Texto-base da reforma trabalhista é aprovado por 296 a 177 votos
O texto ainda pode ser alterado por emendas que foram destacadas para votações separadas
Reuters
Publicado em 26 de abril de 2017 às 22h43.
Última atualização em 27 de abril de 2017 às 13h05.
Brasília - Às vésperas da greve geral e manifestações previstas para a sexta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira o texto-base da reforma trabalhista , mas o placar da votação não traz tranquilidade ao governo sobre o futuro da proposta previdenciária, peça-chave na agenda do governo.
A aprovação da proposta era encarada pelo Planalto como o primeiro grande teste de sua base para a votação da reforma da Previdência, ainda que precisasse apenas de maioria simples e não os 308 votos necessários para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), caso da reforma da Previdência.
Apesar da vitória folgada nesta noite --foram 296 votos a 177--, o fato de o placar não alcançar os 308 votos favoráveis mostra que a base ainda oferece alguma resistência às reformas. Veja como votou cada deputado .
Indícios de que o governo pode enfrentar dificuldades na votação da Previdência já surgiram na terça-feira, quando aliados não garantiram em plenário os votos necessários para manter parte do projeto sobre a recuperação fiscal dos Estados que tratava justamente do aumento da contribuição previdenciária de sevidores estaduais.
A derrota na véspera sinalizou, na avaliação de um integrante da base que não simpatiza com as reformas, como parte considerável da base pode se comportar. Não à toa, o Diário Oficial desta quarta-feira trouxe a exoneração de três ministros com mandato de deputados, para que participassem das votações. Um quarto, justamente o do Trabalho, Ronaldo Nogueira, foi exonerado à noite com o mesmo propósito.
Apesar de o placar da votação não ser o ideal, o governo comemorou o resultado.
"O presidente Michel Temer agradece à base de apoio do governo e às lideranças partidárias, ministros de Estado, governadores, prefeitos e representantes empresariais e sindicais que atuaram decididamente em favor da aprovação do projeto na Câmara", disse o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, após a votação.
Além das questões internas, aliados do governo enfrentaram forte obstrução da oposição para a proposta que prevê a prevalência de acordos entre empregados e patrões sobre a legislação vigente, retira o caráter obrigatório do imposto sindical e reduz a atuação da Justiça do Trabalho.
Em mais de um momento, deputados de oposição subiram no local do plenário onde fica a Mesa da Casa, com grandes cartazes simulando uma carteira de trabalho com dizeres como "direitos legais derrubados", "trabalhador parcial no lugar do integral" e "teletrabalho sem hora extra".
Em outro protesto, um parlamentar, vestido de operário, chegou a provocar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a suspender a sessão por alguns segundos. É que as regras da Casa estabelecem que os presentes no plenário e nas áreas privativas a parlamentares usem traje passeio completo.
À cena, seguiu-se novo protesto com direito a cartazes, caixões em referência à morte da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), cruzes e gritos de "Fora Temer".
A reforma
Segundo o relator da proposta, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), o projeto segue um eixo principal, na intenção de modernizar as leis que regem o trabalho: os acordos e negociações prevalecerão sobre a legislação vigente.
O texto de Marinho traz uma lista de exemplos nos quais os acordos entre trabalhadores e patrões terão validade acima da legislação, mas também elenca um rol de direitos e garantias que não poderão ser reduzidos ou suprimidos. Em outra frente, sob o argumento de que a medida fortalecerá a atuação dos sindicatos, a proposta retira o caráter obrigatório da contribuição sindical.
O relatório também levou em conta o princípio da intervenção mínima do Judiciário nas negociações trabalhistas. Para o relator, a iniciativa combate o "excesso de judicialização" e dá segurança jurídica para o empregador.
O projeto aprovado nesta quarta permite ainda o trabalho intermitente, regulamenta o chamado teletrabalho e autoriza a contratação de trabalhador terceirizado para a atividade-fim da empresa, além de firmar uma quarentena para a contratação de um mesmo funcionário na modalidade terceirizada que tenha sido demitido pela empresa nos 18 meses anteriores.
A proposta como um todo foi duramente atacada pela oposição, que a encara como um retrocesso das leis trabalhistas.
"Nós temos muito claro que essa proposta de reforma, ou deforma, dos direitos trabalhistas é para precarizar, é inaceitável. Vai valer não mais a lei, vai valer o acordado", disse o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) no plenário.
Em referência à greve geral convocada para a sexta-feira, o deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que o "Brasil vai parar" porque "o arrocho está demais".
O líder da Maioria na Câmara, Lelo Coimbra (PMDB-ES), por sua vez, subiu à tribuna para defender a proposta como uma alternativa para restaurar a economia e gerar empregos.
"Cabe-nos a obrigação de respondermos, enquanto Parlamento... por um Brasil que quer buscar a sua possibilidade de geração de emprego e renda, que quer, na flexibilização das relações de trabalho, poder oferecer àquele que está se somando ao conjunto de trabalhadores desempregados... aquilo que nos é exigido neste momento brasileiro", disse o líder.
"Da mesma forma, nós vamos enfrentar, ao longo da próxima semana, no mês de maio, o debate envolvendo a Previdência", lembrou.
Deputados ainda precisam analisar uma série de emendas que podem alterar o teor do projeto. Uma vez concluída a votação na Câmara, a proposta segue para o Senado.