Produção de autopeças da Sifco: trata-se do nono caso desde que o Brasil passou a frequentar mais assiduamente o mercado de dívida externa (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2014 às 21h26.
São Paulo - A fornecedora de autopeças Sifco entrou com pedido de recuperação judicial ontem e juntou-se ao grupo de companhias com bônus emitidos no exterior que terá de renegociar com credores estrangeiros.
O montante de dívida externa da companhia de US$ 95 milhões é baixo perto dos exuberantes US$ 3,6 bilhões da petroleira de Eike Batista OGX, que fez história entre os credores estrangeiros.
Mas trata-se do nono caso desde que o Brasil passou a frequentar mais assiduamente o mercado de dívida externa na esteira da obtenção do grau de investimento pelo País em 2008, envolvendo renegociações de dívida de aproximadamente US$ 5,7 bilhões - considerando-se o valor de face emitido.
Esse crescimento somado à redução do ritmo de expansão da economia brasileira chama a atenção de investidores que têm como foco o investimento em bônus com dívida vencida, ou também conhecidos como distressed bonds.
De 2009 a 2013, o total de emissões brasileiras feitas lá fora, soberanas e por empresas, soma US$ 195,4 bilhões, de acordo com levantamento feito pela Dealogic, que compila globalmente esses números. O montante é pouco mais de US$ 100 bilhões superior ao que foi captado no período de oito anos anteriores, entre 2000 e 2008, de US$ 95,6 bilhões.
Este ano, além da Sifco, a companhia do setor sucroalcooleiro Aralco também anunciou pedido de recuperação judicial aos detentores de US$ 250 milhões de bônus com vencimento em 2020. A Aralco entrou com pedido de recuperação judicial no dia 28 de fevereiro, apresentando dívidas de R$ 1,04 bilhão.
A maior parte é representada por credores externos, que detém US$ 250 milhões em bônus com vencimento em 2020 e o primeiro pagamento de cupom dos bônus está previsto para acontecer no dia 07 de maio, num montante de US$ 50,625 mil, conforme fontes do mercado secundário de dívida. Com o processo de recuperação correndo, o pagamento ficará congelado. O pedido ainda não foi deferido pela Justiça.
Ainda no grupo de Eike Batista, além da OGX, a OSX também teve de renegociar suas dívidas, envolvendo US$ 500 milhões emitidos lá fora. Além dessas empresas deram calote no exterior o Grupo Rede Energia, em US$ 495,6 milhões de bônus que estavam no mercado no pedido de recuperação; o Frigorífico Independência com US$ 138 milhões em bônus; a Lupatech, com US$ 275 milhões; e os bancos Cruzeiro do Sul (US$ 250 milhões) e BVA (US$ 45 milhões).
"A procura por nossos serviços tem aumentado por investidores de mercado secundário e interessados em comprar papéis de companhias que estão em risco de não pagarem suas dívidas", disse Sam Aguirre, diretor de Corporate Finance da FTI Consulting, especializada em reestruturação de empresas e litígios.
Segundo ele, esses são investidores que buscam comprar os bônus quando estão em seus piores níveis e vendê-los quando o plano de recuperação é desenhado e as perspectivas de recuperação melhoram, elevando seus preços.
Em comunicado, a Sfico atribuiu o pedido de recuperação às dificuldades que tem enfrentado em suas operações desde a crise financeira mundial iniciada em setembro de 2008 "e que agora se agravaram como resultado da repentina desaceleração econômica que afeta os setores produtivos do País".
Os bônus externos com vencimento em 2016, que somam US$ 75 milhões, já embutem a perspectiva de um calote desde janeiro, operando a 30% do valor de face. Hoje caíram para 10% do valor de face.
Aralco é negociada a 10,5% do valor de face, acima dos 8% que atingiram quando o pedido de recuperação foi anunciado.