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Weintraub culpa Dilma e Temer por cortes na verba para educação

Na Câmara, o ministro da Educação afirmou que as informações sobre o contingenciamento foram "distorcidas" e estão gerando "mal-estar na sociedade"

Abraham Weintraub: o ministro travou duros embates com os deputados (Adriano Machado/Reuters)
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Clara Cerioni

Publicado em 15 de maio de 2019 às 20h02.

Última atualização em 16 de maio de 2019 às 18h22.

Brasília — O ministro da Educação, Abraham Weintraub , negou mais uma vez que o governo está promovendo cortes na área, mesmo com o anúncio de bloqueio de repasse de 7,4 bilhões de reais. Em discurso na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (15), ele afirmou que as informações foram "distorcidas" e estão gerando "mal-estar na sociedade".

Apesar de ter sido chamado para explicar o contingenciamento, Weintraub fez uma apresentação de 30 minutos — semelhante a que realizou no Senado na semana passada — sem citar o bloqueio de valores. Tomando por base uma apresentação de slides em power point, o ministro defendeu que a abordagem da Educação no Brasil deve ser "técnica" e "científica", baseada em números, e não ideológica.

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"Na educação essencial, quando chega no primeiro ano, se não tiver um preparo, se não chegar com os fonemas, letrinhas, sons, (a criança) já chega com muita defasagem", disse. "Cinquenta por cento das nossas crianças ficam no caminho, não conseguem aprender", afirmou. O ministro disse ainda que a qualidade da alfabetização no país "é um desastre".

Depois de sua exposição, que focou no ensino básico e técnico, os deputados começaram a cobrá-lo para explicar, de fato, como foi decidido o corte de verbas das universidades federais e dos institutos federais.

Orlando Silva (PCdoB-SP), autor do requerimento de convocação de Weintraub, lembrou quais eram os objetivos de sua visita ao plenário da Câmara. "Esta sessão não tem como objetivo conhecer os planos do governo para a Educação, até porque esse setor não é prioridade para o governo", disse o parlamentar.

Para justificar os cortes, o ministro culpou os governos anteriores, de Dilma Rousseff e Michel Temer. Weintraub afirmou que o governo "está cumprindo a lei ao fazer o contingenciamento ". Segundo ele, o sonho da população é colocar o filho em escola privada, insistindo que o foco deve ser o investimento em ensino básico.

“Não está bom o que tem sido feito nos últimos 20 anos. Autonomia universitária não é soberania e polícia precisa sim entrar na universidade”, afirmou, em referência a críticas que recebeu sobre seu posicionamento envolvendo policiamento nas faculdades. Neste momento, ele foi vaiado e aplaudido pelos parlamentares.

Questionado pelo deputado Emanuel Pinheiro Neto (PTB-MT) sobre o embasamento teórico e os critérios para o corte de 30% no orçamento discricionário das universidades, o ministro afirmou que o número foi direcionado pelo Ministério da Economia.

Na sessão, ele voltou a condicionar a volta de recursos à aprovação da reforma da Previdência. "Em junho, esta casa vai finalmente permitir que o Brasil deixe para trás vinte anos de marasmo e crise e decole para o futuro, com a aprovação da reforma da Previdência", concluiu.

Ele também se esquivou e classificou como "mal-entendido" o episódio de ontem, quando vários líderes de partidos afirmaram que o presidente Bolsonaro ligou para o ministro na frente deles durante uma reunião e determinou o fim do contingenciamento na educação, sendo desmentidos logo em seguida pelo Planalto.

"Os senhores escutaram o presidente falando comigo, mas não me escutaram. Eu falei para o presidente 'não há corte, há contingenciamento'", disse ele. "Estava na explicação. Foi um mal-entendido, não foi uma mentira, o que aconteceu foi que não deu pra escutar a minha versão", afirmou.

Sua participação na Câmara acontece no mesmo dia em que o país está tomado por manifestações contra o cortes na educação. Todos os 26 estados mais o Distrito Federal registraram manifestações durante o dia.

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Confusão

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, travou duros embates com os deputados. Em um dos momentos mais tensos, Weintraub lembrou que trabalhou como bancário, com carteira assinada, e disse que talvez os deputados não saibam o que é isso.

"Eu gostaria também de falar que eu fui bancário, carteira assinada, viu? A azulzinha, não sei se vocês conhecem. Trabalhei muito, pagava imposto sindical, trabalhei para valer, recebia o tiquetezinho. E tem mais uma coisa: quem ligou para o dono do Santander na Espanha para pedir a cabeça de uma bancária, colega minha, porque ela ousou falar que se a Dilma fosse eleita, o dólar ia subir e a bolsa ia cair, foi o Lula, que hoje está na cadeia", disparou.

Weintraub se referia ao episódio ocorrido durante a campanha eleitoral de 2014 em que uma funcionária do banco Santander escreveu em nota a clientes de alta renda da instituição que a reeleição da então presidente Dilma Rousseff deterioraria o desempenho da economia brasileira.

A declaração do ministro instaurou um tumulto no plenário e o presidente em exercício da Câmara, Marcos Pereira (PRB-SP), pediu calma aos deputados, ao mesmo tempo que disse ter se sentido pessoalmente ofendido pela declaração de Weintraub sobre a carteira de trabalho e pediu ao ministro que se ativesse ao tema da audiência.

Durante os questionamentos de deputados, Weintraub foi duramente criticado por parlamentares da oposição. O líder do PT, Paulo Pimenta (RS), chamou o ministro de "covarde".

O ministro citou também o ministro da Propaganda do regime nazista na Alemanha, Joseph Goebbels, ao afirmar que a oposição busca transformar mentiras em verdades.

"Eu não critico o outro lado, eu não quero morte para o outro lado, eu quero diálogo. Eu quero conversar com base em ciência, em números. Dois mais dois é quatro. Dois mais dois não é 30, não importa quantas vezes você diga isso. Goebbels falava que (se repetisse) mil vezes virava verdade. Continua sendo quatro. Não tem corte", afirmou.

Ele ainda seexaltou durante a sabatina depois de ter sido interpelado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB), que o questionou sobre supostas declarações de que comunistas merecem "tomar bala na cabeça". Weintraub disse não ter "ódio no coração" e afirmou odiar "o pecado e não o pecador".

Dizendo ser alvo de "agressões fúteis e superficiais", o ministro retrucou: "Quanto à bala na cabeça, que a deputada Jandira falou, eu não tenho passagem na polícia, eu não tenho processo trabalhista - nunca tenho - minha ficha é limpíssima". "Bala na cabeça quem prega não é esse lado aqui", emendou.

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