Sérgio Cabral: ex-governador é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha (Daniel Munoz/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 11h31.
São Paulo - O Ministério Público Federal aponta que a propina exigida à empreiteira Andrade Gutierrez pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), durante sua gestão, alcança a fortuna de R$ 25 milhões.
Os valores saíram de contratos de obras firmadas entre o Estado e a companhia.
Cabral é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha/pertinência à organização criminosa. Ele foi preso no dia 17 de novembro na Operação Calicute. Está recolhido no Bangu 8.
Sua mulher, Adriana Ancelmo, também foi capturada por ordem da Justiça Federal e ocupa uma cela na ala feminina do Bangu.
A acusação da Procuradoria da República aponta para um "esquema de cartelização de empreiteiras e pagamento de propina a agentes públicos em grandes obras de construção civil realizadas pelo denunciado Sérgio Cabral enquanto chefe de Governo no Estado do Rio de Janeiro (2007 a 2014), algumas delas custeadas com recursos federais".
A denúncia contra Cabral abrange somente as supostas propinas recebidas pela Andrade Gutierrez. Delatores da empreiteira e também da Carioca Engenharia apontaram "mesada" de até R$ 500 mil.
"Durante o seu mandato o ex-governador solicitou cerca de R$ 25 milhões em propina a dirigentes da Andrade Gutierrez, montando a partir de então junto aos seus assessores mais próximos e outras pessoas da sua extrema confiança um multifacetado esquema de lavagem de dinheiro a fim de ocultar a origem dos ganhos espúrios", afirmam os procuradores Lauro Coelho Junior, José Augusto Simões Vagos, Eduardo Ribeiro Gomes El Hage, Leonardo Cardoso de Freitas, Renato Silva de Oliveira e Rodrigo Timóteo da Costa e Silva.
Segundo a Procuradoria, a advogada Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, "mais do que apenas se beneficiar com a vida de luxo proporcionada pelos ganhos advindos dos crimes contra a administração pública engendrados pelo seu marido, atuou ativamente na lavagem direta da propina". Para a Procuradoria, Adriana Ancelmo usou seu escritório de advocacia Ancelmo Advogados e a compra "de verdadeira fortuna em joias" para lavar dinheiro.
"Adriana Ancelmo ajudou Sérgio Cabral a lavar mais de R$ 6,5 milhões pela tipologia da aquisição de joias, não somente as recebendo como presentes (somente num aniversário de nascimento e outro de casamento foi presenteada pelo marido com joias que totalizaram R$ 2 milhões), mas atuando ativamente e inclusive por intermédio do seu escritório de advocacia Ancelmo Advogados", destaca a Procuradoria.
A Operação Calicute identificou que o casal Cabral passou a "adquirir regularmente", entre 2007 e 2016, "joias de altíssimo valor de mercado" nas joalherias Antonio Bernardo e H.Sten. "Adriana Ancelmo protagonizou um verdadeiro sistema contábil milionário e paralelo de aquisição de joias em dinheiro e sem a emissão de notas fiscais. Conquanto haja registro nas joalherias citadas de que Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo adquiriram 189 joias desde o ano 2000, apenas 40 peças foram apreendidas pela Polícia Federal quando do cumprimento das buscas e apreensões, as quais foram encontradas no cofre do quarto da residência do casal, pelo que se conclui que ambos ainda ocultam tais ativos", anotam os procuradores.
De acordo com a investigação, Adriana Ancelmo era cadastrada na joalheria Antonio Bernardo pelo codinome "Lourdinha". Na visão da Procuradoria, o apelido teria o "propósito de furtar-se à atuação dos órgãos de controle e de repressão penal".