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USP critica carta ofensiva de professor mas defende liberdade de cátedra

"Liberdade de cátedra e expressão não pode se traduzir em abuso e desrespeito à diversidade", escreve o diretor em exercício da faculdade de direito

SanFran: alunos protestaram contra o documento entregue pelo professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi (Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo/Facebook/Reprodução)

SanFran: alunos protestaram contra o documento entregue pelo professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi (Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo/Facebook/Reprodução)

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Clara Cerioni

Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 17h51.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2019 às 18h02.

São Paulo — A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) divulgou uma nota nesta quarta-feira (27) contra um documento entregue em sala de aula pelo professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, que ofendia minorias e louvava o período da ditadura militar.

Assinado pelo diretor em exercício da universidade, Celso Fernandes Campilongo, o texto defende a liberdade de expressão dos professores, mas diz que "repudia manifestações de discriminação, preconceito, incitação ao ódio e afronta aos Direitos Humanos".

Campilongo afirma, ainda, que "a liberdade de cátedra e expressão não pode se traduzir em abuso e desrespeito à diversidade. O respeito a todos, maiorias ou minorias, é valor inegociável".

Entenda o caso

Na segunda-feira (25), estudantes da disciplina Direito Administrativo Interdisciplinar” foram surpreendidos por um plano de aula de 12 páginas, em que o professor definia partidos de esquerda como “energúmenos” e afirmava que a população pobre é “uma eterna minoria de submundo que se recusa a trabalhar”.

O magistrado também escreveu que casais LGBT são “aberração”, defendeu a “raiz europeia da nação brasileira” e criticou a miscigenação de raças.

Alunos do curso protestaram em relação ao conteúdo. O Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os alunos de direito da universidade, emitiu uma nota de repúdio ao professor.

O uso de trechos do discurso de Jair Bolsonaro para reiterar seus posicionamentos homofóbicos e racistas é mais uma reafirmação de que a eleição de Bolsonaro à Presidência da República representou a legitimação de posicionamentos que atacam as minorias sociais do Brasil, reafirmando seu discurso antidemocrático e anti-povo”, diz trecho da nota do CA XI de Agosto.

Leia na íntegra a nota da USP

"A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo zela pela liberdade de cátedra e expressão. Professores são livres e responsáveis pelo conteúdo de seus cursos, opções metodológicas, temáticas, ideológicas e bibliográficas. Contudo, a FDUSP repudia manifestações de discriminação, preconceito, incitação ao ódio e afronta aos Direitos Humanos. A tradição da instituição, em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, é a da promoção dos valores da igualdade e da cidadania. É dever dos docentes, em consonância com a ordem constitucional, enfrentar estereótipos de gênero, raça, cor, etnia, religião, origem, idade, situação econômica e cultural, orientação sexual e identidade de gênero (LGBT), dentre outras, jamais incentivá-los. A liberdade de cátedra e expressão não pode se traduzir em abuso e desrespeito à diversidade. O respeito a todos, maiorias ou minorias, é valor inegociável. Vozes que, eventualmente, fujam dessas diretrizes não representam o pensamento prevalecente na Faculdade de Direito e merecem veemente desaprovação".

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