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Velhas insatisfações pressionam relação de aliados com Dilma

A retomada dos trabalhos no Congresso trouxe à tona velhos problemas de relacionamento entre o governo e sua ampla e desigual base aliada

A negociação foi feita por intensa troca de telefonemas, já que o líder está em Natal, os ministros em Brasília e Temer em São Paulo (José Cruz/ABr)

A negociação foi feita por intensa troca de telefonemas, já que o líder está em Natal, os ministros em Brasília e Temer em São Paulo (José Cruz/ABr)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 20h09.

Brasília - A retomada dos trabalhos no Congresso nesta semana trouxe à tona novamente os velhos problemas de relacionamento entre o governo e sua ampla base aliada, com a diferença que agora as reclamações e as ameaças estão mais explícitas e elas têm como combustível adicional as negociações políticas para as eleições municipais de outubro.

Essas negociações, principalmente entre os dois maiores partidos da coalizão governista, PT e PMDB, tendem a se radicalizar nos próximos meses e podem contaminar as posições desses e de outros partidos aliados no Congresso, trazendo mais riscos ao governo nas votações.

Ao longo de 2011, apesar de ter conseguido aprovar a maioria das matérias de seu interesse, o governo enfrentou inúmeras reclamações dos aliados que pontuam dificuldades de acesso aos ministros e à presidente Dilma Rousseff, a insatisfação com a liberação de emendas e da pouca ou nenhuma influência nas nomeações para cargos de segundo escalão.

Sabendo que não teria como atender plenamente as demandas dos aliados, a presidente traçou inclusive uma estratégia para não ficar tão dependente do Congresso e evitará até o final do mandato enviar matérias que modifiquem a Constituição, o que exigiria pelo menos três quintos dos votos dos deputados e senadores.

Esse caldeirão de insatisfações voltou ao fogo na semana passada quando mudanças no segundo escalão do governo voltaram a incomodar o PMDB, em especial o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que declarou duvidar que um diretor do Departamento Nacional de Obras contra Secas (Dnocs) seria demitido por Dilma.

A presidente não hesitou e demitiu o indicado de Alves no dia seguinte.

Mesmo irritado, o líder peemedebista diminuiu o tom e depois de conversar com o vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB. Alves também conversou com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a tensão baixou mais um pouco.


Mas o episódio serviu para reacender a irritação de algumas alas do PMDB contra o governo.

"O PMDB vive uma angústia não resolvida. Todos sabem que o PMDB é subdimensionado no governo", disse o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) à Reuters.

No ano passado, Forte foi um dos líderes de um grupo de aproximadamente 30 deputados que questionaram Temer sobre a relação com o governo e a pouca democracia interna na bancada.

"O Temer tem uma posição ambígua. Eu acho que no presente momento isso é ruim. A posição do partido é amaciada por ele por causa da posição que ele ocupa", analisou.

Novela do PR

Mas não é só no PMDB que a tensão da volta das férias se mantém evidente. No PR, que já chegou a anunciar a saída da base aliada para atuar de forma independente no Congresso, a insatisfação continua latente desde a saída do senador e presidente da legenda Alfredo Nascimento (AM) do Ministério dos Transportes em julho do ano passado, depois de denúncias de irregularidades.

"Nós vamos decidir neste mês se vamos ficar na base ou ir para a oposição. Não dá para manter essa posição de independente", disse Nascimento a jornalistas na quinta-feira durante a reabertura dos trabalhos do Legislativo.

"Para ficar no governo temos que ser tratados como os demais partidos aliados", emendou, relembrando sua saída do ministério e que se sentiu abandonado pelo governo.

O Ministério dos Transportes continua sob o comando de um filiado do PR, Paulo Sérgio Passos, mas o partido gostaria de indicar outro nome, por não se sentir representado pelo atual ministro.

Se o PR sair da base aliada, ameaça que não é levada a sério pelo Palácio do Planalto, criaria um risco grande para a governabilidade de Dilma no Senado.

A legenda tem oito senadores atualmente e se migrar para a oposição poderia inclusive forçar a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Casa. Hoje, sozinhos os partidos de oposição não têm senadores suficientes para isso.


Mas apesar da ameaça, Nascimento acredita que o partido entrará em acordo com o governo para se manter na coalizão. "O perfil do nosso partido é de ser governo", disse.

No PDT, que também perdeu o comando do ministério do Trabalho depois que o presidente da legenda, Carlos Lupi, saiu sob denúncias de irregularidades, o clima também é de insatisfação com o governo.

"A bancada ainda reclama da falta de diálogo e tem muitas queixas contra a política econômica, mas a tensão ainda não é explosiva", analisou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), um dos mais influentes na bancada.

Nada de novo no front

A área política do governo tem conhecimento dessas insatisfações dos aliados, mas calcula que a tensão está no mesmo nível do ano passado, segundo disse uma fonte do Palácio do Planalto que pediu para não ter seu nome revelado.

Segundo outra fonte do governo, que também falou sob condição de anonimato, há pouca margem de manobra para pressão dos aliados. "Eles precisam do governo também porque querem empenhar emendas até junho (prazo limite para assinatura de convênios entre o governo federal e os municípios) para impulsionar os aliados nas campanhas municipais. Não vão comprar briga agora", argumentou.

Além disso, o Planalto considera também que o recém-criado PSD, do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ajuda a compensar eventuais defecções da base.

O governo também acredita que os principais temas em debate no primeiro semestre -como a Lei de Geral da Copa- não vão ser alvos dos aliados para uma reação.

Mas sabendo que depende do Congresso, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse na quinta que já está negociando com os partidos aliados os compromissos que "não foram cumpridos" em relação à liberação de emendas e que "haverá algum tipo de compensação", tentando, assim, reduzir os riscos de revolta.

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