Michel Temer: Temer confessou que quer "ser popular" (Adriano Machado / Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2016 às 16h18.
Brasília - O presidente interino, Michel Temer, se mostrou cauteloso nesta sexta-feira a respeito do processo de impeachment de Dilma Rousseff, mas disse "crer" que a governante afastada será destituída, por isso se prepara para continuar no poder e "recuperar a confiança" no país.
"Penso que o Senado avaliará as condições políticas de quem está no governo e de quem esteve antes", declarou Temer em entrevista coletiva com correspondentes de veículos de imprensa estrangeiros, na qual ressaltou "o avanço" experimentado pelo país desde que assumiu o poder interinamente, no dia 12 de maio.
O processo contra Dilma será retomado na próxima semana e deverá terminar no fim de agosto, quando Temer ressaltou que "os investidores saberão com quem falar".
O peemedebista admitiu que o processo político do país representa incógnitas para os investidores, por isso considerou que "quanto mais demorar, pior será".
Apesar da cautela, Temer expôs seus planos como se já tivesse sido confirmado no cargo e explicou que "há uma diferença entre o presidente e a figura da presidência", que é um "dever de Estado" para quem a ostenta.
"Sei da minha atual interinidade", disse, antes de completar que, desde que assumiu o poder, tem o "dever institucional" de governar o país, independentemente do resultado do processo de impeachment.
Temer confessou que quer "ser popular" e ressaltou que o primeiro passo para isso será "encarrilhar" o país e recuperar a confiança do setor financeiro.
"Temos esperança de que, com o tempo, se reconheça que o país se está desenvolvendo" e que, "restaurada a confiança, que recupere o grau de investimento", a mais alta qualificação que as agências de risco concedem a um país e que o Brasil perdeu em 2015.
Sobre os planos de governo, o presidente interino reiterou que tem em primeiro lugar propostas de reformas ao sistema de aposentadoria e das leis trabalhistas, que considerou "prioritárias" para o país.
Também citou uma possível reforma política, que permita reduzir o número de partidos, que hoje chegam a 30, e empreender, no plano econômico, um processo de abertura à empresa privada, que contemplará "desestatizar" alguns setores.
Temer comentou que a corrupção "contaminou" quase todos os partidos do país, inclusive o PMDB, que ele presidia até o ano passado. No entanto, ressaltou que as investigações da Operação Lava Jato "são um marco" que ajudará a limpar a política e que já permitiu a aprovação de uma lei que proíbe o financiamento de campanhas por empresas privadas.
Temer também garantiu que manterá alguns programas sociais implantados pelos governos petistas de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
"Precisamos continuar com o que está bem feito", argumentou, ao reconhecer que em um país como o Brasil, com elevados índices de pobreza, "é preciso compensar as classes mais carentes".
Tachado de "golpista" por Dilma e seus simpatizantes, Temer disse lamentar a "agressividade" da governante afastada e de muitos de seus adversários políticos.
"A oposição existe para ajudar a governar, não para destruir os governos", declarou Temer, que admitiu que não conversou com Dilma nos últimos meses, mais especificamente pela postura "tão agressiva que ela tem".
No entanto, esclareceu que, se tivesse a oportunidade, "voltaria a conversar docemente" com a petista, de quem foi vice-presidente até o dia 12 de agosto, quando foi aberto o processo de impeachment no Senado.