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Bolívar Lamounier: Bolsonaro precisa focar na economia

Em entrevista a EXAME, o cientista político Bolívar Lamounier, da Augurium Consultoria, classifica a vitória como "esmagadora"

. (Ricardo Moraes-Pool/Getty Images)

Lucas Agrela

Publicado em 28 de outubro de 2018 às 20h18.

Última atualização em 7 de maio de 2019 às 14h46.

São Paulo – Para o cientista político Bolívar Lamounier , da Augurium Consultoria, poucas vezes na história democrática brasileira houve uma concentração tão grande de poder num grupo político como o atual ao redor do presidente eleito Jair Bolsonaro , do PSL .

Para Lamounier, o resultado de 28 de outubro demonstra uma derrota acachapante às tradicionais forças políticas brasileiras. Mas, para conseguir manter o apoio, Bolsonaro terá que focar em pautas da economia, mais agregadoras do que as pautas de valores. Leia a entrevista.

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EXAME - Como analisa a chegada de Bolsonaro à presidência?

Bolívar Lamounier - Não houve surpresas. As pesquisas de primeiro turno já vinham dizendo que os partidos de centro estavam tendo baixas votações. Bolsonaro captou a hostilidade do brasileiro com a corrupção, com a economia ruim e os maus serviços públicos. Bolsonaro encarnou tudo isso.

Agora, foi uma vitória esmagadora. Pelo mapa eleitoral, deu para perceber que o Haddad e o Partido dos Trabalhadores só conseguiram ganhar na parte do Brasil onde há menos trabalho, nos estados do Nordeste. Ou seja, a imagem antiga do PT, do bastião do partido na região do ABC Paulista não existe mais.

O resultado nos governos estaduais ajudará o governo Bolsonaro?

Sem dúvida. foi uma via de mão dupla. O apoio à Bolsonaro ajudou candidaturas bem-sucedidas como a de João Doria em São Paulo, Wilson Witzel no Rio de Janeiro e Romeu Zema em Minas Gerais.

Poucas vezes na história democrática brasileira tivemos uma vitória tão acachapante de um grupo político em tantos pontos centrais do país. Agora, tem que ver como a vitória das urnas vai se traduzir em governabilidade a partir de janeiro.

Qual é o seu palpite?

Não teremos tempos fáceis. Há demandas urgentes na economia. Temos que prestar muita atenção ao primeiro semestre do ano que vem. Neste período, Bolsonaro precisa reunir o apoio que conquistou no Congresso e nos estados para encaminhar bons projetos para consertar a economia, como uma Reforma da Previdência que de fato resolva as contas públicas.

Além disso, mantendo tudo como está no Bolsa Família, ou ampliando os benefícios, ele conseguirá tranquilizar a população mais pobre, hoje eleitora do PT. Se ele fizer isso, terá condições de fazer um bom governo. O país precisa. Precisamos colocar o Brasil nos trilhos.

Bolsonaro conseguirá superar a polarização atual?

Focando nos desafios da economia, creio que sim. Não será da noite para o dia. Ainda mais para o PT, que sofreu uma derrota humilhante para um deputado médio, que nunca havia sido governador nem nada. Foi acachapante, histórico. De resto, a sociedade está ansiosa para voltar à normalidade. Assim que o governo demonstrar trabalho, as redes sociais vão parar com o xingatório de hoje.

Há muito receito dos eleitores da esquerda de que Bolsonaro traga ameaças à democracia. Procedem?

Não estou apavorado com a democracia. Bolsonaro tem agora que ter cuidado para desarmar as bombas deixadas em grande medida pelos governos petistas. Ele já moderou o discurso dele, agora é chefe de Estado. Ele tem que se concentrar na parte econômica, montar uma equipe de alto nível nos ministérios e deixar de lado a pauta de valores, que é mais radical e desagrega.

Agora, essa coisa de dizer que ele é fascista é conversa fiada. Em Israel, ele teve 77% dos votos. Ficam falando que ele faz elogio a torturadores. Temos que levar em consideração que a esquerda fez a luta armada. E, fora o Fernando Gabeira, ninguém fez a autocrítica sobre as mortes que cometeram. temos dois pesos e duas medidas aí.

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