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Tiririca revela, afinal, o que um deputado faz

Em entrevista a EXAME.com, Tiririca faz balanço do mandato na Câmara e mostra que hoje sabe bem o que faz um deputado, embora justamente agora já não queira mais ser um


	O deputado federal Tiririca (PR-SP) com o novo visual, que tem sido comparado ao do jogador Neymar: para ele, o que os deputados mais apreciam no cargo é o poder  
 (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr/Agência Brasil)

O deputado federal Tiririca (PR-SP) com o novo visual, que tem sido comparado ao do jogador Neymar: para ele, o que os deputados mais apreciam no cargo é o poder   (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2013 às 22h53.

São Paulo – “Eu entrei para ver se poderia ajudar o povo. E estou vendo que não posso. É melhor deixar para alguém mais”.

É assim, meio desiludido, que o deputado federal Tiririca (PR-SP), famoso por ser palhaço e humorista, defende a sua já anunciada saída da vida política após o fim de seu mandato, em 2014.

Diz que sai com a sensação de dever cumprido, apesar de, realisticamente, lidar com o fato de não ter nenhum de seus projetos aprovados até lá.

A grande diferença do Tiririca de ontem - que se aventurou em 2010 a passar por uma campanha eleitoral com o slogan em que brincava com o fato de não saber o que fazia um deputado federal - é que o Tiririca de hoje sabe bem o que um parlamentar faz.

E fala tudo em entrevista a EXAME.com realizada na última quinta-feira. Na véspera, ficou na Câmara até as duas horas da manhã para votar o veto aos royalties do petróleo. “Eles trabalham pra caramba”, é como defende hoje os colegas parlamentares.

O palhaço conta ainda o que considera as conquistas no mandato e aposta no nome de outro famoso que, ao contrário dele, nunca irá largar a política, em sua avaliação. Dica: é um jogador de futebol.

EXAME.com - O senhor tem dado declarações de que não concorrerá à reeleição em 2014. Está definitivamente decidido?
Tiririca -
Estou, é coisa certa e confirmadíssima. O que quero mesmo é abandonar a vida política.

EXAME.com - O senhor já falou que o sistema legislativo brasileiro não funciona. Mas, em termos práticos, o que mudaria, se pudesse?
Tiririca -
Tem que mudar tudo. Estou sendo realista. O que acontece: você fica aqui só esperando um dia de votação. Passa o dia todinho, aí abre para as votações, mas uns aceitam, outros não. E tem o lance dos partidos - a oposição não quer, mas o governo quer. Ou vice-versa. Aí cai a votação. Ou seja, passou o dia todinho e nada foi votado. Às vezes, a semana toda. O sistema é assim. Quando eu estava fora, eu falava como muita gente fala: “esses caras ganham muito, dava para fazer alguma coisa e nem trabalham”. Mas é totalmente diferente. Os caras trabalham muito: seja em uma comissão, seja em outra, e quando vão aos estados têm que começar o trabalho bem cedo para se eleger na próxima. Só que o negócio é engessado.

EXAME.com - E o que o senhor diria que há de conquista nesses dois primeiros anos de mandato?
Tiririca -
O que eu conquistei foi o respeito dos companheiros e o respeito da mídia nacional. Isso foi importante. Eles viram que eu não entrei na política para fazer palhaçada. E estou fazendo um trabalho legal. Nada mais que um parlamentar deve fazer. Ganho para isso. Estou apresentando projetos, não falto em comissões e votações, e voto de acordo com o que acho que é bom para o povo. Estou fazendo a coisa certa, graças a Deus. Não estou decepcionando meus eleitores. E estou dando uma porrada na crítica.


EXAME.com - Quais foram os principais projetos apresentados até agora?
Tiririca -
O que gostaria que fosse aprovado - Ave Maria, se fosse, era fantástico - é o colégio para os filhos de circenses, e saúde também. É complicado: o SUS não aceita o circense por ele não ter endereço fixo. Se esse projeto fosse aprovado, era a melhor coisa da minha vida. Tem também o “Trailer, Minha Vida”, em referência ao “Minha Casa, Minha Vida”. Mas a gente sabe que é complicado. Não depende de você. São interesses diferentes. Mas estou apresentando e correndo atrás. Se só dependesse da gente, estava aprovado. Mas não é assim.

EXAME.com - O que ainda pretende conseguir neste resto de mandato?
Tiririca -
Vou continuar trabalhando como venho trabalhando: não faltando às comissões e votações e votando sempre de acordo com o que acho que é bom para o povo. Mas estou sendo muito sincero com os eleitores que votaram em mim. Não quero vir mais porque não dá para fazer muita coisa. Você veja: são 513 deputados, mas só sete nunca faltaram. E eu sou um desses sete. Eu pretendo nesses dois não ter falta nenhuma, sempre batalhando para ver o que vai dar. Mas a gente sabe que não rola. Então não quero mentir para o povo.

EXAME.com - Você acredita que sairá daqui dois anos sem ter aprovado nada?
Tiririca -
Tem colegas deputados que estão no 6º mandato e não aprovaram projetos, para você ver como a coisa é difícil. Se eu sair nesses dois anos que faltam já fazendo o que fiz nesses dois que passaram, é uma vitória para mim.

EXAME.com - A música de trabalho do seu novo CD se chama “Estou no poder” e fala da sua eleição. Mas não há piadas com os deputados. Não vai ter?
Tiririca -
É como se fosse um desabafo, bem light, mas é um desabafo. Foi o que sofri. Mas piada não vou fazer porque acho um desrespeito. Estou dentro e sei que os caras trabalham, só que mecânica é desse jeito. No plenário funciona dessa forma. Ontem foi uma loucura (votação do veto aos royalties do petróleo). Saí quase duas horas da manhã. Aquele impasse - uns queriam, outros não, uns abandonaram. É complicado, mas é assim que funciona. Eu já caí na real que funciona assim e não adianta forçar a barra. Eu quero, se Deus quiser, segurar esses dois anos aí com vida e saúde e fazer o que venho fazendo.

EXAME.com - O senhor reconhece que a sua imagem pública melhorou?
Tiririca -
Melhorou em termos do preconceito. É a realidade, existe um preconceito grande com um cara que lançou “Florentina”, que foi aquele estouro e sucesso. O povão se identifica pra caramba, o povão torce, me coloca aqui, acredita em mim, compra CD. O povo gosta de ver um cara como a gente e pensar “eu também vou conseguir”. Eu cheguei aqui e tem parlamentares que me conhecem desde a época em que eu fazia shows nas barracas de praia de Fortaleza e não admitiam. Mas hoje eles falam “sou seu fã”. O que acrescentou foi esse lance: onde eu não entrava, estou entrando. Sou até internacional! (Financial Times e Reuters, entre outros, já publicaram entrevistas no exterior) Quer dizer, o que a “Florentina” - e Deus - não tinha me dado era só isso aí. 

EXAME.com - Muitos afirmam nas redes sociais que o senhor entrou na política pelo dinheiro. Como é o senhor responde a isso?
Tiririca -
Para ter uma ideia, o dinheiro que ganho aqui por mês tiro em um show que faço por noite. Num final de semana, faço dois shows, por baixo. Ou seja, o fim de semana é equivalente a dois meses de trabalho. Não é pelo dinheiro. E acredito que a maioria das pessoas aqui também não. Tanto é que gente de origem humilde, mas humilde mesmo, aqui, só conheço eu. O restante é empresário, médico, advogado, pessoas estudadas.


EXAME.com - Mas pode haver várias outras razões para eles entrarem aí.
Tiririca -
Poder. Só o poder. Para eles, é tudo. Tem cara dono de empresa que não está nem aí para a grana. O lance aqui é o poder e também as coisas boas que tem: o lance de prisão, já que não é qualquer um que pode te prender, além da justiça ser totalmente diferente. É o poder. Mas isso para mim não quer dizer nada. Eu entrei para ver se poderia ajudar o povo. E estou vendo que não posso.

EXAME.com - Podemos supor que você sabe hoje o que um deputado faz?
Tiririca -
Sei: trabalha muito e produz pouco. Trabalha pra caramba. E no caso, eu, como artista popular, até trabalho mais porque tenho que tirar fotos e recebo as pessoas. No nosso gabinete, nesse momento em que estamos falando aqui, tem mais de 150 pessoas do lado de fora. Hoje eu recebo a galera toda porque não está rolando nada (sem votações no plenário - a entrevista foi feita na última quinta-feira à tarde). Toda semana eu tiro duas horas para receber gente do Brasil inteiro. É muito massa: é foto, pessoas trazendo projetos, gente agradecendo e aconselhando, é muito gostoso.

EXAME.com - O senhor acha que foi um pouco ingênuo em pensar que poderia fazer muita coisa no Congresso?
Tiririca -
Não. Eu pensei que poderia fazer mais do que faço no meio artístico. Tanto foi que quando recebi o convite um ano antes das eleições, falei com minha mãe. “Ó, o partido me chamou, o que a senhora acha?”. Ela falou, “acho legal, se você for eleito vai ajudar muita gente”. Ela também tinha essa visão. Aí fui eleito com aquela votação linda (1,3 milhão de votos). “Caramba, vou chegar e aprovar projetos”. Mas quando você está dentro, vê que não é assim.

EXAME.com - E atuando no Executivo, como prefeito, por exemplo, que é um cargo mais prático, não seria melhor?
Tiririca -
É mais complicado porque a cobrança é maior. O povo não entende, quer de tudo. Nem penso nisso. Penso realmente em sair e curtir a minha vida, minha filhinha de 3 aninhos. Estou vendo ela aprender a andar, estudar, é a coisa mais linda do mundo. Quero mesmo é levar alegria para o povo. Se puder ajudar, vou ajudar, meto a mão no bolso e vou ajudar uma instituição, com um show, por exemplo, junto com uns colegas. É mais fácil fazer, porque é você que dita.

EXAME.com - Mas a experiência foi boa?
Tiririca -
A experiência foi muito boa, a gente cresce com isso, a gente passa a ter outra visão da politica. Está sendo um aprendizado fantástico para minha vida que vou levar para sempre. O respeito que os caras têm por mim aqui é maravilhoso.

EXAME.com - Você sente que outros famosos na Câmara poderiam ter essa vontade de voltar à carreira original e deixar a política?
Tiririca -
Eu posso estar falando bobeira, mas acredito que Romário vai ser difícil sair. Ele está entusiasmado, gostando da coisa, correndo atrás e botando a boca no trombone. É o jeito dele e é ideal para ele. É um bom politico, sabe fazer a jogada. É o lance do poder. Ele não vai sair mais. Mas para mim, não é minha praia. Não estou vendo retorno para o povo nem podendo fazer muita coisa, então é melhor deixar para alguém mais. 

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