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Torcedores brasileiros viram penetras em arenas da Copa

Os preços para assistir aos clubes triplicaram, na “mais brutal exclusão” dos torcedores mais pobres da história do futebol brasileiro

Fonte Nova: as novas instalações ajudaram a aumentar as vendas de ingressos em 43% (Odebrecht/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2014 às 14h50.

Madri e Rio de Janeiro - João César diz que as arenas da Copa do Mundo no Brasil o impediram de assistir futebol.

César, que recebe R$ 787 (US$ 353) por mês montando estandes temporários para exibições, costumava pagar R$ 5 pelo ingresso para assistir aos jogos do Bahia, em Salvador.

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Agora, diz, ele só vai à nova Arena Fonte Nova nos últimos 20 minutos -- quando são abertos os portões para permitir a saída dos torcedores que pagaram pelo menos seis vezes mais.

“Eu dificilmente vejo alguma ação agora”, disse César, 35, enquanto carregava estandes de metal para os patrocinadores da Copa do Mundo, incluindo a Visa Inc., do lado de fora da arena.

A Copa do Mundo começa amanhã com o Brasil enfrentando a Croácia em São Paulo. O país investiu US$ 3,6 bilhões para construir ou expandir 12 estádios espalhados pelo país -- alguns em regiões sem um grande clube.

Embora as estruturas tenham melhores alimentos, assentos numerados e câmeras de segurança para impedir violência entre torcedores, os preços para assistir aos clubes de futebol de uma forma geral triplicaram, na “mais brutal exclusão” dos torcedores mais pobres da história do futebol brasileiro, segundo Flávio de Campos, professor de História da Universidade de São Paulo (USP), que lidera um grupo de pesquisas sobre o futebol.

Os operadores dos estádios estão atraindo mais torcedores ricos, antes afastados pelas condições miseráveis e pela violência entre torcidas, segundo Andrew Hampel, CEO da International Stadia Group, que tem sede em Londres e assessorou as operações no Rio, em Porto Alegre e em Recife sobre como aumentar as receitas.

As novas instalações, algumas inauguradas no ano passado, ajudaram os 20 maiores clubes do Brasil a aumentar as vendas de ingressos em 43 por cento, para R$ 309,6 milhões em 2013, segundo pesquisa de Amir Somoggi, consultor de marketing esportivo de São Paulo.

Nova clientela

Antonio “Toninho” Nascimento, secretário nacional do futebol, disse em uma entrevista que embora ele esteja satisfeito de que os novos estádios estejam atraindo um tipo diferente de cliente, incluindo mais mulheres e crianças, é preocupante que os torcedores mais pobres estejam sendo expulsos pelo fator preço.

“Temos que combater um pouco o elitismo desses novos estádios”, disse Nascimento.

A precificação dos ingressos da arena Fonte Nova se baseia em fatores como manutenção e custos operacionais, segundo Marluce Guimarães, porta-voz do grupo que opera o estádio e que inclui a Odebrecht SA, maior construtora do Brasil.

Os preços populares foram reduzidos em 30 por cento nos últimos 12 meses e os ingressos estão à venda para estudantes e aposentados por apenas R$ 15, desmentindo “qualquer teoria sobre elitismo”, disse Marluce, em uma resposta a questões, enviada por e-mail.

Uma análise da Bloomberg News a respeito dos preços dos ingressos no Maracanã entre julho e setembro passados mostrou que eles custavam pelo menos R$ 60 para torcedores que não eram sócios do Flamengo. O valor representa 8 por cento do salário mínimo mensal, de R$ 724.

“É proibitivo para muitos brasileiros”, disse Campos.

André Pires, porta-voz do grupo do Maracanã, que inclui a Odebrecht e a AEG, disse em um e-mail que o Flamengo estabelece os preços dos ingressos. O Fluminense ofereceu ingressos no mesmo estádio por apenas R$ 10 neste ano, acrescentou Pires.

Em Salvador, César não está se beneficiando com a Copa do Mundo. Ele disse que se acostumará à sua nova rotina após o torneio: escutar a partida pelo rádio, do lado de fora do estádio, e correr com seus amigos para lotar a geral nos minutos finais.

“É melhor do que nada”, disse ele.

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