Michel Temer: novo presidente da empresa, Avelino Rocha, é ligado ao deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), um dos principais aliados de Temer (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 14 de agosto de 2017 às 11h54.
Brasília - Mesmo com a maior parte do PSB da Câmara tendo votado a favor do julgamento da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, ele escolheu nesta segunda-feira um nome indicado por parte da bancada do partido, Antônio Avelino Rocha, para presidir a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
O comando da Codevasf, empresa pública com orçamento bilionário, é um dos principais cargos do segundo escalão do governo por sua influência no Nordeste, e motivo de assédio dos partidos da base aliada durante e após a votação pela Câmara que impediu o Supremo Tribunal Federal (STF) de julgar a acusação criminal contra Temer.
Para nomear Avelino Rocha o governo exonerou Kênia Marcelino da presidência da Codevasf, que havia sido indicada, segundo uma fonte, pelo senador Antonio Carlos Valadares (SE), também do PSB.
O novo presidente da empresa, Avelino Rocha, é ligado ao deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), um dos principais aliados de Temer.
Heráclito negou à Reuters que a indicação de Rocha seja somente dele, mas sim de toda ala do partido que votou a favor do Temer na questão da denúncia.
Dos 35 deputados do PSB que participaram da votação, 22 votaram a favor do prosseguimento da acusação contra o presidente, 11 contra e ainda houve duas ausências. Para Heráclito, a escolha de Rocha é um reconhecimento de que o presidente leva em consideração a ala do partido que apoia o governo.
"Não tenho nenhuma dúvida disso", disse o deputado. Com o crescente racha dentro do PSB, iniciado com a posição contrária adotada pela direção sobre as reformas trabalhista e da Previdência, cresceram as discussões sobre a saída de vários parlamentares da legenda.
A mudança na Codevasf deve aumentar o nível de insatisfação de partidos da base com o presidente, uma vez que legendas que votaram em peso contra a denúncia do presidente vinham pressionando por aumentar a sua participação no governo. Esperavam ser contemplados inicialmente com ministérios e depois, diante da resistência do Palácio do Planalto em promover uma reforma, ao menos postos no segundo e terceiro escalão.
Outros partidos da base pressionavam para emplacar o novo presidente da Codevasf. Um deles era o PP, partido que fechou questão em favor de Temer na denúncia e deu 37 votos contra o prosseguimento e somente sete a favor - houve ainda duas ausências.
Questionado se o reduzido apoio do PSB na comparação com outras legendas da base não seria motivo para que o governo privilegiasse os demais aliados, Heráclito Fortes discordou. "Não, os que têm cargos no PSB vão ser punidos? Não é assim."