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Temer segue com articulações enquanto espera presidência

Um personagem muito diferente está prestes a se tornar presidente, o que, em certos aspectos, é uma volta a uma época anterior

Michel Temer: Temer consultou os ex-diretores do Banco Central, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, para afinar as propostas políticas (Fotos Públicas)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de abril de 2016 às 19h23.

A política brasileira tem sido comandada, nos últimos 13 anos do governo do PT , por aqueles que acreditam em um populismo respondendo às vozes das ruas.

Agora, um personagem muito diferente está prestes a se tornar presidente, o que, em certos aspectos, é uma volta a uma época anterior.

Trata-se de um operador com conhecimento das engrenagens, um negociador com fortes laços com a comunidade dos investimentos.

O vice-presidente Michel Temer , advogado especializado em Direito Constitucional, de 75 anos, que frequenta há décadas os salões e as instituições da vida pública, ajudou a impulsionar a votação na Câmara dos Deputados favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Depois de tentar ganhar aliados de Dilma até o último minuto, Temer foi para São Paulo para iniciar a composição de seu gabinete.

Sua estratégia em alguns momentos foi pouco convencional. Um arquivo de áudio de Temer praticando o que diria ao país após uma votação pelo impeachment foi enviado a assessores próximos antes da votação e chegou aos jornais locais, aparentemente deixando-o envergonhado. Embora sua assessoria de imprensa diga que o vazamento não foi intencional, o ocorrido serviu a um objetivo porque deixou clara a intenção expressa por Temer de preservar os programas sociais mais populares, rejeitando acusações do governo contra seus planos.

Sem o apelo popular do ex-presidente Lula, do PT, Temer espera que suas primeiras políticas mostrem pequenas melhorias econômicas rapidamente para melhorar a sua imagem com os brasileiros cansados da recessão, segundo Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice.

Experiência

“Parte da crise do Brasil decorre da tensão entre o executivo e o legislativo”, disse Noronha. Embora continuem existindo outros desafios, acrescentou, “pelo menos esse elemento será aliviado com alguém com a experiência de Temer”.

Na segunda-feira, Dilma prometeu lutar contra o impeachment, que agora vai para uma comissão especial do Senado que tem a tarefa de preparar um relatório aceitando ou rejeitando as acusações. Se o processo passar pelo Senado, Dilma terá que se afastar pelo menos temporariamente e abrir espaço para Temer.

Os executivos brasileiros que não conseguiam audiências com Dilma muitas vezes procuravam Temer, que durante a maior parte do primeiro mandato teve um cargo figurativo no governo. Foi só após a reeleição, em 2014, quando a presidente precisou do Congresso para aprovar medidas impopulares de ajuste fiscal, que Dilma recorreu às conexões políticas de Temer, especialmente com seu partido, o PMDB, que controla a Câmara e o Senado.

Essas conexões e alguns dos 367 votos pró-impeachment do domingo serão a base sobre a qual Temer planeja construir suas reformas econômicas, que incluem estabelecer uma autoridade orçamentária no Congresso para avaliar os gastos em programas públicos, a elevação da idade mínima de aposentadoria e a redução do número de despesas indexadas.

Consultas, candidatos

Temer consultou os ex-diretores do Banco Central, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, para afinar as propostas políticas, e buscou o conselho de Marcos Lisboa, ex-diretor do Itaú e secretário do Ministério da Fazenda, e de Paulo Rabello de Castro, economista formado pela Universidade de Chicago e presidente da empresa de classificação SR Rating, segundo uma pessoa com conhecimento direto das conversas.

Temer passará a semana em São Paulo, discutindo candidatos aos ministérios que irão garantir lealdade política e implementar a agenda de reforma de seu partido, segundo uma pessoa que pediu anonimato porque a informação não é pública. Ele tinha planejado assistir à votação de domingo em São Paulo, mas voltou para Brasília para tranquilizar os aliados nervosos devido à ofensiva de última hora do governo.

A última esperança de Dilma para evitar seu impeachment é Renan Calheiros, o presidente do Senado, que no passado pôs em dúvida a capacidade de Temer de unir seu partido, e mais ainda de unir o país. Calheiros tem sido um dos caciques do PMDB mais dispostos a jogar ao lado do governo, mesmo sob pressão do restante do partido para cortar laços com a base aliada.

Outra variável é a Lava Jato, que já dura dois anos, e que colocou na prisão executivos e políticos importantes. Isso provoca nervosismo em Brasília com a expectativa de que qualquer um -- aliado ou inimigo -- possa ser o próximo a ser preso.

“O menor indício de perda de força da Lava Jato seria letal”, disse Nicholas Spiro, sócio da Lauressa Advisory.

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A política brasileira tem sido comandada, nos últimos 13 anos do governo do PT , por aqueles que acreditam em um populismo respondendo às vozes das ruas.

Agora, um personagem muito diferente está prestes a se tornar presidente, o que, em certos aspectos, é uma volta a uma época anterior.

Trata-se de um operador com conhecimento das engrenagens, um negociador com fortes laços com a comunidade dos investimentos.

O vice-presidente Michel Temer , advogado especializado em Direito Constitucional, de 75 anos, que frequenta há décadas os salões e as instituições da vida pública, ajudou a impulsionar a votação na Câmara dos Deputados favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Depois de tentar ganhar aliados de Dilma até o último minuto, Temer foi para São Paulo para iniciar a composição de seu gabinete.

Sua estratégia em alguns momentos foi pouco convencional. Um arquivo de áudio de Temer praticando o que diria ao país após uma votação pelo impeachment foi enviado a assessores próximos antes da votação e chegou aos jornais locais, aparentemente deixando-o envergonhado. Embora sua assessoria de imprensa diga que o vazamento não foi intencional, o ocorrido serviu a um objetivo porque deixou clara a intenção expressa por Temer de preservar os programas sociais mais populares, rejeitando acusações do governo contra seus planos.

Sem o apelo popular do ex-presidente Lula, do PT, Temer espera que suas primeiras políticas mostrem pequenas melhorias econômicas rapidamente para melhorar a sua imagem com os brasileiros cansados da recessão, segundo Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice.

Experiência

“Parte da crise do Brasil decorre da tensão entre o executivo e o legislativo”, disse Noronha. Embora continuem existindo outros desafios, acrescentou, “pelo menos esse elemento será aliviado com alguém com a experiência de Temer”.

Na segunda-feira, Dilma prometeu lutar contra o impeachment, que agora vai para uma comissão especial do Senado que tem a tarefa de preparar um relatório aceitando ou rejeitando as acusações. Se o processo passar pelo Senado, Dilma terá que se afastar pelo menos temporariamente e abrir espaço para Temer.

Os executivos brasileiros que não conseguiam audiências com Dilma muitas vezes procuravam Temer, que durante a maior parte do primeiro mandato teve um cargo figurativo no governo. Foi só após a reeleição, em 2014, quando a presidente precisou do Congresso para aprovar medidas impopulares de ajuste fiscal, que Dilma recorreu às conexões políticas de Temer, especialmente com seu partido, o PMDB, que controla a Câmara e o Senado.

Essas conexões e alguns dos 367 votos pró-impeachment do domingo serão a base sobre a qual Temer planeja construir suas reformas econômicas, que incluem estabelecer uma autoridade orçamentária no Congresso para avaliar os gastos em programas públicos, a elevação da idade mínima de aposentadoria e a redução do número de despesas indexadas.

Consultas, candidatos

Temer consultou os ex-diretores do Banco Central, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, para afinar as propostas políticas, e buscou o conselho de Marcos Lisboa, ex-diretor do Itaú e secretário do Ministério da Fazenda, e de Paulo Rabello de Castro, economista formado pela Universidade de Chicago e presidente da empresa de classificação SR Rating, segundo uma pessoa com conhecimento direto das conversas.

Temer passará a semana em São Paulo, discutindo candidatos aos ministérios que irão garantir lealdade política e implementar a agenda de reforma de seu partido, segundo uma pessoa que pediu anonimato porque a informação não é pública. Ele tinha planejado assistir à votação de domingo em São Paulo, mas voltou para Brasília para tranquilizar os aliados nervosos devido à ofensiva de última hora do governo.

A última esperança de Dilma para evitar seu impeachment é Renan Calheiros, o presidente do Senado, que no passado pôs em dúvida a capacidade de Temer de unir seu partido, e mais ainda de unir o país. Calheiros tem sido um dos caciques do PMDB mais dispostos a jogar ao lado do governo, mesmo sob pressão do restante do partido para cortar laços com a base aliada.

Outra variável é a Lava Jato, que já dura dois anos, e que colocou na prisão executivos e políticos importantes. Isso provoca nervosismo em Brasília com a expectativa de que qualquer um -- aliado ou inimigo -- possa ser o próximo a ser preso.

“O menor indício de perda de força da Lava Jato seria letal”, disse Nicholas Spiro, sócio da Lauressa Advisory.

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