Joaquim Barbosa lê denúncia no STF: o magistrado faz a leitura da denúncia, que afirma que o crime de corrupção ativa era dirigido e operacionalizado por José Dirceu (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2012 às 18h35.
Brasília - O relator da ação penal do chamado mensalão no STF, ministro Joaquim Barbosa, disse nesta quarta-feira que o publicitário Marcos Valério, apontado como principal operador da compra de apoio parlamentar, participou de reuniões com integrantes do esquema no gabinete do então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.
A defesa de Dirceu negou relação entre o ex-ministro e o publicitário que, segundo Barbosa, falava em nome do petista na busca de recursos para abastecer o esquema.
"A defesa de Dirceu insistiu... (que) o acusado não tem e não teve qualquer relacionamento com Marcos Valério e que a participação deste co-réu em reuniões da Casa Civil deu-se por iniciativa das instituições envolvidas. Não é verdade. Este argumento é refutado por tudo que se viu até o momento", disse Barbosa ao ler seu voto em sessão no Supremo Tribunal Federal (STF).
"A defesa falta com a verdade, até com o histórico das relações de Marcos Valério com o réu José Dirceu, que data dos fins de 2002, a alegação da defesa seria, só por esse fato, inverossímil." Barbosa faz análise sobre o chamado "núcleo político" do esquema, que inclui a cúpula do PT à época do escândalo, em 2005. Entre os acusados está Dirceu, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex-presidente do PT José Genoino, além de Valério.
O relator disse que as defesas de Valério e de Delúbio "tentaram blindar completamente" Dirceu, para tornar "mais plausível" a tese de caixa dois eleitoral, usada pelas defesas dos réus.
"Tanto ele (Valério) quanto Delúbio Soares, ou seja, os dois operadores oficiais do que veio a ser chamado de mensalão, participaram daquelas reuniões mantidas por José Dirceu com dirigentes de instituições financeiras", disse Barbosa, citando encontros com envolvidos de integrarem o esquema.
O Supremo já concluiu que os recursos apontados na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) foram usados para a compra de apoio parlamentar ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Considero impossível a tese de que José Dirceu simplesmente não sabia que Marcos Valério vinha efetuando pagamentos em espécie em nome do Partido dos Trabalhadores aos líderes parlamentares da nova base aliada", disse o relator.
Barbosa disse, no início do voto, que Dirceu tinha "posição central" no esquema, agindo como "mandante" dos acordos para compra de apoio parlamentar.
"Os pagamentos efetuados por Delúbio Soares e Marcos Valério aos parlamentares com os quais Dirceu mantinha reuniões frequentes o coloca em posição central, posição de organização e liderança da prática criminosa, como mandante das promessas e pagamentos das vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a atender propostas de seus interesses", disse Barbosa.