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Taxar grandes fortunas é complicado, admite FHC

"Ouvi que era coisa de comunista", disse o ex-presidente, que tentou regulamentar artigo da Constituição quando era senador

FHC: em evento, ex-presidente também falou sobre a aposentadoria de militares (Wilson Dias/Agência Brasil)

FHC: em evento, ex-presidente também falou sobre a aposentadoria de militares (Wilson Dias/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de outubro de 2019 às 15h00.

Última atualização em 18 de outubro de 2019 às 15h30.

São Paulo — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que há duas coisas que são difíceis de serem enfrentadas no Brasil: a aposentadoria, especialmente de militar, e taxar as grandes fortunas. "Mexer com aposentadoria ou com grandes fortunas é mexer com fogo", disse, em palestra durante o 40º Congresso Brasileiro da Previdência Complementar Fechada.

FHC foi responsável, ao lado do economista e diplomata Roberto Campos, falecido em 2001, pela proposta de regulamentação do artigo da Constituição sobre grandes fortunas quando senador. "Eu ouvi que era coisa de comunista. Eu, até vai lá. Nunca fui, mas até vai lá. Mas Roberto Campos?", disse. "Mesmo que você diga que o tributo é mínimo, não adianta", afirmou.

Ainda durante sua fala, FHC abordou a pensão por morte de militar e disse que há casos, inclusive, em sua família. "Esse é um assunto delicado. Vai mexer na aposentadoria de militar? Você não imagina o que é isso!", afirmou. Por outro lado, disse que, em algum momento, será preciso enfrentar esse tema, "pelo bem estar conjunto da sociedade".

O ex-presidente disse ainda que no Brasil a aposentadoria é encarada como uma segunda fonte de renda, dado o patamar baixo dos salários. "As pessoas pressentem que podem ter uma nova oportunidade de ganho, não é que irão se aposentar e ficar em casa", disse.

"A sociedade como a nossa, que é ocidental, uma democracia, que tem liberdade, que tem o Congresso, os interesses estão lá. E quem tem voz na constituinte? Os interesses organizados", afirmou.

Democracia

FHC disse também que "uma democracia não é apenas existir eleição". "Você foi eleito no dia da eleição. Depois tem que todo dia convencer que você está exercendo um certo tipo de ação em função dos interesses da sociedade", disse, durante o Congresso Brasileiro da Previdência Complementar Fechada.

FHC afirmou que há hoje no mundo governos apontados como populistas, mas disse que o populismo atual é diferente daquele visto no passado, em especial na América Latina. "O populismo antes queria incluir, hoje ele é excludente", afirmou.

O ex-presidente disse, ainda, que o mundo hoje é interligado por "meios que não são os tradicionais" e citou que usa o Twitter para aprender. "Eu tento fazer uma coisa que é desnecessária: dizer em poucas palavras alguma coisa. Não tem que dizer nada", disse.

O presidente Jair Bolsonaro utiliza o Twitter como uma plataforma de comunicação sobre seu governo. A rede também é diariamente utilizada pelos seus filhos e muitas postagens deram origem a crises dentro do governo.

De acordo com o ex-presidente, os partidos políticos em todo o mundo estão hoje em perigo, visto que as pessoas se organizam e se unem por meio da internet.

"A diversidade era antes organizada em partidos e hoje ela está fragmentada", disse. FHC citou, como exemplo, o movimento dos coletes amarelos, na França, uma onda de protesto de origem espontânea que começou ano passado.

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