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"Só vejo acúmulo de óbitos", diz Mandetta ao criticar militares na Saúde

Ex-ministro da Saúde afirmou que Bolsonaro desvia o foco da omissão do governo federal na pandemia ao estimular o debate sobre a cloroquina

Mandetta: ex-ministro criticou a interferência de Bolsonaro em ações da Saúde (Adriano Machado/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de julho de 2020 às 06h17.

Última atualização em 14 de julho de 2020 às 14h22.

Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) afirmou que os militares que agora comandam a pasta, liderados pelo general Eduardo Pazuello, são especialistas em "balística" em vez de "logística". "Eu só vejo é acúmulo de óbitos nessa política que está sendo feita", disse Mandetta.

O ex-ministro criticou a interferência do presidente Jair Bolsonaro em ações da Saúde. "Nós víamos sistematicamente a anticiência se propagar", disse. Ele afirmou ainda que a Saúde perdeu a credibilidade após o governo federal tentar alterar a forma de divulgação de dados sobre a doença. "Você ter segredos é o caminho mais rápido para a tragédia. Primeira coisas que (os militares) fizeram foi não mais mostrar os dados às cinco da tarde. O Ministério da Saúde perdeu a credibilidade", disse.

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As declarações foram dadas em debate da revista IstoÉ, transmitido pela internet, no sábado, 11. No mesmo evento, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o Exército está se associando a um “genocídio". "Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso", disse Mendes. Por causa desta fala, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, anunciou nesta segunda-feira, 13, que vai encaminhar uma representação à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Gilmar.

Mandetta afirmou ainda que Bolsonaro desvia o foco da omissão do governo federal na pandemia ao estimular o debate sobre uso da cloroquina, medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19. "Quando ele lança a cloroquina, faz as pessoas ficarem nessa discussão, para esquecer a discussão verdadeira. Faz a massa não debater o verdadeiro problema: ausência total de política do governo federal."

Por divergências com o presidente, Mandetta foi demitido em 16 de abril. O oncologista Nelson Teich, seu sucessor, pediu para deixar o governo em 15 de maio. Desde então a Saúde está sob comando interino de Pazuello.

"O Presidente da República nunca deixou de saber quais eram os cenários reais (da pandemia). Não foi por desconhecimento. Foi por opção de não seguir orientações do Ministério da Saúde e seguir uma assessoria que ele achava mais pertinente, mais conveniente", afirmou Mandetta.

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