Voto nulo ganha jingle e até comício em Porto Alegre
No primeiro tuno das eleições da capital gaúcha, quem votou nulo, branco ou se absteve somou 34,8% do eleitorado (382,5 mil eleitores)
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2016 às 11h21.
São Paulo — O segundo turno em Porto Alegre ganhou um terceiro candidato na última semana. Ele não será eleito, mas pode acabar a eleição na frente dos candidatos Nelson Marchezan (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB). Tudo isso pelo descontentamento do eleitor, que não tem visto nos dois concorrentes a qualidade para ser prefeito da capital gaúcha.
No primeiro turno, quem votou nulo, branco ou se absteve somou 34,8% do eleitorado (382,5 mil eleitores). O número foi mais elevado do que o alcançado pelo primeiro colocado, Nelson Marchezan, que contabilizou 213,6 mil votos no total.
A previsão dos especialistas é que esse número cresça ainda mais no segundo turno. O voto nulo pode ser eleito o "prefeito" simbólico de Porto Alegre. A principal explicacão é o fato de o candidato do PT, Raul Pont, e do PSOL, Luciana Genro, terem ficado de fora do segundo turno. Juntos, os dois candidatos de esquerda somaram mais de 28% dos votos — de 203.577 eleitores que, na sua maioria, não se identificam com os candidatos que agora disputam a prefeitura.
Nem PT, muito menos o PSOL, anunciaram apoio no segundo turno. Não existe menos pior em Porto Alegre. Melo e Marchezan representam o mesmo modelo político. Ambos vão trabalhar privilegiando grandes grupos empresariais, loteando a máquina pública e desestruturando os serviços públicos, disse Luciana Genro em reunião do partido.
Para a cientista política Céli Pinto, que é professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a disputa em Porto Alegre está polarizada. De um lado, Melo, atual vice-prefeito da cidade, é do PMDB, do presidente Michel Temer. E do outro, Nelson Marchezan, do PSDB, partido que integra a base governista em Brasília. O PSDB também fez parte do governo de Melo até o final de 2015, quando decidiu sair para lançar candidato próprio nesta eleição.
"Na grande maioria das vezes, a eleição do segundo turno acontece entre dois candidatos de dois campos distintos. Com a crise do PT, acabou que dois candidatos do mesmo campo venceram", explica Pinto. "Não existe opção de mudança porque se vota em uma mesma prefeitura. A disputa pelo voto do centro não está acontecendo em Porto Alegre. Por isso, o número de eleitores que votam nulo ou branco só tende a crescer", complementa.
Jingle e comício
Nesta semana, o Voto Nulo (!) chegou a virar candidato em Porto Alegre, com direito a jingle de campanha. Para prefeito "Nulo" e de vice, "Abstenção". A campanha foi criada pelo produtor musical Valmor Pedretti Junior e pelo colega Leo Prestes.
A dupla criou um vídeo para incentivar os eleitores a dar um voto de protesto. "A gente não quer ridicularizar os candidatos, mas sim criticar. Não precisamos vestir nenhuma bandeira de partido, mas sim agir como cidadãos", afirma Valmor. "Os dois candidatos são opções semelhantes. São quase amigos e não nos representam", critica.
Além de música, as manifestações em Porto Alegre a favor do voto nulo tomaram as ruas. Na última terça (11), houve até confronto com a polícia. Os organizadores das manifestações dizem que querem marcar "o maior número de votos nulos da História".
O HuffPost Brasil também conversou com quatro eleitores de Porto Alegre que irão votar nulo no segundo turno para saber o porquê da decisão. Leia:
Amanda Kaster, estudante
"Vou votar nulo porque não me sinto contemplada em nenhum dos dois projetos dos candidatos que estão no 2º turno. O primeiro é o atual vice-prefeito e sua gestão nos últimos oito anos não foi satisfatória. Por outro lado, há um candidato novo para a prefeitura, mas que pelas coligações da última eleição também está envolvido na atual gestão e provou, em entrevistas, não conhecer bem da realidade da cidade e seus problemas. Além de tudo, vejo pela primeira vez a questão dos votos nulos com bons olhos como forma de resposta. Pode não afetar o resultado principal, mas há um peso em se dizer que mais de 300 mil pessoas não apoiam nenhum dos dois lados. Isso foi uma revelação para mim."
Camila Fialho, estudante de medicina
"Eu vou anular meu voto porque nenhum candidato representa adequadamente o que eu acredito que seja o melhor pra Porto Alegre. No primeiro turno já foi ruim de escolher alguém, no fim eu votei na Luciana Genro porque o vice dela era o Pedro Ruas, que é um político sério na minha opinião. Nem o Melo e nem o Marchezan são pessoas apropriadas para governar uma cidade do porte de Porto Alegre. E agora, na campanha do segundo turno, eles estão mais fazendo uma disputa de "egos" do que mostrar suas reais propostas e convicções. Eles são candidatos à prefeitura de uma capital, não estão num simples jogo. Eles brigam na frente do povo, da imprensa e só no período de eleições. Quando acabar tudo e um deles vencer, que me garante que o outro não vai ganhar uma secretaria ou outro cargo?"
Flávia Cunha, jornalista
"Meu principal motivo é a dificuldade em enxergar nos dois candidatos projetos de governo que tenham a ver com o modelo de cidade que eu acredito. Uma cidade em que o transporte público seja valorizado, o ciclismo, a ocupação dos espaços públicos."
Guilherme Alves, publicitário
"A situação atual de Porto Alegre é vergonhosa. É um governo paternalista, que ficou do lado do empresários das empresas de ônibus, da máfia que é o táxi na cidade. Quando o Uber veio pra cá, o atual prefeito, do qual o Mello é vice, disse que ele ia mostrar que aqui não era terra de ninguém e no dia seguinte aconteceu um crime que deixou todo mundo apavorado. O Mello é do PMDB, partido do Temer, do Sartori, do Cunha. Não concordo com esses partidos nem com o tipo de política que eles praticam. O Marchezan não é renovação - era do governo até meio ano atrás. O PSDB também tem políticos de que eu não gosto."
São Paulo — O segundo turno em Porto Alegre ganhou um terceiro candidato na última semana. Ele não será eleito, mas pode acabar a eleição na frente dos candidatos Nelson Marchezan (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB). Tudo isso pelo descontentamento do eleitor, que não tem visto nos dois concorrentes a qualidade para ser prefeito da capital gaúcha.
No primeiro turno, quem votou nulo, branco ou se absteve somou 34,8% do eleitorado (382,5 mil eleitores). O número foi mais elevado do que o alcançado pelo primeiro colocado, Nelson Marchezan, que contabilizou 213,6 mil votos no total.
A previsão dos especialistas é que esse número cresça ainda mais no segundo turno. O voto nulo pode ser eleito o "prefeito" simbólico de Porto Alegre. A principal explicacão é o fato de o candidato do PT, Raul Pont, e do PSOL, Luciana Genro, terem ficado de fora do segundo turno. Juntos, os dois candidatos de esquerda somaram mais de 28% dos votos — de 203.577 eleitores que, na sua maioria, não se identificam com os candidatos que agora disputam a prefeitura.
Nem PT, muito menos o PSOL, anunciaram apoio no segundo turno. Não existe menos pior em Porto Alegre. Melo e Marchezan representam o mesmo modelo político. Ambos vão trabalhar privilegiando grandes grupos empresariais, loteando a máquina pública e desestruturando os serviços públicos, disse Luciana Genro em reunião do partido.
Para a cientista política Céli Pinto, que é professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a disputa em Porto Alegre está polarizada. De um lado, Melo, atual vice-prefeito da cidade, é do PMDB, do presidente Michel Temer. E do outro, Nelson Marchezan, do PSDB, partido que integra a base governista em Brasília. O PSDB também fez parte do governo de Melo até o final de 2015, quando decidiu sair para lançar candidato próprio nesta eleição.
"Na grande maioria das vezes, a eleição do segundo turno acontece entre dois candidatos de dois campos distintos. Com a crise do PT, acabou que dois candidatos do mesmo campo venceram", explica Pinto. "Não existe opção de mudança porque se vota em uma mesma prefeitura. A disputa pelo voto do centro não está acontecendo em Porto Alegre. Por isso, o número de eleitores que votam nulo ou branco só tende a crescer", complementa.
Jingle e comício
Nesta semana, o Voto Nulo (!) chegou a virar candidato em Porto Alegre, com direito a jingle de campanha. Para prefeito "Nulo" e de vice, "Abstenção". A campanha foi criada pelo produtor musical Valmor Pedretti Junior e pelo colega Leo Prestes.
A dupla criou um vídeo para incentivar os eleitores a dar um voto de protesto. "A gente não quer ridicularizar os candidatos, mas sim criticar. Não precisamos vestir nenhuma bandeira de partido, mas sim agir como cidadãos", afirma Valmor. "Os dois candidatos são opções semelhantes. São quase amigos e não nos representam", critica.
Além de música, as manifestações em Porto Alegre a favor do voto nulo tomaram as ruas. Na última terça (11), houve até confronto com a polícia. Os organizadores das manifestações dizem que querem marcar "o maior número de votos nulos da História".
O HuffPost Brasil também conversou com quatro eleitores de Porto Alegre que irão votar nulo no segundo turno para saber o porquê da decisão. Leia:
Amanda Kaster, estudante
"Vou votar nulo porque não me sinto contemplada em nenhum dos dois projetos dos candidatos que estão no 2º turno. O primeiro é o atual vice-prefeito e sua gestão nos últimos oito anos não foi satisfatória. Por outro lado, há um candidato novo para a prefeitura, mas que pelas coligações da última eleição também está envolvido na atual gestão e provou, em entrevistas, não conhecer bem da realidade da cidade e seus problemas. Além de tudo, vejo pela primeira vez a questão dos votos nulos com bons olhos como forma de resposta. Pode não afetar o resultado principal, mas há um peso em se dizer que mais de 300 mil pessoas não apoiam nenhum dos dois lados. Isso foi uma revelação para mim."
Camila Fialho, estudante de medicina
"Eu vou anular meu voto porque nenhum candidato representa adequadamente o que eu acredito que seja o melhor pra Porto Alegre. No primeiro turno já foi ruim de escolher alguém, no fim eu votei na Luciana Genro porque o vice dela era o Pedro Ruas, que é um político sério na minha opinião. Nem o Melo e nem o Marchezan são pessoas apropriadas para governar uma cidade do porte de Porto Alegre. E agora, na campanha do segundo turno, eles estão mais fazendo uma disputa de "egos" do que mostrar suas reais propostas e convicções. Eles são candidatos à prefeitura de uma capital, não estão num simples jogo. Eles brigam na frente do povo, da imprensa e só no período de eleições. Quando acabar tudo e um deles vencer, que me garante que o outro não vai ganhar uma secretaria ou outro cargo?"
Flávia Cunha, jornalista
"Meu principal motivo é a dificuldade em enxergar nos dois candidatos projetos de governo que tenham a ver com o modelo de cidade que eu acredito. Uma cidade em que o transporte público seja valorizado, o ciclismo, a ocupação dos espaços públicos."
Guilherme Alves, publicitário
"A situação atual de Porto Alegre é vergonhosa. É um governo paternalista, que ficou do lado do empresários das empresas de ônibus, da máfia que é o táxi na cidade. Quando o Uber veio pra cá, o atual prefeito, do qual o Mello é vice, disse que ele ia mostrar que aqui não era terra de ninguém e no dia seguinte aconteceu um crime que deixou todo mundo apavorado. O Mello é do PMDB, partido do Temer, do Sartori, do Cunha. Não concordo com esses partidos nem com o tipo de política que eles praticam. O Marchezan não é renovação - era do governo até meio ano atrás. O PSDB também tem políticos de que eu não gosto."