Passaporte brasileiro (./Thinkstock)
Luiza Calegari
Publicado em 28 de junho de 2017 às 15h47.
São Paulo – O orçamento destinado à emissão de passaportes e controle de fluxos migratórios na Polícia Federal caiu quase pela metade entre 2016 e 2017.
No ano passado, a Lei Orçamentária Anual destinava 208 milhões de reais para a rubrica; em 2017, a quantia caiu para 120 milhões de reais, o que representa um corte de 42,2%.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a lei permite que esse valor seja expandido pelo próprio governo em até 20% – o que já foi feito neste ano, elevando o orçamento da PF para emissão de passaportes para 145 milhões de reais.
No entanto, ainda segundo uma fonte consultada pelo Estadão, a PF teria usado apenas 88 milhões de reais desse total para confeccionar os documentos.
O Ministério do Planejamento informou que vai pedir um crédito suplementar de 120 milhões de reais, elevando a verba total a 247,4 milhões de reais.
O orçamento total da Polícia Federal teve um aumento de 9,5% entre 2016 e 2017, passando de 5,6 bilhões de reais para 6,12 bilhões de reais.
EXAME.com perguntou à Polícia Federal por que a verba determinada sofreu um corte tão grande, mas ainda não obteve resposta.
Por outro lado, a “reserva de contingência”, que serve como poupança para emergências, praticamente triplicou: foi de R$ 59 milhões em 2016 para R$ 217 milhões em 2017.
Segundo o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, normalmente essa reserva é engordada em tempos de fartura, e a destinação é o próprio órgão – ou seja, esse dinheiro é da Polícia Federal.
A reportagem também questionou a PF sobre o incremento dessa verba, se ela não poderia ser utilizada para cobrir o rombo da emissão de passaporte e a que é destinada, e está aguardando o posicionamento.
De acordo com Velloso, a negociação sobre como o dinheiro é destinado a cada setor é feita entre o órgão (no caso, a Polícia Federal) e o Ministério do Planejamento.
"Quando o gasto é obrigatório, como a folha de pagamentos, o Planejamento não tem nem o que questionar, só referenda. No caso da emissão de passaportes, que é um gasto discricionário, a PF chega com uma proposta e o Planejamento vai negociar, para acomodar o orçamento", explicou.
No ano passado, foram expedidos 2,25 milhões de documentos de viagem, predominantemente passaportes, segundo a prestação de contas do Ministério da Justiça, órgão a que a PF está subordinada.
Nem a PF nem a Casa da Moeda retornaram, até agora, ao pedido de estimativa dos passaportes emitidos no primeiro semestre deste ano.
O maior gasto do órgão é com a folha de pagamentos e benefícios (cerca de 3,8 bilhões de reais planejados para 2017) e com contribuição previdenciária (cerca de 1,6 bilhão de reais).
Também houve um gasto extra considerado neste ano, de pouco mais de 4 milhões de reais destinado à colaboração internacional com a Interpol.
Veja a tabela de orçamento de acordo com a Lei Orçamentária Anual de 2016 e 2017 da PF:
Despesa | 2016 | 2017 |
---|---|---|
Previdência de Inativos e Pensionistas da União | R$ 1.534.465.387,00 | R$ 1.591.980.000,00 |
Outros encargos | R$ 43.010.844,00 | R$ 43.063.188,00 |
Interpol | R$ 4.618.378,00 | |
Reserva de Contingência | R$ 59.578.732,00 | R$ 217.016.328,00 |
Manutenção do Sistema de Emissão de Passaporte, Controle do Tráfego Internacional e de Registros de Estrangeiros* | R$ 208.883.677,00 | R$ 120.877.011,00 |
Prevenção e Repressão ao Tráfico Ilícito de Drogas e a Crimes Praticados contra Bens, Serviços e Interesses da União* | R$ 226.685.989,00 | R$ 226.685.989,00 |
Projetos | R$ 78.464.159,00 | R$ 71.965.841,00 |
Gastos com pessoal | R$ 3.657.481.032,00 | R$ 3.850.396.445,00 |
TOTAL | R$ 5.808.569.820,00 | R$ 6.126.603.180,00 |
*As duas categorias de despesa pertencem à rubrica "Justiça, Cidadania e Segurança Pública" na LOA, mas foram desmembradas para mostrar a destinação específica para a emissão de passaportes.