O ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Talita Abrantes
Publicado em 23 de maio de 2016 às 18h11.
São Paulo - Em entrevista coletiva há pouco em Brasília (DF), o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), afirmou que irá pedir licença da pasta a partir de amanhã. Ele disse que irá entrar com um pedido de manifestação no Ministério Público Federal e decidirá seu futuro no cargo após parecer do MPF.
"Nada melhor do que uma manifestação isenta do Ministério Público dizendo que, naquela conversa, eu não cometi crime", disse.
"Nós estamos tranquilos, o governo está tranquilo", afirmou. "Não resolve o problema do Brasil descredenciar a classe política. Meu gesto é de que nada temos a esconder".
Na manhã desta segunda-feira, o jornal Folha de S. Paulo divulgou trechos de um diálogo - gravado de forma oculta - entre o peemedebista e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Na conversa, ele sugere um pacto para barrar o avanço da operação Lava Jato. "Eu acho que a gente precisa articular uma ação política", afirmou. "Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria".
Até segunda ordem, o secretárioo-executivo do Planejamento, Dyogo Henrique de Oliveira, assume do comando da pasta.
Novo recuo
No final da manhã de hoje, Jucá afirmou que não iria deixar o cargo. Segundo ele, os trechos publicados pelo jornal estavam fora de contexto e que teriam sido ditos em referência à economia.
"[É preciso] estancar a paralisia do Brasil, a sangria da economia e do desemprego e delimitar quem tem culpa e quem não tem culpa", afirmou durante coletiva de imprensa. "Não tenho nada a temer, não devo nada a ninguém".
Horas depois, o jornal Folha de S. Paulo publicou na íntegra as gravações, que deixam claro que o ministro não falava de economia naquele momento.
De acordo com a jornalista Andreia Sadi, da GloboNews, esse teria sido o ponto da virada na trajetória do primeiro escândalo do governo Temer - que tem apenas 11 dias de vigência.
A primeira crise
Apontado como um dos principais articuladores da deflagração do processo de impeachment de Dilma Rousseff, Jucá substituiu Temer na presidência do PMDB em abril deste ano. É paradoxal, portanto, que ele seja o protagonista da primeira crise de um governo que ajudou a conduzir ao poder.
A decisão de afastar Jucá do cargo estanca a ferida, mas não resolve o desgaste que o teor da gravações traz à nova gestão - justamente em um momento em que a sociedade brasileira clama por moralidade na política ao mesmo tempo em que o presidente interino luta para afirmar sua própria credibilidade no cargo.
Pesa contra o governo do PMDB também o fato de que Jucá era um dos principais articuladores políticos de Temer no Congresso. Em entrevista a EXAME.com, Thiago de Aragão, diretor de estratégia da consultoria política Arko Advice, classificou o presidente do PMDB como "um dos maquinistas do trem" e peça-chave para a execução do plano econômico do ministro Henrique Meirelles (Fazenda).
Mais gente na mira
Machado também registrou áudios de conversas privadas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e o ex-presidente da República José Sarney (PMDB). A informação é da coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo.
Todas as fitas constam no acordo de delação premiada que o executivo negocia com a Procuradoria-Geral da República (PGR) no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo o jornal, pessoas que tiveram acesso aos áudios dizem que as revelações de hoje em relação a Jucá são "nada" comparado ao que Renan e Sarney teriam dito.
As declarações de Machado comprometeriam, segundo o jornal, ainda outros dois senadores do PMDB: Jáder Barbalho e Edison Lobão.