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Vida nas ruas: da cracolândia à superação como catadora

"A rua hoje bota a comida na minha mesa, é o meu ganha-pão", diz Fabiana, de 38 anos, que viveu 16 deles na rua

Fabiana da Silva, de 38 anos, com sua carroça em São Paulo, dia 29/06/2017 (Nacho Doce/Reuters)

Fabiana da Silva, de 38 anos, com sua carroça em São Paulo, dia 29/06/2017 (Nacho Doce/Reuters)

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Reuters

Publicado em 3 de agosto de 2017 às 18h38.

São Paulo - As ruas e avenidas da capital paulista, onde Fabiana Silva já viveu sem rumo, acumulam hoje o seu sustento. Todos os dias, a catadora percorre dezenas de quilômetros puxando sua carroça colorida em busca de materiais recicláveis.

"A rua hoje bota a comida na minha mesa, é o meu ganha-pão", diz Fabiana, de 38 anos, que viveu 16 deles na rua.

Aos 7 anos, Fabiana saiu de casa para fugir da violência de seu padrasto e foi viver nas ruas. "Ali eu conheci o crack, conheci a droga, conheci a malandragem, conheci tudo o que não presta na rua. Apanhei na rua, conheci o mundo cruel lá fora", lembra.

O tempo que esteve na cracolândia, que concentra usuários de crack na região central de São Paulo, lhe rendeu quatro passagens pela antiga Febem (hoje Fundação Casa- Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), e uma detenção, quando descobriu que estava grávida do filho mais velho, atualmente com 17 anos.

"Ali é o inferno", diz Fabiana, referindo-se à cracolândia. "Eu fiquei dos 7 aos 23 anos nessa vida." Hoje, Fabiana vive com seus três filhos, incluindo um de 8 e um de 14 anos, em um barraco na Favela do Moinho, região central da cidade.

Em seus caminhos diários, passa por áreas que concentram usuários de drogas, e muitos ainda a reconhecem. "Eu olho assim, eu sei que já passei um dia por essa vida, eu já passei por isso, mas para mim isso é passado", diz.

Questionada sobre o medo de uma recaída, Fabiana garante que a possibilidade nem passa por sua cabeça. Ela ressalta, no entanto, que o trabalho de recuperação a ser realizado com usuários de crack é de longo prazo.

"Não adianta ficar falando que vai pegar as pessoas à força da cracolândia e levar para uma clínica que vai tirar. Não vai tirar, isso daí de droga é mundial. Não é só aqui no centro da cidade. Isso daí é com o tempo, que você vai conseguir vencer isso, tratar as pessoas", diz.

A cracolândia da região central da capital paulista tem sido nos últimos anos alvo de diversas ações. As mais recentes, coordenadas pela atual administração municipal, foram criticadas por especialistas por considerarem que envolvem uma abordagem que não trata diretamente da questão da dependência e por apenas provocarem a disseminação dos usuários.

Para o coordenador do programa da Prefeitura de São Paulo de tratamento a dependentes da cracolândia, o psiquiatra Arthur Guerra, no entanto, a concentração dos usuários dificulta a recuperação, uma vez que o tráfico de drogas aparece de forma mais intensa. Ele ressaltou ainda que o programa tem uma abordagem totalmente voluntária para ajudar os pacientes.

Segundo estimativas da Secretaria de Desenvolvimento Social, antes das ações mais recentes, havia cerca de 1,8 mil pessoas no fluxo da cracolândia da Luz e de outras sete cracolândias espalhadas pela cidade.

Sobre a saída das drogas, Fabiana reconhece que não é fácil. "É possível a gente sair, é possível você vencer. Basta querer, ninguém tira o usuário de droga das drogas se ele não quiser. Se ele não tiver um objetivo que quer sair dessa vida, ninguém tira."

Fabiana argumenta que no caso dela contaram os filhos. "Meus filhos me fizeram acordar para a vida, e eu saí."

Os filhos são seus companheiros. Durante as férias escolares, eles saem com ela para trabalhar, dividindo espaço na carroça com os materiais que ela recolhe. Com a carroça cheia, que chega a pesar mais de 400 kg, consegue cerca de 100 reais por dia. O quilo de material reciclável é vendido por 20 centavos. "Baixou, viu? Antes era 25 centavos", diz.

"A gente é importante para a sociedade e a sociedade também é importante para a gente, porque um está ajudando o outro", avalia a catadora.

Além do trabalho, Fabiana decidiu estudar e no mês passado se formou no Fundamental 2. No fim do dia, depois de percorrer a cidade puxando a carroça, ela ainda vai à escola e decidiu encarar o ensino médio. "Daqui a pouco vou pra faculdade", promete Fabiana, que tem o sonho de ser veterinária.

"Eu fui menina de rua, eu saí da escola na 3ª série e agora depois de adulta eu voltei a estudar, me formar. Para mim é uma grande conquista, para mim é muita coisa, entende?"

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