasileira.
A lei que a União Europeia está propondo bane commodities advindas de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020, independentemente da legislação do país de origem. Nesse caso, uma área de produção agrícola poderia ser regular para nossa lei, mas irregular pelos critérios dos nossos clientes.
Dito isso, acreditamos que regularidade, ou irregularidade, é um critério que nivela por baixo a discussão da nossa sociedade sobre o agronegócio. Nosso dever é fazer um agro que respeite direitos humanos e nosso meio ambiente – apoiado pelas leis, mas não focados em fazer somente o mínimo imposto por elas. A produção agrícola está diretamente inserida no meio ambiente e depende dele para existir: cuidar dele vai além de uma questão ética, é uma questão existencial para o agronegócio.
Temos o dever e a oportunidade de assumir a liderança global em produção vegetal sustentável, criando uma marca forte para nosso agronegócio e fornecendo o que o mundo (nosso cliente) já aponta que quer.
3-Os países importadores e grandes consumidores fora do Brasil são potenciais clientes da Gaivota?
Alexandre Spitz: Sem dúvida. A demanda por rastreabilidade nas commodities vem dos clientes finais desses produtos. Em um país exportador de commodities como o Brasil, os clientes estão em outros países, na Ásia, no Oriente Médio, na Europa. Por décadas os exportadores (principalmente as tradings) levaram soja, milho, algodão, café do interior do Brasil até os clientes em outros lugares do mundo. Agora, para manter estes clientes satisfeitos, além de levar os produtos também precisam levar informação sobre a origem, caminho e qualidade do que estão vendendo. O papel da Gaivota é permitir que as informações sobre esses produtos — e sobre os negócios que os originaram — sejam coletadas com eficiência, registradas confiavelmente, transportadas com fluidez e comunicadas de forma clara.
*Renato Krauszé sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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