Estádio do Maracanã: na avaliação de Nascimento, a impunidade é um fator fundamental para a proliferação da violência: é preciso cumprir as leis existentes (Arthur Boppré/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2013 às 15h40.
São Paulo – Os tumultos que algumas vezes ocorrem em estádios brasileiros são provocados por minorias, concluíram representantes de torcidas organizadas e do Ministério do Esporte durante os debates do 1º Seminário Sul-Sudeste de Torcidas Organizadas, que termina amanhã (7), na capital paulista. O encontro começou hoje.
O evento acontece anualmente, reunindo as torcidas de todo o país. Houve o desdobramento das regiões para que os participantes possam discutir diretamente os problemas específicos. O principal ponto abordado durante a manhã foi a segurança nos estádios.
O secretário Nacional do Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Toninho Nascimento, disse que o Cadastro Nacional das Torcidas Organizadas não é uma forma de listar as pessoas, mas de ter um quadro de como as torcidas estão estruturadas. “Isso não é um cadastro policial: não é função do Ministério fazer trabalho de polícia, como se quiséssemos cadastrar todos os torcedores do país para evitar a violência nos estádios”.
Para Nascimento, a violência nos estádios chegou ao seu limite. Hoje, a participação das torcidas organizadas é essencial. “Principalmente se elas forem incluídas nesse processo. Não adianta excluir e suspender uma [torcida] organizada. [Com isso], perdem-se as lideranças que poderão ajudar a combater esses atos dentro e fora dos estádios”.
Na avaliação de Nascimento, a impunidade é um fator fundamental para a proliferação da violência: é preciso cumprir as leis existentes. “Muitos dos mecanismos que podem ser criados já o foram e se não funcionam é outra questão. É preciso que seja aplicado o Estatuto do Torcedor e punidos os culpados”.
O promotor de Justiça do Juizado Especial Criminal (que atual na área do futebol), Paulo Castilho, disse que é preciso individualizar a conduta dos infratores para não generalizar o comportamento da torcida organizada. “Não é possível acreditar que em meio a uma instituição que reúna 100 mil pessoas não [haja] pessoas ruins. São frutos da sociedade, onde [há] gente de todo tipo. Temos que desmistificar que na torcida organizada só há marginais e criminosos. O Estado já está maduro para aprender que a torcida é um fenômeno de massa, que já está organizado”.
O presidente da Dragões da Real (torcida do São Paulo Futebol Clube), André Azevedo, disse que, apesar de haver diferenças e rivalidades entre as camisas, todas as torcidas têm os mesmos interesses e vêm fazendo um trabalho, com o apoio do Ministério do Esporte, para mostrar que não são o “lado ruim” do futebol. “Há vários erros e nós somos parte disso.
É muito mais fácil colocar a culpa na torcida que é o elo mais fraco dessa corrente”.
O presidente da Federação de Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (Fetorj), Flávio Martins, disse que, além da questão da violência, é preciso que o poder público melhore a infraestrutura dos estádios, não somente aqueles que recebem jogos da Série A.
“Quando se olha para a Série B do Brasileiro não [há] um estádio de Copa. Faltam banheiros, condições de ir e vir, iluminação, serviços. Todos falam dos deveres do torcedor, mas ninguém fala dos direitos”, observou.