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UFRJ lança edital para reforma da fachada do Museu Nacional

Em meio às ruínas, restauradores destacam clima de otimismo para recuperação e reforma do acervo

Museu Nacional: Acervo brasileiro foi tomada pelas chamas em setembro de 2018 e está em processo de restauração (Tânia Rego/Agência Brasil)

Museu Nacional: Acervo brasileiro foi tomada pelas chamas em setembro de 2018 e está em processo de restauração (Tânia Rego/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 12 de fevereiro de 2019 às 19h33.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançou edital para a escolha da empresa que ficará responsável pelo projeto de reforma da fachada do Museu Nacional, destruído por um incêndio no dia 2 de setembro do ano passado.

A informação foi dada hoje (12) pelo diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner, após visita ao que restou do prédio do Museu Nacional, cinco meses após o incêndio que durou mais de seis horas e destruiu cerca de 20 milhões de itens que contavam parte significativa da história do país.

"Já está na rua o edital para a confecção de projetos básicos para o início da restauração do nosso museu. Ainda não é o projeto definitivo para a recuperação do prédio, mas apenas da fachada do prédio, cujo valor deverá ficar um pouco acima de R$ 1 milhão", disse Kellner.

A expectativa é que as obras tenham início ainda este ano.

Segundo ele, para a recuperação total do Museu Nacional, a UFRJ já dispõe de R$ 71 milhões. Desse total, R$ 55 milhões foram obtidos a partir de emenda parlamentar para a reconstrução do Palácio Imperial e que já constam do orçamento da União para este ano.

Outros R$ 15 milhões foram alocados pelo Ministério da Educação (MEC) e parte deles (R$ 10 milhões) estão sendo utilizados de forma emergencial na estrutura criada para viabilizar as obras de escoramento da estrutura física do museu e também na própria montagem deste escoramento e da cobertura provisória das instalações.

Ele adiantou que o Museu Nacional pretende realizar ainda este ano uma exposição com todo o acervo e as peças que estão sendo recolhidas dos escombros do Palácio Imperial. Entre elas, raridades como o Crânio de Luzia, o fóssil mais antigo das Américas, e o meteorito Bendegó, que resistiram ao fogo.

O diretor não quis dar detalhes sobre a exposição que deverá ser realizada na própria Quinta da Boa Vista, em frente ao que restou do museu.

Visita

Pela primeira vez, cinco meses após o incêndio, o palácio que abrigava o Museu Nacional do Rio de Janeiro, foi aberto para a imprensa, e parte do acervo recuperado foi apresentado.

A visita foi conduzida pela coordenadora dos trabalhos de resgate e arqueóloga do Museu Nacional, Cláudia Carvalho. Segundo ela, os trabalhos de escoramento e estabilização do prédio já estão praticamente concluídos.

"Este processo encontra-se em um estágio que já permite o resgate de uma quantidade significativa de peças que estão aparentes e em condições de serem recuperadas. A partir do momento em que o prédio estiver todo estabilizado e a cobertura estiver pronta, a gente dá início a uma outra etapa, que é a de inserção em áreas que precisam de uma escavação sistemática, e que deveremos iniciar ainda em março".

Segundo a arqueóloga, os pesquisadores da UFRJ envolvidos nos trabalhos de resgate de parte das peças que faziam parte do acervo do Museu Nacional já recuperaram cerca de 2 mil itens.

"Conseguimos recuperar objetos de diferentes áreas, principalmente objetos que, pela sua natureza, são mais resistentes ao fogo. Temos cerâmicas, peças a partir de rochas. A gente identifica o acervo, depois o material vai para a área de registro onde é fotografado, catalogado e, provisoriamente, armazenado e inventariado".

A coordenadora adiantou que ainda não há prazo para a conclusão dos trabalhos de resgate, mas espera que a recuperação do acervo esteja concluída em 2019. A partir daí será possível "dar início ao processo de reavaliação, de inventário e condições de danos, trabalho que deverá está concluído em 2020, eventualmente em 2021".

Restauração

Mais de cinco meses depois do incêndio, os profissionais envolvidos no resgate das obras estão confiantes que será possível recuperar parte das coleções da instituição.

Com 200 anos de história, o museu mais antigo do Brasil - que abrigava 20 milhões de peças que datam de diferentes períodos - foi tomado pelas chamas no dia 2 de setembro do ano passado, acabando com registros da história do Brasil e um dos maiores acervos da América Latina.

Passados cinco meses, as portas do Museu foram abertas nesta terça-feira para que a imprensa pudesse ver de perto as obras de recuperação.

As fatalidades causadas pelo incêndio são incontáveis. No edifício há muitos escombros, vigas retorcidas pelas chamas, paredes derrubadas e diversas peças que estão sendo recuperadas e restauradas aos poucos.

O visual não anima, mas os funcionários do museu destacam que "já não predomina o clima de tristeza, e sim de alegria", já que "é possível recuperar mais peças do que se imaginava".

Luciana Carvalho é paleontóloga do museu e trabalha ativamente nos trabalhos de recuperação. Ela estava trabalhando na instituição no dia do incêndio e inclusive chegou a entrar em um dos edifícios para tentar salvar algumas peças. Embora as primeiras expectativas fossem muito ruins, ela explicou que "o clima atual é de alegria".

"Todos os dias as pessoas encontram algo novo e boa parte das coleções serão resgatadas", comentou à Agência Efe.

Mesmo assim, a paleontóloga ressaltou que se trata de um processo muito lento, já que o material está muito danificado e sensível. Há peças que ainda não puderam ser retiradas do museu para a restauração devido ao seu estado atual, por isso precisam ser tratadas onde estão.

Após o incêndio, o processo de recuperação é gradual devido à complexidade. É necessário estabilizar o edifício, retirar os escombros e evitar que a chuva provoque novos estragos.

Uma das arquitetas da obra, Janaína Genaro, também destacou que "o trabalho é muito detalhado e cuidadoso, desde a estabilização à retirada de escombros, entre os que há peças de enorme valor".

Cerca de 80 pessoas participam das operações de restauração, entre elas os funcionários do museu, que colaboram nos trabalhos de recuperação de maneira direta ou indireta.

O paleontólogo Sérgio Alex de Azevedo, que trabalhava em um dos laboratórios do museu antes do incêndio, explicou que após a tragédia os funcionários trocaram de função e passaram a fazer parte da equipe de restauração.

Azevedo afirmou que "a perda é incalculável", não só para o Brasil, mas para o mundo, e disse acreditar que as pessoas estão aprendendo as caraterísticas deste tipo de incidente.

"Quando as pessoas não sabem nada sobre incêndios, pensam que tudo queima junto e que o processo de recuperação é igual para todas as peças, mas não. Cada uma tem caraterísticas únicas, é um trabalho difícil", afirmou.

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