Brasil

Turistas da Copa alugam apartamentos em favelas do Rio

Enquanto isso, as tropas federais se unem à polícia no combate aos ataques das gangues de traficantes


	Menino faz embaixadinhas em favela no Rio: cerca de metade dos 600.000 visitantes estrangeiros esperados pelo País para a Copa visitarão o Rio
 (Buda Mendes/Getty Images)

Menino faz embaixadinhas em favela no Rio: cerca de metade dos 600.000 visitantes estrangeiros esperados pelo País para a Copa visitarão o Rio (Buda Mendes/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2014 às 14h34.

Rio de Janeiro - Para Dembore Silva, a Copa do Mundo deste ano no Brasil significa uma nova moto.

O jovem de 26 anos alugará sua quitinete na maior favela do Brasil durante o mês da Copa do Mundo, que termina em 13 de julho. Ele espera arrecadar R$ 4.000 (US$ 1.719) dos hóspedes dispostos a provar a vida no Rio de Janeiro, onde tropas federais estão se unindo à polícia no combate aos ataques das gangues de traficantes.

Há seis anos, o Rio começou a construir postos policiais avançados em um esforço para estabelecer a lei e a ordem e converter as favelas controladas pelas quadrilhas em vizinhanças com água corrente e eletricidade.

Até 2012, os homicídios na cidade de cerca de 6 milhões de habitantes caíram para 1.206, o menor número em mais de duas décadas, comparado com 414 em Nova York.

Em março, o Exército concordou em ajudar a polícia nas favelas, depois que pelo menos cinco oficiais foram assassinados neste ano e que postos avançados foram queimados pelo crime organizado.

“Vou sair do meu apartamento durante a Copa, mas meu bolso vai ficar tão feliz”, disse Silva, que ganha a vida guiando turistas pelas favelas do Rio.

Ele planeja usar o dinheiro para comprar uma moto, a fim de suplementar sua renda mensal de R$ 1.500, que ele obtém levando gente à Rocinha, um distrito de 70.000 habitantes sobre um morro com vista a algumas das praias do Rio. “Eu poderia ganhar mais R$ 1.000 se tivesse uma moto”.


Cerca de metade dos 600.000 visitantes estrangeiros esperados pelo País para a Copa visitarão o Rio, segundo a agência de turismo do Brasil. Eles concorrerão por 55.400 quartos de hotel, disse a agência, e boa parte da demanda restante será satisfeita por pessoas que alugarão suas casas.

A falta de transporte formal, restaurantes e lojas manterá a maioria dos visitantes afastada das favelas, disse Marcelo Haddad, diretor da agência de promoção de investimentos Rio Negócios.

“Eu não posso imaginar uma audiência padrão para a Copa do Mundo indo para a Rocinha, ela não tem nada a oferecer”, disse Haddad. “Não é nem um pouco convencional”.

22 por cento

1,4 milhão de pessoas moram nas favelas do Rio, 22 por cento da população da cidade, segundo o censo de 2010. É quase a população da Filadélfia, EUA.

Silva se mudará para a casa da namorada, que mora por perto. Ele não é o único morador das favelas tentando aproveitar a Copa e as medidas tomadas pela prefeitura da cidade para “pacificar” as comunidades nos morros, que até a chegada das unidades policiais eram controladas por gangues de traficantes fortemente armadas. A polícia ocupou a Rocinha em setembro de 2012.


Mesmo com a polícia patrulhando, o som de disparos ainda crepita ocasionalmente através da estreita malha de becos íngremes que forma as vizinhanças.

Silva, que leva as palavras “Perdoai-me pelos meus pecados” tatuadas no pescoço, diz que a Rocinha é mais segura para os turistas do que os bairros exclusivos de Ipanema e Leblon, onde está localizada a maioria dos melhores hotéis da cidade.

Empreendedores das favelas como o americano Elliot Rosenberg, 24, que criou o site Favela Experience, com avaliações das propriedades disponíveis para aluguel, e o britânico Andy Allan, que está criando um camping para a Copa no subúrbio de Recreio, se beneficiam da burocracia para entrar no negócio da hotelaria formal. Eles não têm que lidar com ela.

Facilidade de negócios

O Brasil é o 116° colocado na lista de 189 países do ranking do Banco Mundial sobre a facilidade para fazer negócios. O país gastará cerca de R$ 26,5 bilhões para sediar a Copa do Mundo.

A segurança pode ser uma preocupação. Centenas de torcedores estrangeiros dormindo em barracas provavelmente atraiam a atenção dos ladrões, disse Allan. O camping contratará um serviço de segurança privada, acrescentou ele.

“Com 800 pessoas aqui, há o risco de os ladrões saberem disso e pensarem que vão chegar e aproveitar sua oportunidade, mas estamos muito longe de todas as favelas”, disse ele.

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