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Testemunha diz que fez depósitos em dinheiro para ex-diretor do Dersa

O ex-diretor da estatal paulista foi denunciado, com outros 13 investigados, pelos crimes de fraude à licitação

DERSA Desenvolvimento Rodoviário S/A (DERSA/Divulgação)

DERSA Desenvolvimento Rodoviário S/A (DERSA/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de agosto de 2018 às 15h31.

Última atualização em 11 de agosto de 2018 às 15h33.

São Paulo - A auxiliar administrativo Jucelene Aparecida Ferreira Dornellas relatou à Polícia Federal, no âmbito da Operação Pedra no Caminho, que entre 2013 e 2016, período em que trabalhou para o ex-diretor do Dersa Pedro da Silva, "sempre fez depósitos em dinheiro" nas contas da empresa e do próprio executivo. A testemunha declarou que o então gerente Valdir dos Santos Paula, da Fazenda Sagrado Coração de Jesus Agropecuária (SCJ Agropecuária), na cidade de Bofete (SP), "vinha de São Paulo com dinheiro já separado" para que ela fizesse depósitos e pagamentos.

A fazenda foi propriedade de Pedro da Silva, preso desde 21 de junho. O ex-diretor da estatal paulista foi denunciado, no mês seguinte, com outros 13 investigados, pela força-tarefa da Operação Lava Jato, em São Paulo, pelos crimes de fraude à licitação, falsidade ideológica e organização criminosa no Rodoanel Norte.

"A declarante informa que era atribuição dela efetuar depósitos diversos determinados por Valdir dos Santos Paula, em espécie ou em cheques, inclusive em valores altos, sendo que não questionava qual era a origem ou o motivo do depósito, pois se não, poderia ser demitida", afirmou.

A ex-funcionária do executivo prestou depoimento em 21 de junho, dia em que foi deflagrada a Pedra no Caminho. As declarações foram tomadas na Fazenda Sagrado Coração de Jesus Agropecuária (SCJ Agropecuária).

Jucelene contou que, em uma ocasião, Valdir dos Santos Paula lhe disse que, "caso fosse questionada sobre a origem do dinheiro, deveria dizer que era em virtude da venda de gado de outra fazenda de propriedade de Pedro da Silva". A auxiliar declarou que `não costumava fazer perguntas sobre os depósitos, tendo medo de perder o emprego, e entendia que sempre seriam em razão da venda de gado e insumos das fazendas".

"Todos os comprovantes de depósitos que efetuava eram entregues pessoalmente ao Valdir, que os guardava em um cofre na sua sala; que quando a fazenda foi vendida Valdir foi embora e levou referidos documentos, não mantendo contato com o mesmo desde então, exceto um telefonema em que trataram sobre reclamações trabalhistas de ex-funcionários", narrou.

Durante o depoimento, a PF questionou Jucelene sobre sete depósitos em espécie. Os repasses variaram entre R$ 12 mil e R$ 60 mil.

De acordo com a auxiliar administrativo, ela, "pelo que se recorda, efetuou de fato nas contas de titularidade de Pedro da Silva e de suas empresas SCJ Agropecuária e Stars Bar, achando que era para pagamentos de funcionários da empresa SCJ, aquelas em valores mais altos, e as de valores mais baixos para pagamentos de prestadores de serviço da própria fazenda, tais como pedreiros, serralheiros e marcenaria".

"Esclarece que o motivo dos depósitos ocorrerem em espécie, é que Valdir lhe trazia desta forma ou então em cheques e já lhe entregava tudo separado e lhe orientava como deveria fazer os depósitos; que todas as negociações eram feitas por Valdir quem obedecia ordens, o qual tinha um trato bastante ríspido e direto, sendo que Pedro da Silva nunca lhe passou qualquer orientação ou ordens sobre a administração da fazenda, sendo mais calmo", contou.

"Acredita que os valores sejam oriundos da venda de gado e outros insumos de fazendas em Minas Gerais e na própria fazenda SCJ, porém não existem mais quaisquer documentos no local, pois Valdir levou todos consigo, bem como todos os computadores que eram usados na fazenda."

Jucelene ainda declarou que "nunca combinou encontros para receber o dinheiro dos depósitos pois como já disse os valores eram entregues por Valdir já separado e isso ocorria no escritório da fazenda". A ex-funcionária de Pedro da Silva disse que "nunca recebeu qualquer porcentagem dos valores depositados em espécie nas contas" do ex-diretor do Dersa.

"Nem a gasolina do seu veículo era reembolsada, pois tinha receio de transportar o dinheiro no carro da fazenda e se tornar alvo de roubo", afirmou. "Apesar de nunca ter questionado Valdir sobre a origem dos valores, em certa oportunidade teve uma conversa com o mesmo alegando que não se sentia segura em levar altos valores em espécie ao banco, até por que a agência era em Botucatu/SP, o que fez com que Valdir abrisse uma conta em no banco Santander em Bofete/SP, mas mesmo assim os valores continuaram sendo depositados em espécie", declarou.

"Valdir dizia que não poderia fazer os depósitos ou as planilhas de contas a pagar, deixando estes serviços para a declarante, pois ele tinha outros afazeres e a declarante obedecia sem questionar nada, pois tinha medo de perder o emprego."

A reportagem não localizou Valdir dos Santos Paula.

O advogado Alamiro Velludo Salvador Netto disse que a prisão preventiva decretada em desfavor de Pedro da Silva é injusta, pois não se encontram preenchidos os requisitos necessários para sua aplicação. "Não tenho dúvida que sua inocência ficará demonstrada ao final da instrução processual. Já aportaram aos autos provas sobre a licitude dos aditamentos realizados nos contratos do Trecho Norte do Rodoanel. Da mesma forma, ficará devidamente demonstrada a origem e regularidade de seu patrimônio no procedimento instaurado para esta finalidade, oriundos de atividades particulares e legais do acusado."

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