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Sobreviventes da gripe espanhola recebem a 1ª dose contra a covid-19

"Vi muita coisa na minha vida e agora estou vivendo esse momento", disse a jornalista Zuleide Souza de Lima, de 101 anos

(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de fevereiro de 2021 às 17h38.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2021 às 18h13.

A jornalista Zuleide Souza de Lima, de 101 anos, foi a primeira a ser vacinada contra a covid-19 no Centro Municipal de Saúde Píndaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea, na zona sul do Rio, na manhã desta segunda-feira. Nascida em 1919, ela é uma das poucas sobreviventes da gripe espanhola — que matou cerca de 50 milhões de pessoas pelo mundo entre 1918 e 1920 — que moram no Rio.

Zuleide, que já contou a história de muitas pessoas, durante sua trajetória profissional, agora se vê fazendo parte de uma. Nesta segunda, de acordo com o calendário da nova etapa de vacinação, estão sendo imunizadas no estado do Rio pessoas com 99 anos ou mais. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) prevê imunizar 220.000 pessoas, acima de 80 anos, em fevereiro. Na terça-feira, será a vez dos idosos com 98, e assim, sucessivamente, até sexta, com pessoas de 95.

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"A pessoa vacinada tem uma segurança, não é mesmo? Vi muita coisa na minha vida e agora estou vivendo este momento. Momento histórico e importante para todos nós", comemorou Zuleide.

Muito alegre e ativa, a aposentada que mora no Leblon e tem uma filha, três netos e 12 bisnetos e que no próximo mês de março completa 102 anos, tem bom humor e é bastante comunicativa.

"Eu pareço com essa idade? Não, né? Olha, eu já trabalhei no Jornal O Globo e lembro das coberturas de vacinação que fizemos. Agora, estamos vivendo nessa pandemia e peço que as pessoas se vacinem. É uma coisa real [ a pandemia ] e que todos têm de tomar a vacina. Estou aliviada com esse cuidado", contou Zuleide que estava acompanhada de uma cuidadora e de uma fisioterapeuta.

Fundador de uma rede de saúde, o empresário Milton Soldani Afonso, de 99 anos, foi o segundo a receber a dose.

O idoso foi infectado pela covid-19 em agosto e ficou em estado gravíssimo no CTI de um hospital particular de Copacabana. Hoje, ao ser vacinado, Afonso, que tem quatro filhos, 12 netos e quatro bisnetos, celebrou:

"Deus tem me abençoado muito (e consegui me curar). Mais um vez eu venci uma barreira, pois a vida é uma luta. Hoje, estou vacinado. Vi a Primeira e a Segunda Guerra e agora essa pandemia. A vacina era um sonho, um sonho triste".

Vacinada aos 106 anos

A aposentada Haymee Lima Figueiredo, de 99 anos, foi a primeira pessoa a ser vacinada no sistema drive-thru na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no Maracanã, que vai reforçar a campanha de imunização realizada no Rio em fevereiro. Por dia, serão 1.000 doses da vacina contra a covid-19. Moradora de Padre Miguel, Haymme estava morando na casa da neta, em Vila Isabel, desde o começo da pandemia. Após receber a dose, Haymme começou a desenhar seus próximos planos:

"Muito feliz, muito feliz. Antes disso tudo, eu saía, não precisava usar máscara. Agora, eu já começo a pensar a encontrar meus filhos, neto e o mais importante: voltar para a minha casa. (Este dia) era tudo que eu mais queria".

Wanda de Biase, de 104 anos, foi uma das idosas a se vacinar na Uerj na manhã desta segunda-feira. Moradora de Vila Isabel, a aposentada disse em poucas palavras o que estava sentindo:

"Tô feliz. É a esperança".

Neusa Rego Teixeira da Silva, de 106 anos, outra sobrevivente da gripe espanhola, foi vacinada pouco depois das 11h. Até agora, ela é a mais velha a ser imunizada na Uerj. Nascida em 6 de março de 1914, a aposentada, que fará aniversário no próximo mês, afirmou ter ganhado o presente de aniversário antecipado. Infectada pela covid-19, em agosto do ano passado.

"Estou me sentindo bem. Não doeu, só foi uma picadinha. Já tive tudo, inclusive peguei a doença. Mas, agora é só felicidade. Eles [ a família ] querem que eu viva", contou Neusa, moradora de Copacabana. "Já ganhei o primeiro presente de aniversário."

As primeiras doses da vacina Coronavac chegaram ao local pouco depois das 9h em um carro da prefeitura do Rio. Além das mais de 230 unidades de saúde do município, a partir de agora a Uerj também imunizará pessoas do grupo de risco e que estão no quadro prioritário. Parceria entre a universidade e a prefeitura aconteceu após uma reunião entre o estado e o município na última terça-feira. O objetivo é evitar aglomerações em postos de saúde e preservar a vida dos idosos.

Vacinação no Alemão

Hilda da Silva Ferreira, de 102 anos, e Maria Borel, de 101, moradoras do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, eram bebês quando a gripe espanhola assolou o mundo. Nesta segunda-feira, elas foram imunizadas durante outra pandemia. Pouco depois das 9h, uma equipe da Secretaria de Assistência Social chegou à casa das idosas e as acompanharam até Clínica da Família Zilda Arns, a cerca de 15 minutos de suas casas. As duas moram no alto da comunidade.

Hilda e Maria foram as primeiras a integrar a ação especial com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para que a vacina chegue aos mais de 25.000 idosos em situação de vulnerabilidade no Rio, a maioria abaixo da linha da pobreza.

Mineira de Manhuaçu, no interior do estado vizinho, Maria chegou a morar em Vitória. Há 51 anos anos ela veio para o Rio, desembarcando no Alemão. Mãe de cinco filhos, dez netos e nove bisnetos, ela começou a lavar roupas para fora assim que ficou viúva. Hoje ela mora sozinha na subida do Complexo do Alemão, com entrada pela Estrada do Itararé. A família mora em casas próximas e cuida dela. Ela recebeu a vacina do bisneto Marlúcio Rodrigues Ferreira Junior, de 25 anos, que é técnico de enfermagem da Clínica da Família Zilda Arns.

Maria acordou cedo e ficou esperando o transporte para ser vacinada na casa da neta Andreia Rodrigues, de 48 anos. Ela aguardava sentada numa cadeira na porta da casa da neta, toda arrumada, com o cabelo preso em coque com trança e laço cinza, e muito feliz porque ia receber a vacina. Tudo o que ela mais quer desde que a pandemia começou é receber visitas.

"Tudo que eu quero também é ir à igreja."

A segunda idosa vacinada no Alemão foi Hilda da Silva Ferreira, de 102 anos, carioca, nascida no Flamengo e criada em Nova Friburgo. Foi doméstica, fiadeira da Fábrica de Tecidos e trabalhou na linha de produção da perfumaria Beija-Flor. Mora com a neta Ana Paula Diniz Ferreira. Hilda teve um filho adotivo que morreu de câncer aos 72 anos. Ela agradeceu muito a Deus depois que tomou a vacina e disse que vai conversar com todos os que conhece para que todo mundo se vacine e para que "todos possam viver em paz".

As secretarias de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida e de Assistência Social e Direitos Humanos ajudarão a SMS a levar a imunização para essa parcela da sociedade. Idosos dos programas sociais também serão vacinados. Aqueles que não têm condições de locomoção receberão a vacina em casa.

"São 20.000 idosos que estão abaixo da linha da pobreza ou que recebem programas sociais. Essas vacinas serão, principalmente, para quem mora em comunidades. Eles serão transportados para a vacinação. Se o idoso for acamado, o profissional de Saúde irá até a casa do paciente", afirma o secretário Daniel Soranz.

Tem repescagem

Aos sábados, haverá uma segunda chance para quem perdeu a data marcada.

O que levar no dia?

Para ser imunizados, os idosos precisarão apresentar documento com foto — quem tiver carteira de vacinação também deve levar.

Onde se vacinar?

As 232 unidades básicas da prefeitura vão aplicar as doses, das 8h às 17h. Para saber o local mais perto de sua casa, entre no site subpav.org/ondeseratendido/

Contra o desperdício

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, todas as mais de 200 unidade da cidade que estão fornecendo as doses das vacinas contra a covid-19 foram orientadas a vacinar os pacientes, no período da manhã, com os imunizantes da Oxford/AstraZeneca. O motivo é que cada frasco desta vacina contém dez doses, e o produzido pelo Instituto Butantan vem com uma só dose.

"Não há distinção das vacinações, mas estamos orientando a usar a Oxford, de manhã, porque vem mais doses, e a da Coronavac, à tarde porque é uma dose. A ideia é que não tenhamos o desperdício da vacina", afirmou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

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