“Sem Lula, chance de Alckmin aumenta”, diz Garman, da Eurasia
Condenado na segunda instância, candidatura de Lula à presidência pode ser barrada pela Lei da Ficha Limpa
Talita Abrantes
Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 06h35.
Última atualização em 25 de janeiro de 2018 às 10h27.
São Paulo — Um horizonte eleitoral sem a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( PT ) no páreo eleva as chances do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin ( PSDB ), chegar ao segundo turno das eleições presidenciais em outubro. É o que afirma Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria de análise política e econômica Eurasia, ao site EXAME.
A lógica de Garman é que, uma vez na disputa, Lula – que hoje detém cerca de 35% das intenções de voto — certamente estaria no segundo turno. Logo, todos os demais candidatos teriam que digladiar entre si por apenas uma vaga na etapa final das eleições.
A eventual impugnação da candidatura do petista reduziria essa competição. Sem ele, as duas vagas do segundo turno estariam em aberto. “A saída do Lula aumenta a probabilidade de vitória de um candidato de centro com condições de entregar uma reforma fiscal”, afirma. No momento, o candidato tucano é o nome mais forte para esse posto – mesmo pontuando no máximo 7% nas pesquisas de intenção de voto.
Nesta quarta-feira (24), o ex-presidente foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Pela Lei da Ficha Limpa, ele já estaria barrado para concorrer ao pleito. Segundo a Eurasia, com a decisão, as chances de Lula participar das eleições de 2018 diminuíram para 30% já que ainda cabe recurso em instâncias superiores.
A expectativa é que o PT lute ao máximo para garantir o nome dele nas urnas em outubro – ou no mínimo, fazer de tudo para potencializar seu espólio político.
Na manhã desta quinta-feira, a Executiva Nacional do PT se reúne em São Paulo para reafirmar a candidatura do ex-presidente.
“Se pensam que história termina com a decisão de hoje [24], estão muito enganados, porque não nos rendemos diante da injustiça”, afirmou a senadora Gleisi Hoffman, presidente nacional do partido, em nota.
Além de todos os recursos que ainda cabem sobre o caso do triplex, o PT ainda poderia registrar a candidatura de Lula entre 20 de julho e 15 de agosto. O processo de impugnação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só seria aberto depois que a candidatura fosse questionada na Justiça Eleitoral. Enquanto o processo é julgado, Lula poderia fazer campanha. Se sua candidatura for barrada pelo TSE, o PT teria até o dia 17 de setembro para apresentar um novo candidato.
“A estratégia mais racional para o PT seria mantê-lo o máximo possível na disputa, encaminhar essa narrativa de vítima de uma elite econômica e política para poder fazer essa troca de candidatos com o auge de capital político e de popularidade do Lula”, diz Garman.
Isso não significa, contudo, que o eventual substituto herdará todo potencial dessa narrativa. No máximo, segundo Garman, ele pontuaria 15% dos votos no primeiro turno. Depois do novo candidato do PT, Ciro Gomes, que é pré-candidato do PDT, é quem mais se beneficiaria pela transferência do espólio lulista — o que explica seu apoio quase condescendente à narrativa petista.