Troca de acusações marca debate entre Paes e Witzel no Rio de Janeiro
"Quase um lobo em pele de cordeiro, ou um kinder ovo: a cada hora você descobre uma surpresa diferente", disse Paes sobre Witzel
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de outubro de 2018 às 10h04.
Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 10h16.
Rio, 26 - Muita troca de acusações e pouca discussão sobre projetos de governo deram o tom do debate promovido pela TV Globo na noite desta quinta-feira (25) entre os candidatos a governador do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM) e Wilson Witzel (PSC).
Paes foi tratado pelo adversário como "o candidato do (ex-governador Sérgio) Cabral (preso e condenado por corrupção) e do (atual governador Luiz Fernando) Pezão (cuja popularidade é muito baixa)", enquanto Witzel foi chamado por Paes de "candidato do Pastor Everaldo (político investigado na Lava Jato) e do (atual prefeito Marcelo) Crivella".
Logo na primeira pergunta, Paes questionou o adversário sobre sua ligação com um advogado que defendeu o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, citando uma conversa por rede social em que Witzel teria combinado a entrega de dinheiro ao advogado. Witzel tentou falar sobre programa de governo e foi acusado por Paes de desviar do assunto. Então o candidato do PSC acusou Paes de responder a inquéritos e de estar disputando essa eleição com base numa liminar da Justiça.
Paes manteve os ataques acusando o adversário de, como juiz federal, ter recebido salário de até R$ 81 mil e auxílio-moradia, mesmo tendo casa própria. Ele comparou Witzel com outros juízes federais: "Você não é o (Sérgio) Moro, não é o (Marcelo) Bretas, não é a Denise Frossard", afirmou. "Esses sim fizeram grandes trabalhos no Judiciário". O candidato do PSC retrucou afirmando que sempre trabalhou para merecer esses salários e que nunca praticou irregularidades.
O segundo bloco começou mais ameno, com debate sobre os planos de governo dos dois candidatos. Witzel disse ser contra a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), empresa estadual empenhada por conta do plano de recuperação fiscal firmado pelo governo estadual com o governo federal. Paes concordou que a Cedae não deve ser privatizada.
Na segunda pergunta, porém, os candidatos voltaram a trocar acusações. Paes chamou Witzel de "candidato do Crivella", e Witzel rebateu dizendo que não pediu o apoio dele. Disse ainda que o atual prefeito faz uma "péssima gestão" e que até tentou ajudá-lo.
O clima beligerante continuou no bloco seguinte, quando Witzel, ao perguntar sobre planos para educação, ligou a candidatura do adversário com o PT. "Lá vem ele começar a usar escada, negócio de PT e Bolsonaro. O PT tinha a Marcia Tiburi candidata e não está apoiando minha candidatura", retrucou o candidato do DEM. Witzel disse que vai impedir a partidarização do ensino e citou o projeto da Escola sem Partido, proposto por Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo PSL no Rio de Janeiro e filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Witzel então agradeceu a Flávio por ter autorizado o uso de imagens dele na sua propaganda eleitoral. Dirigindo-se a Paes, afirmou que "seu partido tinha ido à Justiça para impedir que ele aparecesse nas propagandas. Hoje ele deu autorização, estou feliz".
Paes retrucou: "Parece uma criança. Ficou feliz porque o Flávio Bolsonaro deu licença", e foi interrompido pela plateia, que se dividia entre aplausos e vaias. Paes continuou: "Parabéns ao Flávio Bolsonaro, que foi eleito senador. A gente está elegendo o governador, o senador não estará no Palácio Guanabara para assinar documentos".
Na sequência, Paes perguntou a Witzel se acha normal que um candidato a governador advogue para "tanta gente envolvida na Lava Jato". O candidato do PSC foi enfático: "O que eu não acho normal é o candidato do Pezão e do Cabral, envolvido em sete delações da Lava Jato e pendurado numa liminar do Tribunal Superior Eleitoral, querer ser governador. A gente vê a arrogância do candidato. Eu fui juiz federal por 17 anos, você é bacharel em Direito, nem o exame da Ordem você conseguiu fazer, não foi aprovado, nunca estudou".
Witzel ainda disse que Paes "financiou a campanha do filho do Cabral e da filha do Eduardo Cunha", referindo-se a dois candidatos a deputado federal não eleitos, mas para cujas campanhas Paes colaborou com doações. O candidato do DEM alegou se tratar de uma decisão partidária.
Nas considerações finais, enquanto Witzel agradeceu a população, citando quem lhe ofereceu "sopa de ervilha" e "cafezinho" durante os atos de campanha, Paes continuou criticando o adversário: "Quase um lobo em pele de cordeiro, ou um kinder ovo: a cada hora você descobre uma surpresa diferente", afirmou, referindo-se a Witzel.