Brasil

Violência nas áreas pacificadas continuará, diz Beltrame

Secretário de Segurança do RJ, José Mariano Beltrame admitiu que violência vai continuar nas comunidades onde foram implantadas Unidades de Polícia Pacificadora


	O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame: é impossível acabar com o tráfico e com violência nos bairros pobres, disse
 (GettyImages)

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame: é impossível acabar com o tráfico e com violência nos bairros pobres, disse (GettyImages)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2013 às 13h39.

Rio de Janeiro - O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, admitiu que a violência vai continuar nas comunidades onde foram implantadas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), um projeto que, segundo ele, não será encerrado.

"Se o Rio de Janeiro não continuar (a pacificação), não vai virar a página da violência e não poderá deixar as comunidades mais próximas das condições do restante da cidade", afirmou Beltrame em entrevista à Agência Efe por ocasião do quinto aniversário do início das UPPs.

Para Beltrame, é "muito difícil" que aconteça um retrocesso na iniciativa, mesmo com uma mudança política no governo estadual, porque "a sociedade se apoderou" dele e porque existem "dados estatísticos que mostram que funcionou".

Desde o final de 2008, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) inaugurou 34 UPPs para levar a presença ostensiva das forças de segurança nas favelas, que estiveram sob o comando do crime organizado durante quatro décadas.

A Secretaria de Segurança elaborou um plano estratégico para expandir o programa, que atualmente atende 233 favelas, para chegar a 40 UPPs no final de 2014 e a um total de 45 ou 46 em 2018, segundo Beltrame.

No entanto, o secretário reconheceu que, mesmo com a expulsão das facções do crime organizado, "não é possível" acabar com o tráfico de drogas, nem com a violência nos bairros pobres, onde ainda se escondem alguns membros das organizações criminosas e onde existem "várias gerações" de famílias que trabalharam para elas.

"Hoje a polícia é maioria nesses lugares e você tem a garantia de que ela não vai sair. O Estado é mais forte do que essas pessoas (traficantes de drogas). A liberdade de ir e vir das pessoas está garantida, mas isso não quer dizer que nunca mais tenhamos um tiro de arma de fogo em um lugar onde havia guerra", comentou.

"O Rio de Janeiro tem essa história e vamos, talvez, perder uma geração para mudar um quadro (de violência) que, infelizmente, o Estado deixou chegar ao ponto em que chegou", acrescentou.

Recentemente em algumas favelas "pacificadas" houve episódios de violência, o que o secretário atribuiu a tentativas de "desestabilização" do programa de segurança por parte de alguns criminosos. Beltrame, porém, descartou que os criminosos tenham a pretensão de reconquistar as comunidades das quais foram expulsos.


"Não acho que venha a acontecer uma retomada do território. Se essas pessoas entrarem hoje com 100 homens, eu entro amanhã com 200. Vamos reagir imediatamente a qualquer ação do tráfico", disse.

Beltrame afirmou ainda que as facções criminosas estão "sofrendo" com as UPPs e garantiu que 90% dos traficantes que fogem das favelas acabam presos.

O secretário disse que as UPPs têm "muito mais aspectos positivos do que negativos", mas admitiu que os casos polêmicos, como as denúncias de tortura nas dependências da unidade nas favelas, foram "muito ruins" para a imagem do programa.

O exemplo de maior repercussão foi o do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde julho, quando foi levado até a sede da UPP da Rocinha. O caso rendeu a prisão de 25 policiais, acusados de torturá-lo e assassiná-lo.

Segundo Beltrame, para fomentar uma "mudança de cultura" dos policiais cariocas, estão sendo introduzidas modificações no curso de formação dos policiais das UPPs, que antes "era muito voltado para a guerra" e agora está enfocando "servir o cidadão".

As UPPs completam exatamente hoje cinco anos. No dia 19 de novembro de 2008, a polícia tomou o controle do morro Santa Marta, em uma operação que, mais tarde, deu início à ocupação permanente da comunidade.

Beltrame disse que o governo estadual decidiu se estabelecer no Santa Marta depois da operação, com a qual desarticulou a quadrilha que atuava na favela, mas afirmou que a ideia de ocupar as comunidades já era ventilada há algum tempo.

"A ideia de ocupar e se estabelecer nas comunidades nasceu em conversas na Secretaria, mas já estava na cabeça de todos os cariocas. Todo mundo sabe que a favela tem que ser integrada à cidade", opinou.

Apesar de o programa ter recebido elogios em muitas esferas e de seus bons resultados na melhora dos índices de violência, Beltrame advertiu que a segurança pública é "um bem efêmero" que desaparece com um único tiro.

"Em segurança pública nunca ganhamos, empatamos. Nunca saímos vitoriosos. Nunca estarei satisfeito com os índices de criminalidade enquanto estiver aqui", concluiu.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasMetrópoles globaisRio de JaneiroUPPViolência urbana

Mais de Brasil

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos